Na Turquia, Conselho Mundial da Paz debate prioridades na luta
O Conselho Mundial da Paz (CMP) realizou importantes eventos entre quinta-feira (18) e este domingo (21), em Istambul, Turquia. As reuniões debruçaram-se sobre desafios enfrentados pelo movimento anti-imperialista, como a crise internacional, a militarização, as armas nucleares e a necessidade de fortalecimento da luta pela paz.
Por Moara Crivelente*, de Istambul para o Portal Vermelho
Organizadas pela Associação de Paz da Turquia, uma das quase 100 entidades que integram o CMP, as reuniões da Região Oriente Médio e da Região Europa da organização, seguidas pela reunião do Secretariado, focaram em temas essenciais para os rumos do conselho, no sentido do fortalecimento e da maior abrangência das atividades da luta pela paz e da solidariedade internacional.
Os participantes, representantes das entidades integrantes do Secretariado e de outras organizações convidadas, discutiram objetivos comuns de elevada urgência para o fortalecimento do CMP em suas ações de solidariedade, com o foco para as campanhas contra as armas nucleares, pelo desmantelamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e pela eliminação das bases militares estrangeiras, espalhadas pelo mundo como reflexo das doutrinas estadunidenses de extensão de sua presença no mundo.
O Apelo de Estocolmo, documento elaborado ainda no nascimento do CMP, em 1950, completa 65 anos ainda marcado pela atualidade. O documento, assinado por mais de 300 milhões de pessoas para exigir a abolição das armas nucleares, revela-se atual no momento em que a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear, encerrada em maio, não resultou em um avanço para além dos insuficientes compromissos pela redução do arsenal mundial. O impedimento foi essencialmente provocado pelo veto estadunidense (impulsionado por Israel) à proposta de resolução que definia o Oriente Médio como zona livre de armas nucleares – o que colocaria em evidência o programa nuclear secreto de Israel, que possui cerca de 80 ogivas não declaradas, de acordo com o Centro Internacional de Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri).
Este foi um dos pontos ressaltados pela presidenta do CMP, Socorro Gomes, durante seu discurso político. Socorro colocou ênfase sobre os elevados gastos militares em todo o mundo, com destaque para o estadunidense, o saudita e o da própria Otan, que definiu, em sua Cúpula de 2014 no País de Gales, que todos os seus membros deveriam destinar 2% dos seus PIB ao setor militar. A exigência, resultado de uma pressão dos EUA para que seus aliados « invistam mais na segurança comum », afeta até mesmo países em crise onde os trabalhadores são as principais vítimas de agressivas políticas de arrocho determinadas por « credores internacionais ».
Socorro abordou diversos dos desafios prementes no atual contexto de agravamento da militarização e das tensões com sinais claros da ascensão do fascismo, das ameaças aos processos democráticos na Venezuela, Argentina, Equador e Brasil e da ingerência imperialista ainda provocando devastadoras consequências na Síria, na Ucrânia e em diversos países da África, palco de um agressivo neocolonialismo.
O secretário-geral Thanassis Pafilis (Grécia) pontuou os ataques característicos de um sistema imperialista assentado no capitalismo agressivo contra os povos e trabalhadores. Para Pafilis, a situação na Grécia e outros países europeus impactados pela crise sistêmica internacional, ao mesmo tempo que revela as prioridades contrárias à vontade popular e aos direitos sociais, revela também uma agenda de controle e ameaça para a manutenção de espaços de hegemonia e dominação. Por isso, a análise do atual contexto internacional, para o secretário-geral, deve necessariamente passar pela compreensão do caráter sistêmico da crise e de um modelo que só pode ter esses resultados de exploração e ataque contra os povos e trabalhadores, o que também deve ser prioritário na agenda de denúncias do movimento pela paz.
A coordenadora da Região Europa, Ilda Figueiredo, ressaltou a urgência da campanha contra a Otan, não só devido à já patente política de expansão para abranger, com uma política belicosa, cada vez mais partes do mundo, mas também pela iminência do maior exercício de guerra desde a chamada Guerra Fria, de setembro a novembro deste ano. Ilda, que preside a direção do Conselho Português pela Paz e Cooperação (CPPC), enfatizou, entre outros pontos, sobre a escalada da agressividade da Otan, que realizará os exercícios, com armamentos pesados, tanques, navios de guerra e caça, principalmente na Espanha, em Portugal e na Itália, sobretudo no Mar Negro e no Mediterrâneo.
Para a coordenadora regional, também é especialmente urgente para o CMP abordar a situação dos imigrantes, vítimas de grandes tragédias humanitárias em travessias inseguras até a Europa, pelo Mediterrâneo. São sobretudo vítimas de um sistema de exploração e de políticas agressivas do imperialismo que atinge diretamente seus países, causando grande instabilidade, insegurança e condições extremas que levam à migração precária, ressaltou Ilda.
Na reunião do Oriente Médio, a situação na Síria, que ainda enfrenta a brutalidade do terrorismo e as investidas imperialistas contra o governo; os criminosos bombardeios contra o Iêmen e a permanente questão da Palestina, onde a ocupação israelense continua determinando os obstáculos à efetivação de um Estado soberano palestino. Além disso, a escalada da violência e o papel do sionismo israelense nas tensões regionais – em todo o Oriente Médio – ficou enfatizado.
Importantes pontos foram levantados pelas oito organizações do Secretariado representados na reunião (de Cuba, Portugal, Brasil, Chipre, Grécia, Palestina, Estados Unidos e Nepal). Campanhas pelo desmantelamento da Otan, pela abolição das armas nucleares e pela eliminação das bases militares foram definidas como prioritárias. Além disso, abordou-se o 4º Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras, que será realizada em novembro, em Guantânamo.
Ato público
Membros do CMP também foram convidados para falar sobre a agenda de debates do Conselho num evento público neste sábado (20), no Centro Cultural Nazim Hikmet, com uma expressiva audiência que também assistiu a uma apresentação da Associação de Paz da Turquia sobre o papel do país no conflito na vizinha Síria, em aliança com o imperalismo e a agenda desestabilizadora para a região.
Foram definidas a solidariedade do CMP ao povo nepalês, que trabalha pela reconstrução após o devastador terremoto; o apoio ao povo cubano na retomada das relações com os EUA e a continuidade da luta pelo fim do bloqueio estadunidense contra Cuba; o respaldo à luta do povo palestino pela responsabilização dos líderes israelenses por sucessivos e permanentes crimes de guerra; à causa do povo saaraui pelo fim da ocupação marroquina, entre outras prioridades da luta pela paz e anti-imperialista, contra a dominação dos povos e por relações internacionais mais justas.