Comunistas russos apoiam a resistência do povo ucraniano
O presidente do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), Gunadin Ziuganov, emitiu uma declaração em que analisa os dramáticos acontecimentos na Ucrânia, condena o governo golpista instaurado em Kíev, apoia a resistência popular e os anseios de independência da Crimeia. Leia a íntegra.
No desenvolvimento dos acontecimentos na Ucrânia aconteceu uma decisiva mudança. O Soviete Supremo da Crimeia decidiu o ingresso da República Autônoma na Rússia. Estamos convencidos de que no cursodo referendo de 16 de março a população da Crimeia sustentará esta decisão histórica.
Não passou muito tempo desde que as forças neofascistas, que sequestraram os órgãos do poder durante o golpe de estado, celebraram o seu triunfo. Hoje, ao contrário, estão na defensiva, em face da resistência das massas populares do sudeste do país e de uma profunda crise econômica, agravada ainda mais pelos acontecimentos de Maidan.
Imersa em suas dificuldades, a camarilha no poder deve culpar a si própria, não a “sinistra mão” de Moscou. Este grupo deu provas da sua russofobia nazista, começando a destruir os monumentos a Lênin e aos soldados libertadores soviéticos, revogando a lei sobre o status da língua russa, enviando bandos de criminosos aos centros industriais do leste, onde a população fala predominantemente a língua russa.
Encontrando a forte resistência do povo na Crimeia, em Kharkov, Donetsk, Odessa, Dnepropetrovsk e em outras cidades, o vértice do poder em Kíev procedeu à introdução da ditadura sob a direção do grande capital. Como governadores de várias regiões, foram eleitos os oligarcas, que primeiramente se escondiam à sombra dos politiqueiros dos diversos agrupamentos: “Pária”, “Golpe” e “Partido das Regiões”.
Sobre o evidente caráter de classe do novo poder testemunha em particular o fato de que o presidente do Congresso Hebraico Europeu, I. Kolomoyski, nomeado governador da região de Dnepropetrovsk, tenha sido financiado, segundo a imprensa, pelo grupo filo-fascista e antissemita “Svoboda” (Liberdade). Isto confirma que a oligarquia mundial está pronta a confiar na pior escória, para sufocar a aspiração do povo à justiça social e à restauração da histórica união dos povos irmãos da Rússia, Ucrânia e Bielorússia.
A principal característica dos discursos revolucionários do povo no sudeste da Ucrânia e sobretudo na Crimeia consiste no fato de que se endereçam contra os usurpadores do poder neofascista em Kíev, estreitamente ligados ao capital transnacional mundial, e contra o clã oligárquico do “Donetsk” que impôs a sua política e uma ditadura econômica nessa região.
O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) rechaça as tentativas de grande interferência do Ocidente nos assuntos internos da Ucrânia. Estamos convencidos de que a atual crise que levou este país à beira da guerra civil fratricida, foi provocada em particular pelos Estados Unidos e por seus aliados, que há muito tempo aspiram a afastar a Ucrânia da Rússia e anexá-la à Otan, transformando-a em uma colônia e em uma plataforma para a agressão militar contra o nosso país.
A hipocrisia do Ocidente está contida no fato de que, por um lado, separa com a violência a terra sérvia do Kosovo e Metohija através da agressão direta e da limpeza étnica. Por outro lado, cinicamente não reconhece a expressão da vontade do povo da Crimeia e de outras regiões que aspiram a unir-se à Rússia. Não se atrevendo a usar a força militar, o Ocidente busca atar as mãos das forças anti-oligárquicas, filo-russas do sudeste da Ucrânia, enviando destacamentos de “intermediários”, “emissários especiais” e outros “construtores da paz”.
O PCFR sustenta as ações das autoridades russas, apoiando as forças filo-russas do sudeste da Ucrânia e da Crimeia. Nós acreditamos que as medidas adotadas por Moscou contribuem para a defesa da população destas regiões. Contudo, fazemos notar que a política do governo da Federação Russa em relação à Ucrânia e à população que fala russo foi pouco sistemática, casual, ou se voltou unicamente voltada para o objetivo de garantir o trânsito de nosso gás para a Europa . É necessário revisar profundamente essa política. Em particular, é indispensável atribuir aos nossos laços com o povo irmão da Ucrânia um caráter mais completo. É necessário ativar a colaboração nos setores da indústria, da ciência, da cultura, da educação.
O PCFR exprime a sua solidariedade a todos os participantes na resistência popular – russos, ucranianos, pessoas de todas as nacionalidades, que se lançaram às ruas em defesa de sua cidade dos sequazes neonazistas de Bandera *. Exprimimos a nossa solidariedade aos comunistas da Ucrânia, que sofreram a violência por parte dos extremistas de Maidan. Destacamos com preocupação a crescente pressão sobre os participantes na resistência popular, sobre a população russa e de fala russa, e a violência exercida contra ela. Pedimos que cesse a arbitrariedade das autoridades ilegítimas de Kíev e a perseguição dos que defendem a amizade com a Rússia!
Estamos certos de que as forças sadias da sociedade ucraniana prevalecerão e rechaçarão os herdeiros de Bandera.
Fonte: www.marx21.it; traduzido do russo por Mauro Gemma e do italiano por José Reinaldo Carvalho
* Stepan Bandera Nasceu em 1º de janeiro de 1909, ucraniano nacionalista, de pai sacerdote da Igreja Ortodoxa e mãe filha de sacerdote da mesma religião. Foi chefe executivo regional da organização de extrema-direita Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e comandante da organização militar ucraniana Exército da Insurreição Ucraniana (UPA), que operava na clandestinidade na região da segunda República Polonesa, que ocupava grande parte do território ucraniano. O movimento que liderava era racista, propunha a instalação de um Estado ucraniano « puro », sem lugar para outras etnias. As bandeiras rubro-negras do Exército da Insurreição Ucraniana (UPA) são visíveis nas atuais manifestações transmitidas pelas emissoras de televisão. Quando os nazistas invadiram a União Soviética, foi um ativo colaboracionista. Foi naquele momento que as suas « limpezas » deram mais resultado. Estima-se que cerca de 70.000 poloneses foram exterminados, além de ter colaborado com o « desaparecimento » de cerca de 200.000 judeus.