BRENO ALTMAN: REFLEXÕES RÁPIDAS SOBRE O CASO DELCÍDIO
1. Escutei a gravação de cabo a rabo. Não parece haver qualquer dúvida, salvo se tiver havido falsificação ou edição de vozes: o senador Delcídio Amaral incorreu em tentativa de obstruir a Justiça, delito previsto no código penal e passível de caracterização como flagrante por seu caráter permanente.
2. O STF decidiu por sua prisão preventiva com base na lei e na Constituição, ainda que não aplique estes instrumentos com o mesmo rigor quando se trata de parlamentares filiados a partidos conservadores.
3. O PT deveria orientar sua bancada no Senado a chancelar tal decisão tomada pelo STF e abrir imediato processo disciplinar contra o senador, deixando claro o caráter individual e antipartidário de suas ações.
4. O PT paga o preço por ter aceito em suas fileiras um quadro sem qualquer história na esquerda, cuja ascensão se deu pelo contubérnio entre PSDB e PMDB. O comportamento de Delcídio durante a CPI dos Correios, o processo do mensalão, a discussão do regime de partilha do petróleo e outros temas já revelavam seu alinhamento político-ideológico com a direita. Sua filiação ao PT explica-se apenas por oportunismo eleitoral em seu estado natal, Mato Grosso do Sul, e talvez pela possibilidade de preservar espaço político na Petrobras, empresa da qual foi diretor sob o governo FHC.
5. O PT e a esquerda precisam, nesse momento, separar o joio do trigo, para poder seguir adiante no combate ao golpismo e à manipulação dos aparatos judiciais em favor do campo conservador.
No mais, fiquemos esperançosos: pela primeira vez o STF mandou prender um tucano… no mínimo, foi o mais perto que chegou disso…
Breno Altman é militante do PT, jornalista, editor do Opera Mundi