Otan

Jorge Cadima: Provocações da Otan

17/06/2016

Têm estado a decorrer as maiores manobras militares da Otan na Europa Oriental, envolvendo 31 mil soldados de 24 países. Basta olhar para o mapa para perceber a natureza provocatória das manobras Anaconda: envolvem uma operação em tenaz, cercando o enclave russo de Kaliningrado (nas costas do Mar Báltico). O território russo fica assim dividido por interpostas tropas dos EUA/Otan. Para atiçar ainda mais a provocação, “blindados alemães irão atravessar [a Polônia] de Oeste para Leste, pela primeira vez” desde a invasão nazista da URSS (22 de Junho de 1941), nas vésperas do seu 75.º aniversário (Guardian, 6 de junho). Na Otan dá-se importância às efemérides.

A provocação da Otan antecede a sua cimeira de 8 e 9 de Julho, em Varsóvia. Os 50 anos desta organização, de que Salazar foi co-fundador em 4 de Abril de 1949, foram assinalados, em simultâneo, pela cimeira onde se alargaram a missão e as fileiras da Otan (com a incorporação de países ex-socialistas: Polônia, República Checa e Hungria); e pelo desencadear da guerra contra a Iugoslávia – que se recusara a aderir à Otan. Pela primeira vez após o fim da Segunda Guerra Mundial, assistiu-se a uma guerra de agressão aberta em território europeu. Era então presidente dos EUA Clinton – o marido. Durante essa guerra, os EUA bombardearam a embaixada da China em Belgrado. Estavam a ser ditadas as novas regras da política internacional: quem não se submete à superpotência imperialista, irá pagá-las. De então para cá, o número de países membros da Otan duplicou. As alegadas razões para a criação da Otan há muito que deixaram de existir. Mas a Otan nunca foi aquilo que alegou. Longe de ser uma organização defensiva, foi sempre um instrumento de dominação imperialista que, nas próprias palavras do seu primeiro secretário-geral, o inglês Lorde Ismay, visava “manter os russos fora, os americanos dentro, e os alemães em baixo” (New York Times, 16/9/2013). Mais do que isso, foi um instrumento de dominação sobre países (como França, Itália, Grécia) onde poderosos movimentos de resistência antifascista haviam transformado os partidos comunistas em grandes forças políticas. Um instrumento de dominação que recorreu ao terrorismo. As investigações de juízes italianos como Felice Casson e Guido Salvini provaram as íntimas ligações entre redes bombistas fascistas, serviços secretos e Otan. Uma comissão parlamentar de inquérito italiana concluiu que “a bomba que matou 85 pessoas na estação ferroviária de Bolonha, em 1980, era proveniente dum arsenal usado pela Gladio, o ramo italiano da rede Otan de resistência ao comunismo” (Guardian, 16/1/1991). E segundo o juíz Salvini, “foi a América, a Otan, que inspirou o massacre de Piazza Fontana”, a bomba num banco de Milão que em 1969 iniciou a “estratégia da tensão” que ensanguentou a Itália durante 15 anos (Liberazione, 15/2/2000).

Com o desaparecimento da União Soviética a Otan pôde finalmente assumir-se abertamente como organização bélica. E a Otan é hoje um instrumento maior do “partido da guerra” no seio das classes dirigentes deste capitalismo em profunda crise sistêmica. Mal avisado anda quem subestimar esta realidade. Segundo o jornal inglês Guardian (6 de junho) “As manobras [Anaconda] decorrem num momento sensível para os militares polacos, após a demissão ou reforma compulsiva dum quarto dos generais do país. […] Os soldados profissionais estão particularmente preocupados com a […] criação e o papel dum exército territorial de 17 brigadas, a ser parcialmente recrutado de entre os 35 mil membros dos clubes de armas e grupos paramilitares polacos, alguns dos quais se receia estarem ligados aos hooligans racistas do futebol naquele país. Duas destas brigadas de voluntários irão assistir o exército profissional polaco durante os exercícios Anaconda». Estão a ser criados novos instrumentos de subversão ao serviço do imperialismo.

É tempo de dizer basta a esta máquina de guerra, agressão e provocação.

Fonte: “Avante!”

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