Rússia

A opinião dos comunistas russos sobre o governo de Vladimir Putin

28/04/2016
Putin e Zyuganov

Recentemente, o presidente do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), Guenadin Zyuganov, concedeu uma longa entrevista à agência noticiosa chinesa Xinhua, sobre o papel que o seu partido desempenha na realidade da Rússia e importantes questões de política externa.

É de particular interesse a resposta de Zyuganov à pergunta relativa às relações entre os comunistas russos e o presidente Putin.

O texto foi publicado no sítio Marx 21 [www.marx21.it] do Partido dos Comunistas Italianos, traduzido do russo por seu editor, Mauro Gemma.

Xinhua: O Partido Comunista da Federação Russa é um partido de oposição. Vocês criticam fortemente muitos aspectos da política interna da Rússia, embora apoiem a sua política externa. Considerando isto, quais são as suas relações com o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin?

Zyuganov: Antes de tudo, quero esclarecer um ponto. Nós não criticamos apenas aspectos da política socioeconômica liberal do governo de Dimitri Medvedev (primeiro-ministro). Nós a refutamos completamente. Consideramos que tal política conduziu o país a um beco sem saída e que sua continuação representa uma ameaça de pesadas consequências para a Rússia. Esta política está em contradição com a ativa política externa da Rússia. O nosso país é obrigado a defender os próprios interesses, a partir do momento em que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, está buscando isolar a Rússia e provoca tensões nas nossas fronteiras. A China o sabe muito bem, por exemplo, no que se refere à situação do Mar do Sul da China, onde sem cerimônia singram os navios da Sétima Frota dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a Sexta Frota, em violação flagrante da Convenção de Montreux, está buscando instalar-se no Mar Negro ao longo da própria costa russa. No que concerne à Europa Ocidental, são as colunas blindadas da Otan que estão a organizar regularmente as suas marchas demonstrativas.

Em geral o PCFR aprova os esforços do nosso serviço diplomático, que está buscando contrastar a política externa aventureira dos Estados Unidos. Mas ao mesmo tempo o nosso partido compreende que só é possível opor-se eficazmente à agressão do imperialismo quando há uma poderosa retaguarda. Como aquela que a URSS possuía no tempo da luta contra o fascismo alemão e o militarismo japonês.  Sem uma decidida mudança da política socioeconômica será difícil obter êxito na política externa.

Os comunistas russos estão convencidos de que a política liberal do atual governo não reflete as aspirações das grandes massas populares: os operários, camponeses, intelectuais, os pequenos e médios empreendedores, os jovens e aposentados. A política financeira e econômica liberal destrói o complexo econômico do país, estabelece o direito dos oligarcas decidirem o destino da Rússia, e faz com que ela dependa economicamente do Ocidente. Nós acreditamos que esta linha esteja em profunda contradição com a política externa que é aplicada pelo presidente Putin. Esta implica a defesa dos interesses nacionais e estatais da Rússia e a contraposição à hegemonia estadunidense na arena mundial.

Com o próprio Vladimir Putin eu mantenho constantes relações construtivas. Todavia, o PCFR considera constantemente que a atividade da máxima autoridade estatal na Rússia está repleta de contradições. A política socioeconômica aplicada não satisfaz absolutamente. Move-se no mesmo rumo da política aplicada por Ieltsin e Gaidar nos anos 1990. E é totalmente inaceitável por nós a continuação da orgia antissoviética.

Em outras palavras, a cúpula da Rússia não se movimenta de maneira uniforme. É composta por forças que seguem diversas diretrizes. No contexto desse complexo equilíbrio, o PCFR aspira a realizar   um contrapeso representado pela tendência patriótica. É o que proporei nos meus encontros pessoais com Putin e com membros do governo.

Marx 21; traduzido do italiano por José Reinaldo Carvalho para Resistência

http://www.marx21.it/

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