Militarismo
Manutenção da guerra: gastos militares somam 2,3% do PIB mundial
O mais recente relatório do Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri, na sigla em inglês) confirma que a tendência de aumento dos gastos militares mundiais voltou a se verificar em 2015.
Por Moara Crivelente (*)
Aproximadamente 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o planeta foi investido na guerra, ou seja quase US$ 1,7 trilhões (quase R$ 6 trilhões, na conversão atual). Os campeões dos gastos militares continuam sendo os Estados Unidos, com US$ 595 bilhões (quase R$ 2,1 trilhões), mais do que o dobro do segundo maior gasto, o chinês, de US$ 215 bilhões (R$ 752 bilhões).
O relatório do Sipri aponta que a tendência relativa de queda dos gastos dos EUA e da Europa Central e Ocidental verificada desde 2009 pode estar se revertendo, com os questionáveis sinais de recuperação da crise, que foi respondida com cortes muito mais profundos nos direitos sociais dos seus cidadãos. Recentemente, o Congresso estadunidense aprovou uma medida que protegia os gastos militares dos cortes de orçamento, garantindo que estes gastos continuem iguais em 2016.
Na Europa Central, principalmente nos países que fazem fronteira com a Rússia e a Ucrânia (Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia, principalmente), os gastos militares subiram 13%. O Reino Unido, a França e a Alemanha, de acordo com o Sipri, devem ainda aumentar seus gastos nos próximos anos, supostamente para fazer frente à Rússia e ao auto-intitulado “Estado Islâmico”. Ainda em 2006, os países membros da maior máquina imperialista da história, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comprometeram-se a destinar 2% dos seus PIBs ao setor militar, embora alguns dediquem ainda mais.
Os autores do relatório também avaliaram, como no passado, a conexão entre a exploração de petróleo e os gastos militares. Em 2014, segundo os pesquisadores, com a queda dos preços do petróleo, alguns dos países mais ligados a este recurso reduziram relativamente seu investimento no setor militar. Entretanto, um país dependente deste recurso, a Arábia Saudita, gastou US$ 5,3 bilhões (quase R$ 19 bilhões) a mais, para a sua guerra contra o Iêmen.
Manutenção da guerra
O maior aumento de gasto militar registrado em todo o mundo pelo Sipri foi o do Iraque: 536% entre 2006 e 2015. A invasão do país pelos Estados Unidos em 2003 foi supostamente encerrada numa propaganda pelo governo de Barack Obama em 2011, que anunciou ter retirado do Iraque mais de 100 mil soldados.
Mesmo assim, em 2015 Obama ainda definia o país como uma “emergência” para os EUA, que mantiveram ali sua ingerência direta, tropas e domínio sobre o cenário político e sobre o povo, também ameaçado pelos grupos terroristas que prosperaram e se disseminaram sobre a região, inclusive a vizinha Síria.
“Obstáculos para a reconstrução ordeira do Iraque, a restauração e manutenção da paz e da segurança no país e o desenvolvimento de instituições políticas, administrativas e econômicas no Iraque continuam a colocar uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos”, explicou Obama ao Congresso estadunidense em maio de 2015, para justificar a continuidade da situação de “emergência nacional” relativa à “estabilização do Iraque”.
Na Europa, os membros da Otan promovem um ambiente de confrontação. Além de posicionarem armas nucleares estadunidenses na Turquia, na Holanda, na Alemanha e Bélgica, através do programa de Partilha Nuclear da Otan, os EUA têm interferido ainda mais na vizinhança russa desde o golpe fascista na Ucrânia por eles respaldados.
No fim de abril, os Estados Unidos enviaram dois caças F-22 de combate para uma base aérea da Romênia no Mar Negro, de tecnologia tão avançada que sequer está no mercado – os caças são de uso exclusivo estadunidense. Mas este é apenas um exemplo da atuação belicosa da Otan, que avança em direção à Rússia, mas que responsabiliza o país exclusivamente pelo aumento das tensões. O mesmo acontece com a presença militar estadunidense no Mar do Sul da China, onde as disputas territoriais entre vizinhos são inflamadas pela intervenção dos EUA.
Por isso, movimentos de luta pela paz de todo o mundo preparam manifestações e mobilizam-se numa campanha global pela dissolução da Otan e contra a guerra, em torno da próxima cúpula da aliança imperialista, em Varsóvia, em julho. As organizações do Conselho Mundial da Paz articulam ações conjuntas ou nacionais que promovam o direito dos povos a decidir pela dissolução ou pelo desengajamento dos seus países desta máquina de guerra, enquanto lutam por reconquistar direitos sociais e trabalhistas usurpados sob o pretexto das medidas fiscais contra a crise internacional e manifestam sua solidariedade aos povos mais afetados pela guerra imperialista.
(*)Moara Crivelente é doutoranda em Política Internacional e Resolução de Conflitos, assessora a Presidência do Conselho Mundial da Paz e membro do Cebrapaz.