Portugal

Jerónimo de Sousa sobre as eleições municipais em Portugal: Confiança, convicção, determinação!

02/10/2017

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português, concedeu uma entrevista coletiva, onde analisa o resultado das eleições municipais portuguesas (chamadas de autárquicas), realizadas neste domingo (1º). A Coligação Democrática Unitária (CDU), que reúne o PCP e o Partido Ecologista “Os Verdes”, obteve 9,46% dos votos, conquistando 171 mandatos e a maioria absoluta em 18 câmaras municipais. Leia abaixo a íntegra do pronunciamento do dirigente comunista ou veja o vídeo ao final da matéria.

Jerónimo Souza:

Afirmamos nesta campanha a inabalável confiança no nosso trabalho, intervenção e papel insubstituível que ocupamos.

Reafirmamos a convicção de que a luta que travamos em defesa dos interesses populares e dos direitos dos trabalhadores, na construção de um Portugal desenvolvido e soberano é tão exigente quanto necessária.

Garantimos que é com a nossa determinação, a nossa intervenção e luta, que o povo português pode contar para defender os seus direitos e construir uma vida melhor num Portugal com futuro.

A CDU confirma-se como a grande força de esquerda no poder local.

A confirmação e mesmo fortalecimento da CDU em importantes conselhos, designadamente Lisboa, a manutenção de uma presença em todo o território, com a confirmação no essencial da sua expressão eleitoral, com avanços em zonas de minoria, a confirmação do projeto distintivo da CDU de Trabalho, Honestidade e Competência, são fatores que alicerçam essa confiança para o futuro.

A todos, às centenas de milhares que confiaram o seu apoio e o seu voto à CDU, aqui afirmamos que esse voto será integralmente respeitado como sempre tem sido. À população dos municípios e das freguesias em que foi reafirmada a confiança na acção da CDU, assim como em todos os outros locais, onde eleitos da CDU marcam presença reafirmamos o que cada um conhece: que ali terão uma garantia segura de intervenção dedicada para dar resposta às suas aspirações.

Não podendo a leitura do resultado da CDU ser confinada ao do número de maiorias obtidas, a perda de posições e sobretudo de presidências é sobretudo uma perda para as populações, que não demorarão a perceber o quanto errada foi a sua opção. Uma perda na presença do trabalho, honestidade e competência que, embora reconhecida, não era devidamente valorizada por ser uma realidade permanente. Uma perda para os direitos e condições de trabalho das autarquias, para o serviço público, para defesa do ambiente, da cultura, para a participação democrática.

Nestes conselhos, como em todos os outros, é com a CDU que a população continuará a contar para fazer valer os seus interesses.

Os trabalhadores e o povo sabem que prosseguiremos a nossa acção todos os dias, dando voz às populações, contribuindo para dar solução aos problemas, denunciando o que prejudique os seus direitos e o interesse colectivo.

Sabem que não desertaremos da vida local durante quatro anos para regressar uns meses antes das próximas eleições quando os holofotes mediáticos passarem a justificar que se esteja presente.

E, como no passado se viu, daqui a quatro anos, estarão de novo a reconhecer que a CDU precisará estar de regresso para devolver às suas terras a gestão distintiva, o trabalho e a obra a que se habituaram.

Afirmamos durante a campanha eleitoral que o reforço da CDU era, em primeiro lugar e decisivamente, uma condição de progresso e desenvolvimento locais, uma garantia redobrada de trabalho, honestidade e competência.

Mas sublinhamos que mais CDU seria também um fator para fazer avançar mais decididamente a defesa, reposição e conquista de direitos.

Este resultado não reduz a determinação da CDU – em particular do PCP e do PEV – em prosseguir a sua intervenção para contribuir para novos passos que respondam aos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo. Não reduz a influência real do PCP e do PEV, o reconhecimento que milhares e milhares fazem do seu papel decisivo na nova fase da vida política, o papel que continuarão a assumir para com a dinamização da luta construir o caminho que garanta o desenvolvimento econômico e social do País.

Mas, é necessário não iludir que este resultado constitui um fator negativo para dar força a esse caminho.

Ninguém seriamente ignorará a contribuição decisiva do PCP em muito do que foi alcançado na reposição e conquista de direitos. Ninguém negará que reside no PCP e no PEV a possibilidade de assegurar que esse caminho prossiga e se amplie.

