A crise política deve ser enfrentada; o caminho é a luta
Na política, como na vida, nada é absoluto a não ser o movimento. E precisamente neste está contida a polarização como lei inexorável da luta política e social. É dos antagonismos que surgem as mudanças. A crise é o momento que precede as mudanças. Não se pode fugir nem da polarização nem das crises se se quer revolucionar a sociedade.
Por José Reinaldo Carvalho, editor do Portal Vermelho
A polarização entre o PT e o PSDB é a expressão mais saliente e nítida, no plano institucional, das contradições de fundo da sociedade brasileira. Um dos polos contém, além do PT, um largo espectro de forças, entre elas os comunistas do PCdoB, os nacionalistas do PDT, os setores patrióticos e de esquerda remanescentes do PSB, demais formações da esquerda consequente, personalidades independentes de todos os segmentos da população e a miríade de organizações que integram o movimento social, destacadamente as centrais sindicais classistas, as entidades estudantis, as organizações de trabalhadores rurais, os movimentos pela moradia, uniões juvenis e femininas.
O enfrentamento da crise por esses setores progressistas, sob a liderança da presidenta Dilma Rousseff, requer discernimento sobre quem são e o que querem os inimigos do povo brasileiro e da nação.
O PSDB e os seus aliados dentro e fora das instituições parlamentares e governos estaduais e municipais, na mídia e até entre setores corrompidos do movimento sindical, estão em plena ofensiva para assaltar o poder, pela via golpista, numa manobra antidemocrática de dimensões inauditas na vida política brasileira contemporânea. Não se trata aqui de mera luta por cotas pessoais ou regionais de poder, mas de um combate que tem na alça de mira o impedimento da realização de mudanças e reformas estruturais no país.
O PSDB e seus aliados são os inimigos principais da nação e do povo brasileiro porque atuam nas instituições políticas como instrumentos de classes e camadas sociais reacionárias da sociedade e das potências imperialistas, cujos interesses fundamentais serão golpeados caso prevaleça e vingue o projeto democrático, popular e patriótico consubstanciado no programa e nas ações dos partidos progressistas e do movimento popular. Destarte, é falso o diagnóstico de que estamos diante de uma polarização artificial, como são inócuos e mesmo funcionais a interesses antiprogressistas os apelos à conciliação entre esses polos antagônicos.
Nessa perspectiva, a crise não pode ser contornada, mas assumida com frontalidade, as ameaças que contém, confrontadas, a luta feita nos termos em que é objetivamente apresentada. É a mensagem que se depreende do discurso do ex-presidente Lula no ato em defesa da democracia e da Petrobras.
A convocação por agrupamentos reacionários de manifestações pelo impeachment não pode ser vista como o anúncio do apocalipse, mas como a mais cabal demonstração de que o lado de lá se prepara afanosamente para o confronto. O dia 15 de março não é mais do que um episódio deste embate. Apenas nos desafia a também lutarmos. “Não chores, meu filho;/ Não chores que a vida/ É luta renhida:/ Viver é lutar./ A vida é combate,/ Que os fracos abate,/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar. (Gonçalves Dias, em “Canção do Tamoio”)
Como diziam os antigos, “Si vis pacem para bellum”. O ciclo político aberto com a primeira vitória do povo em 2002 e que prossegue hoje sob a liderança da presidenta Dilma só passará à história como uma etapa progressista e virtuosa se as forças dirigentes forem capazes de canalizar os anseios e lutas do povo brasileiro. Isto requer uma estratégia bem traçada que conjugue unidade em nível mais elevado do núcleo de esquerda, a firme defesa do mandato presidencial, contra todo intento golpista, a defesa de um programa de luta pelas reformas estruturais democráticas, a mobilização do povo para a resistência e a luta e a ampliação do leque de alianças com as forças democráticas e patrióticas.
A reflexão sobre esse último aspecto leva as forças de esquerda a adotar uma posição acurada. Setores do centro que compõem a base de apoio do governo no Congresso atuam objetivamente como força de oposição, pressionando e chantageando para que se adote um programa contrário ao que foi sufragado pela maioria do povo na eleição presidencial.
Não há verdadeira frente política sem a combinação de unidade e luta entre os seus componentes. Sua razão de ser está na tomada do programa de mudanças como ponto de referência e convergência. E o bom método é sempre a luta a do povo.