Opinião
A Síria, a Rússia e a ONU invisível
O que ocorreu neste sábado (14) em uma sessão extraordinária do Conselho de Segurança da ONU, convocada pela Rússia, parece demonstrar a crise desse organismo internacional, quando se tornou impossível condenar uma clara agressão contra um Estado soberano.
Em vez de discutir como seriam condenados três países por agredir outro sem nenhum mandato das Nações Unidas, o debate se voltou para a defesa de um estranho elemento do direito internacional: “a intolerância ao uso das armas químicas”.
Tudo o que se relaciona com aspectos do direito internacional, como a integridade territorial, a soberania dos Estados, a proibição à ameaça ou ao emprego da força, a não ingerência nos assuntos internos, tudo isso ficou esquecido.
Outro novo termo, defendido pelo presidente estadunidense, Donald Trump – a desinformação russa -, ou seja, quando se refere à descoberta de fatores incômodos para o Ocidente, também parece estar na moda.
Assim, a mentira grosseira já demonstrada do ataque químico na cidade síria de Duma, é tomada como a absoluta verdade, e a revelação dos detalhes da montagem de uma provocação é manejada como campanha de desinformação.
Talvez por isso, Washington se dedicou a calar a boca por diferentes vias de meios alternativos de comunicação em seu território, como Russia Today e Sputnik, pois estes também se dedicavam à “desinformação”, ou seja, às verdades incômodas para a Casa Branca.
Os meios de comunicação ocidentais, cúmplices da agressão dos Estados Unidos, França e Reino Unido contra a Síria, prepararam o terreno com a ampliação da montagem para convencer seu público da necessidade de impedir o uso de armas químicas por Damasco.
Que estranho. Há quatro anos, inspetores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) confirmaram que o arsenal sírio dessas armas estava eliminado, em um processo ao qual Damasco acedeu voluntariamente.
A OPAQ, e não o presidente russo Vladimir Putin, que foi o negociador para alcançar o acordo sobre a eliminação das armas químicas na Síria, recebeu um prêmio Nobel da Paz por essa ação.
A Rússia, por seu turno, antecipou a destruição de seu arsenal químico antes do prazo previsto pela OPAQ e, em 2017, depois de desembolsar milhões de dólares, atestou junto aos inspetores desse organismo a destruição de suas armas químicas.
Contudo, os Estados Unidos e o Reino Unido, entre outros países, adiam com diferentes pretextos a eliminação de seu extenso estoque de substâncias tóxicas de todo tipo.
Mas isto não impede a Washington e a Londres, de ameaçar e atacar, como fizeram no caso da Síria, um Estado soberano, sem sequer provar que este possui armas químicas. Dizem que se trata da linha de demarcação para realizar suas ações.
Como afirmaram neste sábado (14) representantes da Síria e da Rússia, com a falta de uma condenação à agressão contra Damasco, os grupos terroristas sabem como podem conseguir novos golpes do Ocidente: outro simulacro sobre armas químicas e o ataque está garantido.
Washington, Londres e Paris, com seus meios de comunicação, preparam a opinião pública para situar a Rússia como o único inimigo da justiça, pois esta impede com seu veto resoluções apresentadas por essas capitais para legitimar ações contra a Síria.
Fica claro que a Rússia será vista como o país que permite a Damasco “o uso de armas químicas contra seu povo”. Contudo, nem uma só vítima, nem sequer com sintomas respiratórios causados por uma substância tóxica, apareceu em Duma no dia 8 de abril passado.
A Chancelaria russa considera que está criada uma situação sem precedentes no direito internacional, quando um ato de agressão e de violação da Carta da ONU, baseado em uma mentira difundida pelos meios de comunicação, fica sem condenação.
O presidente do Comitê de Relações Internacionais do Conselho da Federação (Senado russo), Konstantin Kosachov, advertia neste sábado que se a comunidade internacional permite esse ato de agressão, amanhã isto poderá ocorrer a qualquer país.
Antonio Rondón García, para Prensa Latina; tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência