Conjuntura internacional

A 77ª Assembleia Geral da ONU é palco do confronto mundial

23/09/2022

Durante a realização da Assembleia Geral das Nações Unidas, as potências ocidentais fizeram discursos agressivos, atiçando a fogueira dos conflitos internacionais

Por José Reinaldo Carvalho (*)

A Organização das Nações Unidas, criada no imediato pós-guerra para favorecer a construção da paz mundial, por meio do multilateralismo e do diálogo, frequentemente não consegue cumprir sua missão devido à instrumentalização que sofre pelos Estados Unidos, país que, sendo uma superpotência, julga-se destinado a exercer hegemonia infinita como se fora o dono do mundo.
Por isso mesmo, nem sempre a Assembleia Geral, o mais visível evento em que os líderes mundiais ou seus representantes se pronunciam sobre os temas mais candentes da situação política internacional, se realiza em ambiente favorável ao diálogo e ao entendimento, mormente quando o mundo enfrenta graves crises.

A 77ª Assembleia Geral, cujos debates foram iniciados na última terça-feira (20), está sendo o palco de uma verdadeira confrontação mundial. De onde deveria sair uma proposta eficiente de paz, emitem-se os mais ruidosos sinais de guerra.

É o que se observa nos discursos do chefe da Casa Branca, Joe Biden, do ocupante do Palácio Eliseu, Emmanuel Macron, do chanceler tedesco, Olaf Scholz, e da nova inquilina de Downing Street, 10, Liz Truss. Todos seguiram a partitura de uma nota só e, do púlpito das Nações Unidas, fizeram pronunciamentos com um fio condutor único: a guerra das potências ocidentais contra a Rússia, escondendo-se sob pretexto de que o país das noites brancas ameaça o mundo com a hecatombe nuclear.

Biden foi mais além e não deixou de hostilizar a China e o Irã, alargando o espectro do seu confronto. À margem, por demagogia e para conquistar aliados, defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU e procurou colocar-se na vanguarda da luta para resolver a crise climática e promover os direitos humanos, adotando a mesma visão fragmentadora tão agradável ao “neoliberalismo progressista” do Partido Democrata e de setores da “esquerda cirandeira” latino-americana, em processo de proliferação no Brasil. Aqui estes setores são acariciados pela Open Society, o NED e multimilionários nacionais que financiam viagens para cursos de formação de lideranças políticas no exterior.

A Assembleia Geral deste ano contou com um patético discurso via teleconferência de Volodymyr Zelensky, fantoche das potências ocidentais, que fez um arrazoado delirante, jactando-se do direito de impor pré-condições para reatar as negociações com a Rússia e de exigir punição ao chefe do Kremlin. Como ocorre todos os dias, foi incensado pela mídia, já escolada nas artes de aplaudir os massacres perpetrados pelos Estados Unidos contra países soberanos.

É óbvio que em tal cenário não cabia à Rússia senão defender-se e explicar com informações criteriosas e argumentos fundamentados, as razões pelas quais desencadeou a operação militar especial a partir de 24 de fevereiro último.

Muitos analistas sugerem que o mundo está voltando à guerra fria, mas esquivam-se de comentar que do ponto de vista dos argumentos e ações dos Estados Unidos e seus aliados, os povos e nações independentes ainda se encontram sob os efeitos dos ataques – golpes, intervenções, guerras – próprios do período do imediato pós-guerra fria.

As potências imperialistas ocidentais, tendo à frente os Estados Unidos, que se apresentam como defensores da democracia, na verdade atacaram o princípio democrático da igualdade soberana dos Estados. Essas potências transformaram em norma o militarismo, a expansão da Otan para perto das fronteiras da Rússia, as agressões militares, as guerras preventivas e as provocações em todas as áreas do globo, pondo em risco o princípio da segurança coletiva.

No passivo de crimes dessas potências estão ações como o bombardeio perpetrado pela Otan contra a Iugoslávia, as guerras contra o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria, assim como as chamadas “revoluções coloridas”, entre estas o golpe na Ucrânia em 2014 e o massacre das populações russófonas nesse país, e a dita “primavera árabe”, assim como golpes na América Latina.

Voltando à 77ª Assembleia Geral da ONU, é gratificante constatar que em contraste com os citados pronunciamentos agressivos, foram feitas propostas edificantes, como a do México, de criar um comitê da ONU para favorecer a paz na Ucrânia, e de Cuba, Venezuela e Bolívia, entre outros, defendendo o mundo multipolar.

(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e secretário-geral do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

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