Luta pela paz

O permanente compromisso com a paz

15/02/2016

O lançamento da Página Resistência reveste-se de importante significado para a luta dos povos por seus direitos, soberania, justiça e a paz mundial. Não tenho dúvidas de que será mais uma tribuna de denúncia e de luta especialmente neste momento de intensificação da crise internacional e de novas  ameaças de intervenções e guerras, cujas principais vítimas são os povos.

Por Socorro Gomes*

Em todo o mundo, movimentos anti-imperialistas e antineoliberais engajam-se cada vez mais e com maior determinação, sobretudo contra um sistema de relações internacionais baseado na militarização, na exploração e na exclusão.

Este é um sistema que agoniza, que demonstra cada vez mais sinais da sua decadência. Movimentos como o Conselho Mundial da Paz e outros movimentos sociais e políticos unem-se na luta comum em defesa da paz, em solidariedade aos povos agredidos e por uma nova ordem mundial democrática, que assegure a autodeterminação das nações e povos.

O Conselho Mundial da Paz tem como objetivo central a conquista da paz mundial. É uma organização que luta de maneira determinada contra o imperialismo, a guerra e a opressão dos povos. Para alcançar seus objetivos, busca realizar ações convergentes, promover a unidade e intensificar a atividade junto aos povos, lado a lado com todas as pessoas amantes da paz e da liberdade e outros movimentos que lutam pela paz e pela emancipação dos povos e nações.

Desenvolvemos campanhas para fazer avançar a realização daquelas que consideramos nossas tarefas prioritárias: a abolição das armas nucleares; a dissolução da Otan; a eliminação das bases militares estrangeiras; o enfrentamento decisivo ao colonialismo; a oposição aos planos, ações belicistas e intervencionistas dos Estados Unidos e da União Europeia e seus aliados. É indeclinável e incondicional a nossa solidariedade com todos os povos e nações agredidos por essas potências, que põem em risco a segurança internacional para satisfazer seus apetites de dominação mundial e para saquear as riquezas dos povos.

Uma das nossas lutas prioritárias é pela abolição das bases militares estrangeiras nos territórios de países soberanos. Na região latino-americana e caribenha há 76 bases militares, sobretudo dos Estados Unidos, mas também da França, do Reino Unido e da Otan. Dentre estas, a famigerada base naval estadunidense em Guantánamo que abriga, desde 2001, um horrendo centro de torturas e detenção ilegal.

No mês de novembro do ano passado, realizou-se em Cuba o Seminário Internacional pela Paz e pela Abolição das Bases Militares Estrangeiras, que reuniu mais de 200 delegados. No encontro ficou patente a prioridade de denunciar a existência dessa base.

Muito importante também é a exigência de dissolução da Otan. Os movimentos pela paz a identificam como a máquina de guerra do imperialismo, que também sobrevive numa lógica anacrônica de ameaça e de militarização do planeta. A evolução constante dos seus conceitos estratégicos para incluir cada vez mais prerrogativas e expandir cada vez mais a sua área de atuação faz desta aliança belicosa uma ameaça para todo o mundo, para todos os povos, inclusive por contar, declaradamente, com o arsenal nuclear de seus membros como fator estratégico. Além disso, seus exercícios militares ofensivos e provocadores, como aqueles realizados recentemente em Portugal, Itália e Espanha, evidenciam a intensificação desta lógica de preparação para a guerra.

A decisão de 2006 da OTAN pela destinação de 2% do PIB de cada Estado membro para o setor militar já havia sido ultrajante; não bastasse isso, a insistência neste compromisso durante a crise internacional do capitalismo é também repugnante, enquanto milhões de trabalhadores são lançados ao desemprego, à insegurança social e até mesmo à pobreza. Apenas em 2014, de acordo com a própria OTAN, seus membros europeus gastaram US$ 250 bilhões no setor militar, mais de 3% dos PIBs somados, destinando ainda mais de 1% da sua força de trabalho ao mesmo setor.

Os gastos militares mundiais, de acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri), ultrapassaram US$ 1 trilhão também em 2014. Deste valor, o que se sobressaiu foi o dos Estados Unidos, a superpotência que ameaça os povos de todos os cantos do planeta e lidera a OTAN, com 34% dos gastos mundiais, quase três vezes o gasto da segunda maior despesa militar, a da China, 12%. Esta tendência é um retrocesso para toda a humanidade!

Acompanhamos, consternados, a situação do povo sírio, que entra no quinto ano de guerra entre a destruição incalculável e a perda de mais de 240 mil vidas, além da sujeição de milhões de pessoas à condição de deslocadas ou de refugiadas, enfrentando travessias clandestinas, frequentemente fatais, na tentativa de escapar à morte. O drama humano a que assistimos nessas travessias sujeita sírios, iraquianos, malineses, iemenitas, líbios, palestinos, somalis, entre outros, à sorte dos mares ou das caminhadas extensas para alcançar a Europa, onde têm sido recebidos por discussões tecnocráticas e crescentemente xenófobas. A responsabilidade pela condição dessas pessoas é de todos, e precisamos seguir lembrando este fato aos líderes das potências.

No atual momento é necessário fazer ecoar o apelo feito pela liderança palestina, pela criação em caráter emergencial de “um regime de proteção internacional do povo palestino”. Desde o passado mês de outubro, recrudesceu a violência israelense contra o povo martirizado da Palestina, com assassinatos extrajudiciais cometidos pelas forças de segurança israelenses, a expansão das colônias e a persistência de todo tipo de violações dos direitos humanos perpetrados pela ocupação sionista, que, efetivamente é o reflexo no cotidiano de uma deliberada política de extermínio. Os palestinos são expulsos de suas casas, impedidos de construir sua nação e quando protestam são duramente reprimidos, no mais das vezes presos e mortos. O crime e a barbárie perpetrados na Palestina são os meios pelos quais se aprofundar a ocupação, expandem-se as colônias, tornando letra morta as resoluções da ONU.

Defendemos a criação do Estado livre e independente da Palestina, com as fronteiras de 1967, capital em Jerusalém Leste e a repatriação dos refugiados. Defendemos ainda a libertação de todos os pesos políticos. Exigimos a retirada de todos as colônias israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados e a queda do Muro de Separação. Exigimos que sejam cumpridas as resoluções da ONU e conclamamos ao reconhecimento do Estado Palestino como membro pleno da ONU e que os governos dos países membros das Nações Unidas reconheçam urgentemente o Estado da Palestina.

Faz parte desta luta e da solidariedade ao povo palestino o apoio à campanha internacional pelo boicote, o desinvestimento e as sanções a Israel.

Da mesma forma, devemos ecoar a denúncia ao colonialismo que oprime o povo saaraui, ainda sujeito à ocupação marroquina apesar das resoluções da ONU que reconhecem seu direito à autodeterminação.

Os povos devem unir-se e fortalecer a sua luta contra a guerra e a opressão, enfrentando também as novas manifestações de fascismo em pleno século 21, também instrumentalizado pelas potências imperiais. Sobretudo na Europa e na América Latina, somos confrontados com a emersão de grupos de extrema-direita que se empenham no combate violento às nossas conquistas progressistas, ameaçando a democracia, a justiça e a paz. Desde a Ucrânia até a Venezuela, a atuação desses grupos tem imposto desafios que pensávamos superados. Os movimentos sociais e as forças progressistas são diretamente alvos dessa violência política.

O Conselho Mundial da Paz completa 65 anos de luta contra a guerra, o imperialismo e a opressão. Neste contexto, reafirmamos nossas bandeiras de luta e ampliamos nossas campanhas no compromisso inabalável com a defesa da paz e da justiça, aliados a diversos movimentos sociais e outras entidades comprometidas com os princípios mais caros à humanidade.

Estamos certos de que o nosso empenho conjunto fará avançar a causa dos povos e derrotará os fautores da guerra. Seguimos determinados e comprometidos com a atuação e o trabalho decisivos neste sentido, na defesa da humanidade.

* Presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

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