Opinião
A Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda é uma experiência inédita de cooperação internacional
Por José Reinaldo Carvalho (*) – A adesão do Brasil à Nova Rota da Seda, proposta pela China, representa uma oportunidade estratégica para o país no cenário internacional. A Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), com investimentos que ultrapassam US$ 1 trilhão nos últimos 10 anos, abrange áreas cruciais para o desenvolvimento, como infraestrutura, tecnologia, segurança e educação. Para o Brasil, integrar-se a esse amplo projeto global poderia trazer diversas vantagens significativas, especialmente para fortalecer a industrialização e a transferência de tecnologia, além de promover um crescimento econômico mais sustentável. Estas são as ideias centrais de uma entrevista que a ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do Brics), concedeu ao jornalista Mauro Ramos durante esta semana.
A experiência dos países do Sul Global com a adesão à Iniciativa chinesa do Novo Cinturão e Rota da Seda demonstra que esta oferece a oportunidade de modernizar sua infraestrutura. Com investimentos em rodovias, portos, aeroportos e infraestrutura digital, os países melhoram sua logística e a competitividade de suas exportações. Além disso, projetos de infraestrutura social, como o fornecimento de água potável e sistemas de esgoto, são de extrema importância para o desenvolvimento humano e para a promoção de uma sociedade mais justa.
Dado o tamanho e as necessidades do Brasil, essa parceria seria fundamental para acelerar projetos que hoje encontram obstáculos financeiros e técnicos, aponta a presidenta.
O Brasil tem diante de si o desafio de promover a nova industrialização, tarefa hercúlea que não será executada a contento sem uma parceria externa consistente. O crescimento da economia brasileira não pode basear-se indefinidamente na exportação de commodities agrícolas e matérias primas. O desenvolvimento nacional precisa percorrer o caminho do avanço tecnológico, da inovação e da industrialização. A Nova Rota da Seda oferece ao país esta oportunidade.
Outro aspecto que não pode ser ignorado é que a Iniciativa do Novo Cinturão e Nova Rota da Seda não impõe exclusividade em parcerias. Isso significa que o Brasil poderia continuar desenvolvendo suas relações comerciais e políticas com outras potências globais, ao mesmo tempo em que aproveitaria os benefícios oferecidos pela China.
Por fim, a Nova Rota da Seda busca promover a cooperação mútua, baseada na máxima do ganha-ganha, do desenvolvimento compartilhado a longo prazo.
Em resumo, a adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota seria uma estratégia vantajosa para o país. A modernização da infraestrutura, a promoção da industrialização e a oportunidade de avançar tecnologicamente são algumas das vantagens que essa parceria poderia trazer. O Brasil tem muito a ganhar ao se integrar a essa nova ordem global, especialmente se conseguir equilibrar suas relações internacionais e aproveitar ao máximo as oportunidades de transferência de conhecimento e desenvolvimento sustentável.
Para a tomada de decisão sobre a adesão à iniciativa chinesa, é de bom aviso tomar em consideração o ponto de vista do gigante socialista asiático, verbalizado pelo fundador da iniciativa, o presidente Xi Jinping, que é também o secretário-geral do Partido Comunista da China. “A Iniciativa, inspirada pela antiga Rota da Seda e focalizada no fortalecimento de conectividade, busca reforçar conectividade em política, infraestrutura, comércio, finanças e entre povos, injetar novas forças motrizes na economia global, abrir novos espaços para desenvolvimento global, e criar uma nova plataforma para cooperação econômica internacional, disse o líder chinês no 3º Fórum Cinturão e Rota para Cooperação Internacional, realizado em Pequim em outubro do ano passado.
Em 10 anos, a cooperação Cinturão e Rota se estendeu da Eurásia à África e América Latina. Mais de 150 países e mais de 30 organizações internacionais assinaram documentos de parceria nos marcos desta iniciativa.
Para além de ganhos imediatos, é necessário compreender o alcance estratégico da Iniciativa, porquanto se baseia em uma nova concepção de cooperação internacional, segundo o princípio de construir uma Comunidade de Futuro Compartilhado por toda a Humanidade. “A cooperação Cinturão e Rota é baseada no princípio de “planejar juntos, construir juntos, e nos beneficiar juntos”, e transcende diferenças entre civilizações, culturas, sistemas sociais e fases de desenvolvimento. Abriu um novo caminho de intercâmbio entre países, estabeleceu um novo quadro para cooperação internacional e representa a busca conjunta da humanidade pelo desenvolvimento para todos”, afirmou Xi. “Aprendemos que a humanidade é uma comunidade com futuro compartilhado. A China só está bem quando o mundo está bem. Quando a China está bem, o mundo pode ficar ainda melhor. Através da cooperação Cinturão e Rota, a China está abrindo cada vez mais sua porta ao mundo (…) A China se transformou em principal parceiro comercial de mais de 140 países e regiões, e passou a ser a principal fonte de investimento de cada vez mais países. Tanto o investimento da China no exterior quanto o investimento estrangeiro na China é demonstração de amizade, cooperação, confiança e esperança”, complementou.
Proposta em 2013, a Iniciativa do Cinturão e Rota é um importante plano para conectar a China com o vasto mundo. Em termos imediatos ajuda a enfrentar os desafios do comércio e investimento desacelerados, as posições unilaterais de guerras econômicas e políticas de sanções e bloqueios, os desequilíbrios nos níveis de desenvolvimento e outros fenômenos negativos. É uma grande oportunidade para o Sul Global.
A Iniciativa do Cinturão e Rota origina-se na China, mas pode pertencer a todo o mundo.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde coordena a área de Solidariedade e Paz. É presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz)