Brasil
A mensagem inconsistente de Temer, político sem votos, tônus vital e liderança
O golpista e usurpador Michel Temer dirigiu-se à nação na tarde desta quinta-feira, 12 de maio, dia da ignomínia nacional. Sem votos, mostrou também que não tem mensagem.
Por José Reinaldo Carvalho*
Certa está a presidenta Dilma por ter dito no seu magnífico pronunciamento, horas antes, que o país está diante de uma injustiça e uma traição.
As palavras claudicantes, entre ademanes e engasgos do ocupante interino do Planalto, foram reveladoras.
Com linguagem cifrada, para esconder suas reais intenções, o usurpador disse que adotará política macroeconômica para tranquilizar o mercado, anunciou privatizações, arrocho fiscal, reforma antidemocrática do Estado, reforma trabalhista, reforma previdenciária, e, embora anunciando que manterá os programas sociais, deixou entrevisto que promoverá alterações regressivas na gestão dessas políticas.
Usando os símbolos que mais correspondem às tradições do predomínio das classes no poder, proclamou “ordem e progresso” como marcas de seu governo. Nada a ver com reverência cívica ao pavilhão nacional. Mas um sinal de que fará valer o que compreende como ordem, no inevitavel enfrentamento que fará aos movimentos sociais. Preparemo-nos para a repressão, que inevitavelmente redundará em confrontos.
O chefe de governo interino apresentou o seu novo ministério. Nenhuma mulher, nenhum negro. Uma expressão da misoginia e do racismo próprios dos reacionários contumazes que dominam este país há mais de cinco séculos. Quase a terça parte dos integrantes do novo gabinete são inquinados em processos de corrupção. Os dois terços restantes são notórios fisiológicos e aproveitadores. Todos são representantes do grande capital monopolista-financeiro, das oligarquias mais reacionárias, do imperialismo estadunidense e europeu. Dentre os integrantes da equipe ministerial há trânsfugas, que até ontem juravam lealdade à presidenta Dilma e são o exemplo mais rematado do caráter de partidos como PMDB, PSD, PP e PSB. Há ainda caciques renomados do PSDB em posições de mando em áreas estratégicas, o que prenuncia o rumo perigoso que a nação vai trilhar, de submissão aos planos neocolonialistas dos potentados internacionais.
Michel Temer fez um chamamento pela volta do país à normalidade e pela união nacional em torno do seu governo. Palavras que caem no vazio, como arar no mar. Ilegítimo, fruto de um golpe, engendrado com manhas, artimanhas, manobras nos recantos esconsos de hotéis e palácios brasilienses, em conluio com representantes do capital monopolista-financeiro, o novo governo não será reconhecido pelas forças progressistas e organizações dos movimentos democráticos e populares, trabalhistas, juvenis, femininos e todas as demais entidades sociais.
Oposição sistemática, dura, contundente, irreconciliável é o que o golpista e usurpador terá de enfrentar. A Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo serão os pontos de convergência da organização, mobilização e consciência democrática e progressista do país.
Mistificador, o político paulista explorou ao final da sua pálida mensagem a religiosidade de setores da população para justificar a aliança espúria que entabulou com igrejas pentecostais retrógradas.
A primeira mensagem, inconsitente, do ocupante interino do cargo de presidente revelou um homem sem tônus vital nem capacidade de liderança. Serviu apenas para desnudar um farsante, com quem não haverá espaço para diálogo.
A salvação nacional que anunciou aproxima-se mais de uma catástrofe, da desagregação e do caos.
Fora!
*Editor de Resistência (www.resistencia.cc), membro do Comitê Central, Comissão Política e Secretariado nacional do PCdoB