Meu presente de Natal

21/12/2014

As agências internacionais informam que caças israelenses desferiram neste sábado (20) ataques no sul da Faixa de Gaza. De acordo com um porta-voz militar israelense, seu país atacou « posições terroristas do movimento Hamas ».

Por José Reinaldo Carvalho

Como se sabe, a Faixa de Gaza, governada pelo movimento palestino de resistência Hamas é um dos territórios mais pobres e superpovoados do mundo, bloqueado há mais de oito anos pelo governo de Tel Aviv.

Já se tornaram ações de rotina os ataques dos sionistas israelenses ao território palestino. Entre princípios de julho e fins de agosto passado, o Exército desta potência militar que se comporta como Estado terrorista empreendeu uma guerra contra a Faixa de Gaza, num dos mais hediondos episódios na execução da estratégia genocida que comporta o extermínio do povo palestino como meio de afirmação do Estado “judeu” no território usurpado em 1947. Os sistemáticos bombardeios causaram mais de 2.400 mortos e mais de 11 mil feridos e mutilados.

O bombardeio deste sábado coincide com a ofensiva diplomática palestina para conquistar vitórias por meios pacíficos no reconhecimento de seu Estado independente, apesar da oposição dos Estados Unidos e de Israel.

Estamos no período de festas natalinas e fim de ano, quando são habituais as mensagens de paz e fraternidade universais. Não é a primeira vez que em meio ao clima festivo, os sionistas sobressaltam a humanidade com seus ataques criminosos contra a população palestina, que nem de longe atingem os supostos terroristas, mas vitimam milhares de crianças, mulheres e anciãos indefesos. Foi o que ocorreu a 27 de dezembro de 2008, quando, sob a denominação de Operação Chumbo Fundido, que incluiu ataques aéreos e ofensiva terrestre, os sionistas assassinaram 1314 palestinos e causaram ferimentos em outros mais de cinco mil.

Uma das virtudes da cidade de São Paulo é a convivência entre imigrantes de inúmeras procedências. Nestes dias envolvi-me numa discussão, entre o jovem funcionário do caixa de um supermercado e uma senhora muçulmana de idade já provecta. Entre confusa e intimidada, a boa senhora tentava explicar ao menino que o islamismo nada tem a ver com o terrorismo e até mesmo que eram antagônicos. Com vozinha mansa, citava o Corão, mas o rapaz, com as convicções formadas pelos leitores da Veja e telespectadores do Jornal Nacional, resenhava os últimos atentados do Estado Islâmico e do Talibã como “prova” de que a pobre velhinha tinha escolhido a religião errada. Minha participação foi simples, até banal, e despretensiosa, mas me valeu o presente deste Natal.

– Sabia, jovem, que toda a informação sobre este assunto que você recebe pelos canais de TV e jornais é fabricada por Israel e os Estados Unidos? E que Israel se declara “Estado judeu”, vedado aos muçulmanos?

A boa senhora abriu os olhinhos vivazes e sorriu discretamente. O jovem, atônito, já em defensiva: “Não estou inventando, foi só o que ouvi falar”.

Já de saída, depois de lhe desejar Feliz Natal, disse-lhe que anotasse mais uma informação. O ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declarou que antes de ordenar a matança dos iraquianos, “conversou com Deus”, o que não me autorizava a identificar o fundamentalismo cristão com o terrorismo.

Na porta da loja, uma leve mão roçou-me os ombros. Com discreto sorriso, olhos marejados e voz suave, a anciã muçulmana me diz: “Chukran, meu filho. Feliz Natal”.

 

 

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