Manobras militares na Europa ameaçam a paz mundial

20/10/2015

Manifestantes antimilitaristas espanhóis bloquearam no último sábado (17) no porto de Sagunto, Valência, a saída de tanques de guerra no momento em que se iniciava o seu deslocamento no quadro das manobras militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) designadas como “Trident Juncture 2015”.

Por José Reinaldo Carvalho

Por meio de nota, a organização Antimilitaristas, afirma que o povo não pode permanecer indiferente a tais manobras e tem o dever de interromper o fluxo de armamentos no território espanhol.

“A guerra começa aqui e aqui a paramos”, é o lema dos manifestantes. Uma singela demonstração, que se soma a outras que têm ocorrido em países europeus, contra a gigantesca mobilização de tropas e armamentos levada a efeito pela Otan.

Os exercícios Trident Juncture 2015 mobilizam 36 mil soldados, mais de 230 unidades terrestres, aéreas e navais e forças de operação especial de mais de 30 países membros da Aliança e parceiros, mais de 60 embarcações e 140 aviões de guerra, além de outros artefatos da indústria militar de 15 países para avaliar de quais armas necessita a Otan no processo de “renovação” que vem desenvolvendo. Um dos objetivos das atuais manobras é testar a Força de Resposta Rápida da Aliança Atlântica.

As manobras se iniciaram no final de setembro e durarão até 6 de novembro. Na próxima semana, desenvolver-se-á sua segunda etapa, com fogo real, em Portugal, Espanha e Itália.

O objetivo proclamado da Aliança Atlântica ao consolidar a Força de Resposta Rápida é estender cada vez mais a sua área de influência e intervenção, da Europa à África e à Ásia, com perspectiva global. A Força de Resposta Rápida tem 40 mil efetivos e inclui a chamada “Força de ponta”, com altíssima prontidão operativa. Segundo comunicado, a Trident Juncture 2015 mostra “o novo e maior nível de ambição da Otan para conduzir a guerra moderna conjunta”, provando ser “uma Aliança com funções de liderança”.

A organização tem 28 Estados membros da América do Norte e da Europa. Outros 22 países estão engajados no chamado Conselho de Parceria Euro-Atlântico. Ao seu lado, outros 19 países estão ligados à Otan através de programas como o “Diálogo do Mediterrâneo”, a “Iniciativa de Cooperação de Istambul” ou a “Parceria para a Paz”.

Desde 1991, a Otan expandiu o quadro de membros e o teatro de operações, o que por si só revela o seu objetivo fundamental: ser uma ferramenta primordial na dominação imperialista ocidental sobre o planeta.

A Otan é uma inimiga da paz, está comprometida com as doutrinas do primeiro ataque e dos ataques preventivos. Como uma aliança militar ofensiva, está sempre pronta para intervir antes mesmo de a diplomacia ser acionada, caso seja de interesse das grandes potências que a comandam. A expansão e as intervenções da Otan são diretamente responsáveis pela desestabilização, pelas turbulências, pela violência e pela guerra.

No ano passado, o Conselho Mundial da Paz, liderado pela ex-deputada federal brasileira Socorro Gomes, lançou um apelo assinalando enfaticamente que a “Otan é uma inimiga da paz e dos povos”. A Aliança Atlântica intervém em várias partes do globo, como fez na antiga Iugoslávia, no Afeganistão, na Líbia e no Iraque. E se adestra para agir no mesmo sentido na Ucrânia e na Síria. Em suas intervenções, a Otan usa armas tóxicas que contêm urânio empobrecido ou fósforo branco e considera as armas nucleares parte fundamental da sua estratégia de defesa.

A última cúpula da Otan realizada no País de Gales, em setembro do ano passado, desenvolveu ainda mais as decisões da Cúpula de Lisboa (2010), quando a Aliança Atlântica formalizou seu novo conceito estratégico. A perspectiva é reforçar o caráter militarista e agressivo da organização, como instrumento das potências estadunidense e europeias para intervir militarmente onde requeiram suas necessidades de saquear as riquezas dos povos e estabelecer esferas de influência.

Os brasileiros e latino-americanos não devemos ser indiferentes à existência desta gigantesca máquina de guerra. São explícitas as ambições da Aliança em face do Atlântico Sul e não faltam por aqui lideranças subservientes que se dispõem a fazer seu jogo. Nos anos 1990, o então presidente argentino Carlos Menem, proclamou “relações carnais” com os Estados Unidos e pediu o ingresso do país na Otan como “membro associado”.

Lutar pela dissolução da Otan é, assim, um dever internacionalista coincidente com os interesses nacionais. Esta luta faz parte das plataformas de mobilização dos povos e das organizações sociais e políticas que defendem a paz, a justiça social e o progresso.

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