A guerra imperialista e os movimentos revolucionários
Em artigos anteriores, abordamos a eclosão da Primeira Guerra Mundial há um século. Na continuidade da série sobre este importante episódio da história do século 20, apresentamos agora breve resenha e comentário sobre a luta social e revolucionária que a guerra imperialista ensejou.
José Reinaldo Carvalho *
As burguesias e governos dos países beligerantes submeteram toda a economia às exigências da guerra, tudo o que se produzia destinava-se “ao front”. As enormes despesas que o esforço de guerra implicava pesavam sobre os ombros das massas trabalhadoras, cuja situação se deteriorava progressivamente. Só para dar um exemplo, em 1914 o poder aquisitivo dos assalariados franceses era três vezes menor do que antes da deflagração do conflito.
A burguesia fazia uma ofensiva contra as poucas conquistas dos trabalhadores, restringia o direito de greve, violava a limitação ao trabalho infantil e às jornadas estafantes das mulheres. A jornada de trabalho se estendeu para 11 a 12 horas e o descanso semanal já não era respeitado.
« Revolução democrática de fevereiro derrubou o czar da Rússia »
Politicamente, os direitos democráticos foram vilipendiados pelo Estado de sítio, os tribunais militares, a censura e outras restrições.
Tudo agravava as contradições de classe, as massas trabalhadoras iam compreendendo que se tratava de uma guerra injusta, em nada coincidente com os seus interesses, o sangue derramado nas trincheiras era em nome das ambições imperialistas das burguesias reacionárias no poder nos impérios da época. Sobre este sangue moldava-se a nova ordem imperialista mundial.
Nesse quadro, os anos de 1915 e 1916 foram marcados pela eclosão de movimentos grevistas e mobilizações contra a fome e a própria guerra nos países beligerantes.
Na Rússia, os efeitos da guerra foram mais agudos sobre as massas trabalhadoras. A destruição econômica, a fome, a crise pela qual atravessava o regime czarista criaram condições objetivas para a eclosão do movimento revolucionário. Em fevereiro de 1917, um levante armado, num cenário de derrotas consecutivas das tropas russas no front, derruba a monarquia czarista. Era vitoriosa a revolução democrática, a partir da qual o partido bolchevique liderado por Lênin vislumbrou as condições para o combate pelo poder dos trabalhadores. O cenário apontava para a continuidade da luta anti-imperialista e a proeminência dos apelos à paz.
Em outros países, também se desenvolvia um movimento que objetivamente tinha caráter revolucionário. Na Alemanha, 300 mil trabalhadores da indústria metalúrgica a serviço da produção de artefatos bélicos entraram em greve, exigindo que cessasse a guerra. Houve levantes na frota marítima e no front da guerra soldados russos e alemães começaram a confraternizar e recusar-se a combater. Na França, a luta contra a guerra foi protagonizada pelos trabalhadores, massas populares e as tropas, com a eclosão de levantes armados nos regimentos militares. No interior do Império Austro-Húngaro a luta nacional-libertadora tomava amplas proporções.
O ano de 1917 foi marcado por grandes abalos no sistema imperialista. O mundo vivia um transe, verdadeira tragédia social, um drama humano de inimagináveis proporções. Ao mesmo tempo em que se desenhava a nova ordem imperialista, a humanidade estava no prelúdio de grandes mudanças e revoluções.
* Jornalista, Diretor do Cebrapaz, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade e editor do Vermelho.