Opinião
O pensamento revolucionário coreano na luta contra o imperialismo na América Latina
Neste artigo irei abordar alguns aspectos do atual estágio da luta anti-imperialista na América Latina, especialmente no Brasil, à luz do kimilsungismo-kimjongismo, bem como tentar comprovar rapidamente a importância dos movimentos revolucionários em desenvolvimento em nosso continente, com uma compreensão correta como um guia do socialismo científico
Por Gabriel Martinez (*)
Nos últimos anos, os povos dos países latino-americanos travaram uma dura e decisiva batalha contra o imperialismo. Ao longo da história, esta luta manifestou-se de várias formas, seja através da luta armada, da luta de massas ou da luta eleitoral, tendo atingido um novo patamar de qualidade no início do novo milênio. O governo bolivariano de Hugo Chávez na Venezuela, iniciado em 1999, deu um novo impulso às lutas das massas populares em busca de sua independência em nosso continente, em um momento delicado da luta de classes em nível internacional, onde as forças revolucionárias ainda sentiam o peso da grande derrota sofrida com a dissolução da União Soviética e dos países socialistas do Leste Europeu.
A vitória eleitoral das forças democráticas e populares na Venezuela foi seguida de triunfos em países como Brasil, Bolívia, Equador, Nicarágua, Honduras, Paraguai etc., iniciando uma nova onda de mudanças no continente. Cuba também continuou a resistir com bravura às ofensivas do imperialismo dos Estados Unidos e manteve erguida a bandeira vermelha do socialismo. É importante notar que existem muitas diferenças entre todos esses governos, diferenças de ideologia, programas, níveis de radicalidade das transformações operadas em cada um deles, mas em geral podemos dizer que todos eles refletiram os anseios de mudança e conquista da independência dos povos latino-americanos.
Obviamente, todas essas mudanças na correlação de forças em nosso continente não agradaram ao imperialismo norte-americano e seus representantes locais. As forças reacionárias, especialmente a burguesia compradora pró-imperialista, desde o início começaram a conspirar para derrubar esses novos governos populares, obtendo algum sucesso nos casos de Honduras, Paraguai, Brasil, Bolívia e Equador. No caso do Brasil, para citar um exemplo, ficou evidente a estreita colaboração entre elementos do judiciário (instituição essencialmente reacionária e pró-imperialista) com as instituições norte-americanas. O imperialismo ianque interferiu descaradamente nos assuntos internos do Brasil, chegando a grampear o telefone presidencial de Dilma Rousseff.
No Brasil, em 2013, quando estouraram as manifestações contra o aumento das passagens de ônibus nas grandes cidades, as forças reacionárias não perderam tempo em se infiltrar e imediatamente tentaram redirecioná-las especificamente contra o governo do Partido dos Trabalhadores e a figura do presidente Dilma Rousseff. Logo, essas manifestações passaram a ter um caráter abertamente reacionário, em que o componente anticomunista foi especialmente pronunciado. Este movimento culminou na remoção de Dilma Rousseff e contribuiu para a ascensão ao poder de Bolsonaro e seu grupo fascista.
O fato de grupos reacionários terem se infiltrado e mudado o caráter dos movimentos com relativa facilidade demonstra claramente as graves fragilidades organizacionais e ideológicas das organizações políticas de esquerda brasileira, fenômeno que deve ser superado se quisermos dar um salto em frente no andamento das lutas. Um dos principais problemas que devem ser enfrentados é a falta de clareza ideológica sobre o que é o socialismo e quais são os caminhos concretos que devem ser seguidos para iniciar a transição para o socialismo em nosso país. Em sua obra O Socialismo é Ciência, o camarada Kim Jong Il afirmou que “Para alcançar o socialismo é essencial preparar forças revolucionárias capazes de assumir e cumprir esta tarefa, e de adotar métodos corretos de luta. Caso contrário, a demanda de independência das massas populares que aspiram ao socialismo não será nada mais do que um mero desejo. ”
A preparação das forças revolucionárias requer a compreensão de uma ideologia correta e a construção de uma organização capaz de materializar o programa político das massas populares na luta pela independência. Esta força política não pode ser outra senão o partido da classe operária. O partido da classe operária, sendo o estado-maior da revolução, munido da correta ideologia, poderá guiar as massas em todas as etapas da luta, seja nas situações em que sejam necessárias retiradas estratégicas, seja nos momentos da ofensiva da revolução.
Como afirmou Kim Jong Il em Problemas Essenciais da Construção do Partido Revolucionário: “Pode-se dizer que a história da luta pelo socialismo é a história da construção do partido da classe trabalhadora e de suas atividades. “Toda esta batalha sangrenta que a classe trabalhadora e outras massas populares têm travado mostra que a chave da vitória e as causas do fracasso estão na construção do partido e de suas atividades.”