Ficam evidentes nestes resultados que mesmo as muitas dezenas de milhares que durante este período no dirigiram palavras reconhecidas pelo papel decisivo do PCP e do PEV na derrota do governo PSD/CDS não ganharam a consciência de que as possibilidades de ir mais longe e seguir em frente seriam sobretudo asseguradas com o reforço da CDU e não do PS.

As leituras e ilações políticas que delas podem ser extraídas não podem deixar de respeitar este enquadramento. É o que fazemos ao reafirmar o que dissemos ao longo das últimas semanas.

E que outros não julguem que nos deixaremos condicionar em função de resultados eleitorais e não se iludam que nos possamos determinar por outro objectivo que não seja o compromisso que temos com os interesses e direitos dos trabalhadores e do povo.

Amanhã cá estaremos, como sempre estivemos com a mesma confiança e determinação, assumindo como único compromisso aquele que ao longo da nossa história nos une aos trabalhadores e ao povo português.

No plano local dando concretização, desde o início do mandato, aos compromissos eleitorais assumidos garantindo uma intervenção que dê resposta aos problemas das populações e defenda os seus direitos contribuindo para uma gestão ao serviço da população e do desenvolvimento local.

E para, no País, com a nossa intervenção e a luta dos trabalhadores e do povo, dar resposta a questões de maior importância e levar mais longe a defesa, reposição e conquista de direitos.

– Uma intervenção para assegurar o aumento geral de salários e o aumento extraordinário do salário-mínimo nacional para 600 euros em janeiro de 2018;

– Para prosseguir a reposição dos direitos retirados aos trabalhadores da Administração Pública e do Setor Empresarial do Estado designadamente com o descongelamento da progressão nas carreiras e o aumento dos salários;

– Para fazer avançar o valor das pensões de reforma, garantindo para 2018 um aumento mínimo de 10 euros;

– Para dar novos passos nos apoios sociais designadamente com o fim do corte no subsídio de desemprego e o alargamento do abono de família nos seus montantes e universo de atribuição;

– Para garantir uma política fiscal mais justa, desagravando os impostos sobre os trabalhadores e tributando devidamente os elevados rendimentos e dividendos do grande capital;

– Para elevar a qualidade dos serviços públicos e reforçar o investimento, com a contratação dos profissionais necessários à educação e na saúde;

– Para fazer avançar o investimento público, garantir o direito ao transporte suprindo as gritantes insuficiências de material circulante e de trabalhadores, assegurando o alargamento do passe social intermodal;

– Para assegurar o direito à habitação, à cultura e à investigação;

– Para reduzir a tarifa energética, designadamente do preço de gás de botija.

Permitam-me que neste momento transmita uma saudação aos membros do PCP e do PEV, da Associação Intervenção Democrática, da JCP e da Ecolojovem, aos muitos milhares de independentes que em todo o País mobilizaram e esclareceram para o voto na CDU.

Uma saudação a todos que fizeram da campanha da CDU uma grande campanha de massas, de contato com as populações, de auscultação de problemas, de conhecimento e diálogo permanente.

Uma campanha que seriamente fez o que devia fazer: debater os problemas locais, apresentar e procurar a contribuição da população para as soluções necessárias, prestar contas do trabalho realizado.

A campanha que respeitou os objetivos destas eleições de uma força que tendo trabalho e conhecimento locais não se refugiou na espuma do dia e em assuntos laterais. Uma campanha de uma força que tendo enraizamento local e sabendo do que fala e propõe não andou a denegrir o poder local ou a espalhar mentiras para se pôr em bicos de pés. Uma campanha que encontrou na dedicação e disponibilidade redobrada dos seus militantes e ativistas condição para contrariar um quadro midiático marcado pelo preconceito, a deturpação e a ostensiva menorização da CDU.

Aos muitos e muitos milhares de homens, mulheres e jovens sem filiação partidária que se juntaram à CDU, que tomaram como seu este espaço de realização e transformação das condições de vida uma palavra de reiterada disponibilidade para prosseguirmos juntos esta intervenção e essa luta que contribuirão para construir um futuro melhor e dar corpo à política patriótica e de esquerda que o País precisa.

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