Armas nucleares

Hiroshima e Nagasaki: A homenagem e a luta dos povos contra os arsenais nucleares

07/08/2016

Há 71 anos, o mundo assistia horrorizado à inauguração do uso das armas nucleares pelos Estados Unidos, no findar da Segunda Guerra Mundial. Há sete décadas, o inimaginável atingia a humanidade de frente e marcava a nossa história com uma mancha de terror que jamais poderá ser apagada, em 6 e 9 de agosto de 1945.

Por Socorro Gomes na página do Cebrapaz

O primeiro emprego dessas armas de destruição em massa nos fez impulsionar a luta comprometida que travamos ainda hoje, pela eliminação completa de todo o arsenal nuclear e a proibição do seu desenvolvimento. Por isso, todos os anos homenageamos o povo japonês no martírio horrendo imposto a Hiroshima e Nagasaki, reafirmando nossa determinação pela não repetição desta tragédia.

Entretanto, apesar das homenagens e da perplexidade com os fatos e números desta história, em que entre 200 mil e 300 mil pessoas foram massacradas pelos bombardeios nucleares estadunidenses — ainda hoje impunes e incólumes –, a nossa luta é contínua, enfrenta barreiras gravíssimas e precisa ser promovida. O uso dos arsenais nucleares enquanto instrumento de política externa, afinal, ainda é considerado uma tática dissuasora por parte dos Estados Unidos e seus aliados na Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Apesar das manifestações dos povos de todo o mundo contra os arsenais nucleares e das denúncias dos cidadãos de países detentores dessas ameaças à humanidade, ou de países membros da Otan altamente militarizados, os mandatários do império ousam fazer apostas, jogar com as vidas de milhões de pessoas e arriscar uma política de terror não só modernizando suas armas nucleares como também esparramando esses instrumentos de morte por diversos países. Através do programa de “partilha nuclear”, os Estados Unidos mantêm hoje arsenais nas suas bases militares europeias na Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda e Turquia.

O Conselho Mundial da Paz tem recobrado a campanha que lançou ainda em 1950, o Apelo de Estocolmo, pela eliminação completa dos arsenais nucleares e de outras armas de destruição em massa. Há mais de seis décadas, este apelo angariou as assinaturas de mais de 600 milhões de pessoas preocupadas com a ameaça de aniquilação e a catástrofe que se anuncia com o emprego dessas armas por líderes que se arrogam o papel de donos do destino do mundo.

Se todas as ogivas nucleares forem contabilizadas, o total de armas é de aproximadamente 15.395 artefatos, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri). Apesar da ligeira redução em comparação com o ano anterior — em cerca de 500 ogivas — especialistas têm apontado com preocupação para a modernização dos arsenais, cuja capacidade de alcance e devastação é exponencial. O SIPRI apontou, em junho, que os EUA planejam gastar US$ 348 bilhões no período entre 2015 e 2024 para a manutenção e adaptação das suas forças nucleares e US$ 1 trilhão nas próximas três décadas com a sua modernização.

A entrada em vigor, em 1970, do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), apesar do simbolismo das promessas, não significou grandes compromissos em termos efetivos por parte dos detentores desses arsenais. Hoje, 191 Estados são parte do tratado e 93 são signatários.

A cada cinco anos as conferências de revisão do TNP, cuja ambição é aprofundar compromissos, debatem a proibição completa e os mecanismos de verificação dessa abolição. Entretanto, os povos veem seu desejo por um mundo livre da ameaça nuclear frustrado. Foi o caso da nona conferência, realizada em 2015, que terminou sem qualquer avanço efetivo, principalmente devido ao desacordo de Israel — que não aderiu ao TNP e é apoiado pelos EUA — com a determinação de um prazo para a declaração do Oriente Médio como zona livre de armas nucleares.

Por isso, as organizações membras do Conselho Mundial da Paz têm-se empenhado nas campanhas e ações envolvendo os povos de seus países na luta pela eliminação desta ameaça à humanidade. Os crescentes enfrentamentos e as guerras impostas pelos Estados Unidos e seus aliados europeus, na sua política imperialista de dominação, saque e agressão, têm gerado o ambiente de insegurança generalizada.

Devemos seguir mobilizando-nos contra a imposição desta lógica de destruição e guerra. Juntos, homenageamos todas as vítimas das guerras, os sobreviventes e os mártires dos bombardeios contra Hiroshima e Nagasaki e todos os que continuam resistindo e exigindo o fim das guerras e a abolição de todas as armas de destruição em massa. Fortalecemos, assim, a solidariedade entre os povos na luta anti-imperialista e pela paz.

Socorro Gomes é presidenta do Conselho Mundial da Paz

 

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