Por que razões o movimento operário e revolucionário de nosso continente, mesmo depois de quase um século desde o início da luta consciente do proletariado (no caso do Brasil, o primeiro partido revolucionário da classe operária foi fundado em março de 1922) não conseguiu obter uma vitória decisiva contra o inimigo de classe e as forças do imperialismo? Além da resistência ativa das classes dirigentes reacionárias, também em nosso campo circularam – e continuam circulando – várias idéias errôneas que impedem o avanço de nossas revoluções. Os desvios de direita e de “esquerda” marcaram negativamente o desenvolvimento da luta revolucionária, por isso devemos ter uma compreensão correta dos elementos que permitem que esses problemas surjam e se desenvolvam.
Também em O Socialismo é Ciência, o camarada Kim Jong Il destaca que atualmente “os renegados do socialismo, enganados pelo capitalismo e que esperam a “ajuda “e a”cooperação” dos imperialistas, estão conduzindo uma confusa campanha para voltar ao mesmo. A história mostra que esperar a “boa vontade” dos exploradores ou a “colaboração entre as classes” é levar a revolução ao fracasso”. Nesta passagem, o camarada Kim Jong Il chama a atenção para a necessidade de travar uma luta ideológica determinada contra todo tipo de ideologia que visa semear ilusões em relação a qual é, de fato, o objetivo principal da luta revolucionária: o imperialismo e o sistema capitalista. Em todos os países em que o movimento popular sofreu recentemente derrotas severas, se investigarmos os motivos de tais derrotas, podemos identificar que neles todas as suas lideranças, em maior ou menor grau, se enganaram, seja com o imperialismo, seja com instituições estatais reacionárias em seus respectivos países. Mais uma vez se verifica a tese de que as classes reacionárias não se retirarão do poder por vontade própria e que, diante das menores mudanças de caráter progressista, se organizarão para impor derrotas e esmagar os movimentos democráticos, populares e revolucionários que podem se desenvolver em nosso continente.
Mais recentemente, em alguns países latino-americanos que sofreram golpes, as forças democráticas e anti-imperialistas estão retomando certas posições que haviam perdido, sendo a Bolívia um dos casos mais exemplares. Desde o golpe contra o presidente Evo Morales, o povo boliviano opôs uma resistência determinada aos conspiradores golpistas apoiados pelo imperialismo, o que resultou na importante vitória eleitoral que conquistaram nas últimas eleições presidenciais. A Venezuela, permanentemente assediada pelo imperialismo, continua a mostrar uma capacidade de resistência às pressões do imperialismo que deve ser saudada por todos nós. No Equador, as forças progressistas também têm grandes possibilidades de recuperar certas posições perdidas no último período. No Brasil, embora continuemos vivendo em uma situação extremamente desfavorável, agravada pela pandemia do coronavírus, o povo começa a mostrar grande descontentamento com a administração fascista do grupo de Bolsonaro, e as forças democráticas e progressistas mais uma vez alcançam vitórias parciais (embora importantes), como a recente anulação das sentenças de Lula e a suspeita do juiz pró-imperialista que dirigiu a perseguição ao ex-presidente.
Todos estes acontecimentos, embora muito importantes, não podem servir de desculpa para baixarmos a guarda contra as ofensivas imperialistas. Seria uma ilusão gigantesca acreditar que os imperialistas e as forças compradoras e pró-imperialistas do nosso continente realizaram golpes para que as forças de esquerda, democráticas e progressistas recuperem tão facilmente as suas posições. Portanto, precisamos continuar monitorando a situação com cautela.
A luta pela conquista da independência é uma luta que se desenvolve de acordo com a realidade concreta de cada país, mas ao mesmo tempo tem caráter internacional. A luta revolucionária do povo brasileiro está intimamente ligada à luta revolucionária das massas populares da Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e todos os países da América Latina.
Da mesma forma, a luta revolucionária do povo latino-americano está profundamente ligada à luta revolucionária dos povos da África e da Ásia. Os países do Terceiro Mundo são uma força importante na luta contra o imperialismo, por isso todas as nossas lutas estão intimamente relacionadas. A República Popular Democrática da Coreia, país que continua a trilhar o caminho vitorioso do socialismo, representa uma força extremamente importante, que apoia e inspira as lutas dos povos pela sua independência nacional e social.
Saudamos todas as vitórias conquistadas pelo socialismo coreano como se fossem nossas, porque temos plena consciência de que o fortalecimento da RPDC, como um país socialista poderoso e próspero, reforça as posições do socialismo globalmente, em um momento em que ainda estamos lutando para sair da situação de defensiva estratégica imposta pela dissolução da União Soviética e o desaparecimento dos países socialistas. Saudamos o povo coreano, o Partido do Trabalho da Coreia e o camarada Kim Jong Un pelas importantes vitórias e resultados alcançados durante a luta contra a pandemia do coronavírus, reconhecendo que foi precisamente a RPDC que alcançou os melhores resultados na luta contra o coronavírus , demonstrando a superioridade do sistema socialista.
(*) Presidente do Centro de Estudos da Ideia Juche no Brasil