Jorge Bolaños: EUA mudam tática, mas mantêm estratégia para Cuba

06/02/2015

Nosso presidente Raúl Castro Ruz e seu par dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciaram em 17 de dezembro passado o restabelecimento de relações diplomáticas entre ambas as nações, depois de uma ruptura unilateral ditada pelo presidente Dwight Eisenhower em janeiro de 1961.

Por Jorge Bolaños, em Juventud Rebelde

Na sequência, em 22 de janeiro último se realizou a primeira rodada de negociações para o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos baseadas nos princípios do Direito Internacional, da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Viena sobre as Relações Diplomáticas e Consulares. A rodada se realizou em um ambiente respeitoso e construtivo, segundo declarações à imprensa formuladas pelos respectivos chefes de delegações.

Este fato é de grande significação diplomática, depois de meio século de ausência, e equivale ao reconhecimento do Governo Revolucionário cubano chefiado pelo presidente Raúl Castro Ruz.
Em sua informação à nação, nosso presidente deixou claro que uma coisa era o restabelecimento de relações e outra a normalização das mesmas, o que não seria possível enquanto permaneça vigente o bloqueio imposto a nosso país.

Trata-se do bloqueio criminoso mais longo que a história moderna conhece e que faz de Cuba o país mais sancionado do planeta, segundo as palavras pronunciadas no ano de 2012 pelo então chefe do Birô de Sanções do Escritório de Controle de Ativos do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

A mencionada reunião foi precedida por ações de grande importância e regozijo para nosso povo, como foi o regresso à Pátria de nossos irmãos Gerardo, Ramón e Antonio.

No caminho para a normalização de relações há outros passos que pertencem às prerrogativas do presidente dos Estados Unidos, entre elas a de fazer gestões pela retirada de Cuba da espúria lista de países patrocinadores do terrorismo internacional que gerou perseguições e multas multimilionárias a entidades financeiras internacionais de diversos países desenvolvidos e dificultou nossas operações com a banca; não posso deixar de mencionar o descrédito e a incredulidade que suscita a cínica inclusão de Cuba em tal lista entre a comunidade internacional e até em alguns funcionários estadunidenses que tiveram algo a ver com este assunto. Dentro do conjunto de ações empreendidas por Obama se encontra a de promover a modificação das leis que codificam o bloqueio e que são da competência do Congresso.

O senso comum estadunidense dá como ponto pacífico que os presidentes se valem de seu segundo mandato para estabelecer seu legado histórico no âmbito nacional e internacional; assim como também para fazer todo o possível a favor de que seu Partido ganhe a próxima eleição presidencial.

Nunca antes um presidente dos Estados Unidos teve condições tão propícias para fazer mudanças inovadoras em sua política para Cuba, hoje considerada pela maioria de setores do establishment como uma política fracassada que afeta seus interesses e precisa de mudança.

Hoje as pesquisas de opinião pública refletem que a população estadunidense é majoritariamente a favor do estabelecimento de relações diplomáticas e da eliminação do bloqueio. Recentemente o jornal The Washington Post realizou uma pesquisa entre estudantes universitários revelando que oito em cada dez são a favor da eliminação das sanções a Cuba.

Nunca antes o bloqueio tinha sido tão rechaçado e convertido em tema de conflito nas relações dos Estados Unidos com os países de nossa região. Na história da Assembleia Geral das Nações Unidas jamais o império tinha ficado tão isolado da comunidade internacional como ocorre ano após ano na votação da Resolução que condena o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba.

Nosso presidente Raúl Castro deixou claro, em reiteradas ocasiões e em diferentes âmbitos, a vontade do governo revolucionário de discutir o conflito histórico Cuba-Estados Unidos sem condições e sobre a base do respeito mútuo à soberania e autodeterminação de ambas as nações.

Tudo isso, mais a firme e decisiva resistência e unidade do povo cubano e a lucidez por parte da direção de nosso país na condução da política exterior e, em particular, o que se refere aos Estados Unidos, são fatores que ajudam a explicar o giro do presidente Obama ao reconhecer publicamente, em suas recentes intervenções, o fracasso da política de hostilidade e bloqueio levada a cabo durante 54 anos e substituí-la por outra que ofereça maiores possibilidades a seus objetivos originais que não são outros que o desmantelamento da ordem social e econômica soberanamente escolhida e apoiada por nosso povo.

Segundo declarações à imprensa atribuídas à subsecretária do Departamento de Estado, Roberta Jacobson, a tática para Cuba muda, mas a estratégia se mantém. Logo, o processo de normalização será longo e repleto de obstáculos, mas não impossível apesar das profundas diferenças de ordem social, econômica, política e ética, extensivas ao campo da política externa.

Nossa arma frente ao gigante continuará sendo a de Martí.

Jorge Bolaños é diplomata cubano e professor auxiliar do Instituto de Relações Internacionais de Cuba. Foi chefe do Escritório de Interesses de Cuba em Washington. Tradução do Blog da Resistência

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