Há cem anos, eclodia a Primeira Guerra Mundial

03/07/2014

Com este artigo, abrimos uma série dedicada à Primeira Guerra Mundial, iniciada há um século.

Na cadeia de acontecimentos que fazem parte do desencadeamento deste grande conflito, lugar de destaque é atribuído pela historiografia ao assassinato do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Franc Ferdinand, em Saraievo, por um membro de uma organização nacionalista sérvia, a 28 de junho de 1914.

José Reinaldo Carvalho *

Foi o pretexto para que rufassem os tambores de guerra e os canhões começassem a troar. Os círculos mais agressivos do referido império exploraram o fato para atacar e ocupar a Sérvia, o que, na conjuntura geopolítica da época, só podia ser feito após entendimentos com a Alemanha, grande potência em ascensão.

Os imperialistas germânicos consideravam que a situação era favorável para fazer a guerra, tendo em conta que a Rússia e a França, potências rivais, não estavam militarmente preparadas. Pesavam ainda no julgamento alemão as dificuldades momentâneas da Inglaterra, envolvida no conflito interno em torno da questão irlandesa.

Com o consentimento alemão, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia em 27 de julho de 1914. Na sequência, em 1º de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia, que tinha reagido em favor da Sérvia, e depois à França. Em tais condições, a Inglaterra declara guerra à Alemanha em 4 de agosto. Em pouco tempo, o conflito se disseminou também para fora da Europa, com o envolvimento do Japão e da Turquia e as disputas territoriais na África. Assim, o que no começo era uma contenda europeia logo se transformou em guerra mundial.

A Primeira Grande Guerra foi o choque político e militar entre as duas coalizões imperialistas da época. De um lado, a Aliança Tripartite, formada pela Alemanha e o Império Austro-Húngaro, que contou também como apoio do Império Otomano; do outro, a Entente, integrada pela Inglaterra, a França e a Rússia, à qual se incorporam, com o decorrer do conflito, a Itália, o Japão e os Estados Unidos.

O conflito mobilizou 75 milhões de soldados e resultou em 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos.

Em essência, a guerra foi consequência da crise geral do sistema econômico e político mundial do imperialismo, do agravamento das contradições entre as grandes potências capitalistas, a partir do desenvolvimento desigual e da tendência objetiva à nova divisão do mundo, com muitos antecedentes.

Em 1898, já se desenvolvera o primeiro conflito com caráter imperialista-colonialista entre os Estados Unidos e a Espanha pela posse das Filipinas na Ásia e de Cuba, na região caribenha. Em 1904-1905, ocorreu a guerra russo-japonesa pela divisão do Extremo Oriente. Agravaram-se as contradições entre a França e a Alemanha em torno de colônias africanas, como Marrocos e Congo.

Em 1908, o Império Austro-Húngaro, apesar da contestação da Sérvia, anexou a Bósnia e a Herzegovina, que a Alemanha via como meio para a criação de uma ligação direta com o território da aliada Turquia.

Em 1910, o Japão ocupou a Coreia. O apetite dos japoneses era cada vez maior. Buscavam reforçar suas posições na China.

Em 1911, a Itália declarou guerra à Turquia, o que resultou na tomada da Tripolitana e da Cirenaica (Líbia), no Norte da África.

Todas essas escaramuças do início do século 20 foram acompanhadas por uma desenfreada militarização e corrida armamentista, o que tornou inevitável o começo da guerra pela divisão do mundo, em julho-agosto de 1914.

Lênin foi um dos que melhor compreendeu o caráter da guerra. Como dirigente revolucionário, empenhou-se para transformar a crise gerada pelo conflito em crise revolucionária e revolução, posição que era uma linha demarcatória com os partidos da social-democracia que aderiram às suas burguesias nacionais e apoiaram a guerra – tema que trataremos em outro artigo.

Por ora, retenhamos o que dizia o grande revolucionário russo, quando a guerra eclodiu: “A guerra europeia, preparada durante dezenas de anos pelos governos e partidos burgueses de todos os pa[ises, estalou. O armamentismo, o agravamento da luta por mercados na nova etapa, a etapa imperialista do desenvolvimento do capitalismo dos países avançados e os interesses dinásticos das monarquias mais atrasadas da Europa oriental, inevitavelmente levariam como levaram a essa guerra. A ocupação de territórios e a submissão de nações estrangeiras, o arruinamento de nações concorrentes, o saque das suas riquezas, o desvio da atenção das massas das crises políticas internas da Rússia, Alemanha, Inglaterra e outros países, a divisão dos trabalhadores e seu engano pela mentira nacionalista, a liquidação da sua vanguarda para enfraquecer o movimento revolucionário do proletariado, este é o único conteúdo verdadeiro, esta é a importância e a compreensão da guerra atual”.

* Jornalista, Diretor do Cebrapaz, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade e editor do Vermelho.

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