Opinião

Jeferson Miola: Intensificar a denúncia do golpe no mundo

22/04/2016

A imprensa séria do mundo, os segmentos jurídicos, políticos, intelectuais e acadêmicos; governos e organismos internacionais são unânimes na condenação do golpe de Estado que está em andamento no Brasil através de um processo fraudulento de impeachment.

Por Jeferson Miola para Resistência

Numa emissora de TV de Portugal, o analista Miguel Sousa Tavares, que acompanha a realidade brasileira há mais de 30 anos, disse que a sessão da Câmara dos Deputados “foi uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha fazendo a destituição de uma Presidente sem qualquer base jurídica nem constitucional, mas, sobretudo, com uma falta de dignidade que eu diria que é de arrepiar; uma bandalheira”. Ele diz, ainda: “nunca vi o Brasil descer tão baixo”.

A participação da presidenta Dilma na assinatura do protocolo sobre mudanças climáticas nas Nações Unidas, em Nova York, será uma importante oportunidade para esclarecer o mundo sobre o golpe.

Aquela “assembleia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha” mandou a Nova York os deputados José Carlos Aleluia [DEM] e Luiz Lauro Filho [PSB] para vigiarem os passos da Presidente Dilma na ONU. Esta ação é mais uma prova da obstrução do governo pela oposição. Além do desrespeito à pessoa da Presidente da República, é nova afronta à Constituição do país – a representação oficial do Estado brasileiro no exterior é atribuição presidencial.

A narrativa de que uma “assembleia geral de bandidos comandada por um bandido” promoveu um golpe de Estado, está agendando o noticiário internacional. No Brasil, o golpe liberou uma comovente consciência democrática e popular somente equiparável à memorável campanha das Diretas Já, de 1984.

Os golpistas estão indignados com esta repercussão. Eles detonaram a democracia e esperavam uma vida mansa e a impunidade histórica que jamais terão. Diante do desgaste de imagem e de questionamento da legitimidade, reagem de maneira ostensiva – a “supervisão” da Presidente na ONU é parte dessa reação.

Os atores golpistas tentam contrarrestar esta narrativa crítica do golpe através de um discurso monolítico de ordem e normalidade institucional. O senador tucano Aloysio Nunes, por ordem do conspirador-golpista Temer, já tinha desembarcado nos EUA no dia seguinte à “assembleia geral de bandidos” para fazer relações públicas do golpe no Departamento de Estado, no Congresso e junto a setores políticos e empresariais.

Os juízes de sempre do STF fazem coro uníssono de defesa do golpe nos microfones dos órgãos da imprensa golpista. O destaque de ontem foi o juiz Dias Tofolli, que parece aspirar suas convicções jurídicas [se é que as têm] diretamente da axila do Gilmar Mendes. Um parêntesis: Joaquim Barbosa já fez referência a supostos jagunços do Gilmar no Mato Grosso; porém desconhece-se a existência de algum deles na Suprema Corte.

A Globo e os demais órgãos da imprensa golpista naturalmente cumprem o seu papel na construção da narrativa legitimadora do golpe. Os meios alternativos de informação e a mobilização social nas redes sociais neutralizam a eficiência da comunicação golpista, e a Globo hoje já não consegue entorpecer as consciências e mentes como conseguiu em 1964.

Em artigo de 19 de março, dissemos que “o Brasil não está em situação de normalidade institucional, é mentira que as instituições estão fortes e funcionando; elas estão entorpecidas e acovardadas pela fúria fascista reverberada pela mídia hegemônica. No Brasil está em andamento um golpe contra a Constituição e contra o Estado Democrático de Direito. É fundamental amplificar a denúncia do golpe em escala nacional e no plano internacional”.

O governo, personalidades e as forças políticas do campo democrático e popular devem intensificar a denúncia do golpe no mundo. É imperioso se intensificar, nos próximos dias, o trabalho de divulgação e de esclarecimento didático do golpe perante organismos internacionais, governos, partidos políticos, artistas, intelectuais, movimentos sociais etc.

Dentro deste espírito, o ex-presidente Lula, Celso Amorim, Samuel Guimarães, Marco Aurélio Garcia, juristas, intelectuais, artistas e ativistas sociais brasileiros reconhecidos internacionalmente poderiam organizar visitas a vários países e, além disso, produzirem vídeos e dossiês sobre o golpe de Estado no Brasil para ampla difusão em vários idiomas.

O mundo está atento ao Brasil, é fundamental construir a narrativa verdadeira sobre esta etapa sombria para deslegitimar perante o mundo qualquer solução que derive deste atentado à Constituição desferido por “uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido”.

Jeferson Miola, integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

 

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