Opinião
Irã exerce direito de defesa com ação calibrada e compromisso de contenção
O país persa agiu em nome da justiça e nos marcos do direito internacional. As forças da paz devem agir para evitar a escalada do conflito
Por José Reinaldo Carvalho (*) – O Irã empreendeu uma ação audaciosa e contundente ao exercer seu direito de defesa e segurança, conforme estipulado pelo Artigo 51 da Carta das Nações Unidas. A ação foi uma resposta legítima às agressões de Israel, designadamente o crime que cometeu em 1 de abril, ao atacar uma missão diplomática iraniana que resultou na morte de lideranças militares e funcionários diplomáticos. Um dos mártires foi o Comandante Mohammad Reza Zahedi, um líder sênior da Guarda Revolucionária do Irã. Ao perpetrar esse abominável crime, Israel uma vez mais atentou contra os mais elementares valores humanos de paz e justiça. Não poderia ficar impune.
A ação iraniana do último sábado foi meticulosamente calibrada e previamente notificada por meio de mensagens diplomáticas e anunciada publicamente, resguardados os detalhes militares, pelas mais importantes autoridades iranianas. A ação durou poucas horas, anunciada oficialmente perante a ONU. De acordo com o Artigo 51 da Carta da ONU, os países têm o direito inerente de se defender contra ataques armados. Neste contexto, o Irã agiu em conformidade com o direito internacional ao responder às agressões anteriores e às crescentes ameaças à sua segurança nacional. O ataque, que durou poucas horas, foi cirúrgico e focalizado, demonstrando uma estratégia cuidadosa para evitar consequências mais trágicas.
O Irã anunciou pelas vias oficiais que a missão de responder à agressão israelense fora concluída e comprometeu-se a somente voltar a agir militarmente se for novamente atacado por Israel. A República Islâmica demonstrou a um só tempo coerência na defesa de sua soberania, poder no empreendimento de uma ação militar de envergadura contra um inimigo poderoso, prudência, ao não ultrapassar limites, e compromisso com a paz, ao negar a escalada regional ou global do conflito. O Irã deixou claro que sua ação foi uma resposta proporcional e que está disposto a encerrar as hostilidades se Israel não realizar futuras agressões. Esse compromisso com a contenção é um sinal positivo em meio às tensões regionais, mostrando uma abertura para a resolução pacífica de disputas.
As reações internacionais ao incidente foram variadas. Os Estados Unidos reafirmaram seu total apoio a Israel, ao qual voltou a jurar fidelidade em nome de uma aliança “blindada”, segundo as palavras do chefe da Casa Branca. Mas, premido pelas circunstâncias da disputa eleitoral doméstica, Biden apelou a Netanyahu para não atacar o Irã. Outras potências imperialistas ocidentais, como a Alemanha, o Reino Unido, a França e até mesmo a Otan, reafirmando o apoio incondicional a Israel e a condenação ao Irã, não se atreveram a anunciar que apoiariam um ataque israelense agora. Os governos da região, exceto o da Jordânia, pediram contenção.
Da maior relevância foi a posição da China, hoje uma das vozes mais lúcidas no concerto internacional e um fator de estabilidade e defesa da paz. O gigante socialista asiático pediu contenção das partes relevantes da vida internacional. Este apelo reflete a opinião chinesa de que a estabilidade no Oriente Médio é um fator fundamental para assegurar a paz mundial e enfatiza a necessidade de todos os atores agirem com responsabilidade. É uma aplicação dos princípios enunciados pelo líder máximo da China, o presidente Xi Jinping, sobre a segurança coletiva
O Brasil também pediu contenção de todas as partes envolvidas. Esta posição reforça a necessidade de evitar ações precipitadas que possam levar a um ciclo de violência incontrolável. O apelo brasileiro reflete a preocupação com a estabilidade regional e a busca por soluções pacíficas.
A Rússia também pediu contenção e, usando termos diplomáticos, encontrou justificativas para a ação iraniana.
A disparidade de pontos de vista fez com que a reunião do Conselho de Segurança deste domingo, não chegasse a qualquer conclusão. Afinal, Israel, que não tem legitimidade perante esse Conselho porquanto é infrator de suas resoluções, pediu que a reunião não só condenasse e decidisse por sanções severas ao Irã, como também exigiu que a Guarda Revolucionária iraniana fosse catalogada como organização terrorista. Reivindicações irrealistas e levantadas apenas com a finalidade de criar tumulto e provocar o adversário. Uma tática solerte, um comportamento de país pária, incapaz de conviver em paz com a coletividade internacional e praticar os ritos da diplomacia.
A semana começa tensa, marcada pela troca de declarações duras por parte dos governos do Irã e Israel. Este último com ameaças e demonstrando disposição de, contra tudo e todos, provocar uma escalada do conflito.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde coordena o setor de Solidariedade e Paz e presidente do Cebrapaz