Opinião
A misteriosa “síndrome de Havana”
Por Caguairán Cubano para Resistência
Os meios de comunicação voltaram a abordar o tema da mal denominada e esotérica “Síndrome de Havana”. Essa síndrome, divulgada em 2017 como um fenômeno gerado deliberadamente em Cuba, um dos países mais seguros do continente e do mundo, por meio de “ataques sônicos ou acústicos”, supostamente teria afetado alguns funcionários diplomáticos norte-americanos, credenciados na lendária capital de Havana, que começaram a apresentar sintomas estranhos.
Agora se aduz a “Síndrome de Havana” que está se espalhando pela China e pela Rússia, assim como o contagioso e popular vírus Sars CoV2 que, infelizmente, custou tantas vidas humanas em quase todos os países do planeta. Os sintomas apresentados por algumas autoridades diplomáticas norte-americanas em Cuba, até o momento, não tiveram explicação científica ou lógica, porém, “reaparecem” nesta época nesses dois países, também misteriosamente.
No momento do surgimento dessa “síndrome improvável”, o Governo da Ilha do Caribe ofereceu a seus homólogos norte-americanos todas as possibilidades de realizar investigações conjuntas, que não foram realizadas por falta de vontade e transparência da atual administração. Agora, aproveitando o cenário político e econômico que enfrenta o mundo atingido por uma pandemia, tratam de retomar o tema e colocá-lo sobre a mesa acusando essas duas potências de tais supostos ataques sônicos que, surpreendentemente, têm afetado apenas seus diplomatas.
Em meio ao desespero para vencer uma disputa eleitoral, o desgastado império republicano do “Cesar” Donald Trump tenta culpar o governo da China pela disseminação daquele vírus pandêmico que atingiu todos os continentes, e agora também tenta culpá-los por espalhar a “Síndrome de Havana”, denúncias que chegam também ao governo russo. Provavelmente, as ameaças ao desenvolvimento econômico e político de ambas as potências, e a possibilidade de sua liderança planetária ser reconhecida na era pós-pandêmica, constituem pedras no sapato do decadente império do Tio Sam e por isso pretendem inventar um novo episódio de Star Wars.
A novel e “nociva” Síndrome de Havana, quase quatro anos após sua descoberta, não teve uma explicação lógica ou científica. Uma equipe de especialistas cubanos conduziu uma investigação minuciosa e determinou que não havia evidências de ações contra as autoridades norte-americanas. Como demonstração de boa vontade e interesse em saber a verdade, pela primeira vez o governo da ilha permitiu que membros do Federal Bureau of Investigation (FBI) dos EUA entrassem na ilha para realizar investigações, porém a administração atual daquele país não houve reciprocidade no decurso das investigações. Poderiam estar escondendo algo? Muitos de nós nos fazemos essa pergunta ao escrever ou falar sobre um fato tão incompreensível.
No caso de Cuba, a “Síndrome de Havana” foi o início da aplicação de uma das políticas mais brutais e desmedidas de um governo norte-americano em relação à ilha nos 61 anos após o triunfo da Revolução Cubana. Pode-se dizer que não tem precedentes. Com esse argumento incomum, o governo Trump praticamente retirou todo o seu pessoal diplomático da recém-inaugurada Embaixada dos Estados Unidos em Havana; por outro lado, não perdeu a oportunidade de expulsar sem justa causa um número considerável de diplomatas da embaixada cubana em Washington.
Quem foi o mais afetado por essas políticas trumpistas arbitrárias? Sem dúvida, os cidadãos e parentes de ambas as nações. Cidadãos norte-americanos foram impedidos de visitar a ilha, de realizar intercâmbios acadêmicos, científicos e culturais e até de receber tratamentos de saúde excelentes e especializados em alguns casos. Da mesma forma, o compromisso de entregar 20.000 vistos por ano do governo dos Estados Unidos aos cubanos que desejam viajar aos Estados Unidos interrompeu o processo de reunificação de centenas de famílias cubanas. Muitas crianças foram separadas dos pais ou simplesmente não puderam visitá-los na véspera do Ano Novo ou no Dia das Mães para acariciá-los ou saborear o delicioso tempero de uma refeição materna cubana, durante esta nova gestão. Em quem isso dói?
Certamente não foi Donald Trump, nem os políticos republicanos anticubanos, Narco Rubio ou Mario Diaz Balart, os arquitetos desta política injustificada e cruel contra Cuba. Para quem pensa que é Marco e não Narco, convido-os a conhecer o passado deste senador de origem cubano-americana, ligado ao narcotráfico.
Voltando aos fatos fantasiosos de uma síndrome que nem mesmo a ciência pode elucidar, como é possível que mais de 230 mil cidadãos americanos tenham perdido a vida por causa da Covid-19 e que o presidente dos Estados Unidos em apenas 4 ou 5 dias tenha conseguido se curar da doença? Algum dos mais de 230.000 mortos teve a mesma oportunidade? Mas indo direto ao assunto de interesse deste artigo, se o Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, tem um nível científico tão elevado e foi capaz de encurtar a cura do presidente americano de forma eficaz, como é possível que não tenha descoberto, em quase 3 anos, nenhuma evidência ou explicação para a “Síndrome de Havana” durante os estudos realizados em alguns dos diplomatas afetados? Como é possível que a ciência ou a medicina do maior poder do mundo tenha sido capaz de curar doenças mortais como o Ebola e não tenha sido capaz de dar pelo menos uma explicação convincente sobre essa Síndrome?
Para elaborar uma das muitas opiniões que questionam essas acusações de prejudicar Cuba, aqui estão algumas considerações sobre a essência dessa enigmática síndrome exposta pelo amigo Marco Velázquez Cristo em seu artigo recentemente publicado: “As mentiras do representante do império e seu esquecimento do bloqueio”
1) É sabido que não existem evidências científicas, ou de qualquer outra natureza, que sustentem a possível ocorrência dos supostos “ataques acústicos”. Sobre o assunto, falaram destacados especialistas cubanos e estrangeiros, que descartaram com sólidos argumentos, as várias hipóteses com que os Estados Unidos têm tentado sustentar sua suposta ocorrência; alguns são tão implausíveis que parecem tirados de um filme de ficção científica.
2) A intenção principal desta manobra do governo Trump é criar condições de instabilidade interna na ilha, gerando descontentamento e frustração, principalmente entre os cubanos que desejam emigrar permanentemente, criando obstáculos para que alcancem seus objetivos. Desta forma, responsabilizam o governo cubano pela situação que surgiu, justificam o descumprimento dos acordos migratórios e manifestam-se interessados em resolvê-lo.
3) Este arranjo também tem outro objetivo, que é afetar uma das principais fontes de receita em divisas do país, que é o turismo, criando uma imagem de país inseguro, razão pela qual arrastaram o Canadá, a principal fonte de turistas a Cuba, para segui-los nessa infâmia. Esperam criar prejuízos econômicos que aumentem as dificuldades e os sacrifícios do povo, o que, a seu ver, acrescentaria outro fator de tensão interna.
Enfim, sobre a “Síndrome de Havana”, tirem suas próprias conclusões. Não será difícil.