Na Índia, Conselho Mundial da Paz reafirma solidariedade à Palestina
O Conselho Mundial da Paz, cujo Comitê Executivo reúne-se na Índia desde quarta-feira (26) em Goa, na Índia, realiza neste sábado (29) uma Conferência Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Socorro Gomes, presidenta do CMP e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), participa denunciando a política de massacres do regime sionista, aliado do imperialismo estadunidense, saudando também a firmeza do povo palestino na resistência e luta pela libertação.
O estabelecimento do Estado da Palestina livre e soberano é uma das principais pautas do Conselho Mundial da Paz (CMP), organização presente em mais de 100 países, agregando movimentos sociais, partidos políticos e indivíduos na luta internacional contra o imperialismo.
Quase tão antigo quanto o chamado conflito Israel-Palestina (ou seja, a criação do Estado de Israel e a postergação da criação do Estado da Palestina, em 1948), o CMP completa 65 anos dedicado à luta dos povos pela paz e pela autodeterminação. Neste sentido, a causa palestina é parte substancial do ativismo do Conselho e de seus membros.
Neste Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, 29 de novembro (instituído pela ONU em 1977 na data em que foi adotado, 30 anos antes, o Plano de Partilha da Palestina, até hoje descumprido), os representantes de cerca de 40 membros do Comitê Executivo do CMP reunidos na Índia celebram a Conferência para afirmar sua solidariedade ao povo palestino em sua luta por um Estado livre, contra a ocupação e a impunidade israelense.
A presidenta, Socorro Gomes, retomou o histórico dos massacres e da política genocida dos sucessivos regimes sionistas em Israel, que conta com a cumplicidade fundamental da maior potência militar e imperialista do planeta, os Estados Unidos. Além disso, Socorro enfatizou a luta palestina como uma causa de toda a humanidade contra a opressão, a ocupação e imperialismo.
Leia a íntegra do discurso:
Queridos amigos,
Há poucos meses, assistimos mais uma vez à escalada da violência do imperialismo sionista contra o povo palestino. Ainda no início do ano, enquanto findava mais um período infrutífero de negociações, transformadas em uma encenação para facilitar a consolidação da ocupação israelense, a grande vitória da unificação das principais correntes políticas palestinas foi respondida pelo governo criminoso de Benjamin Netanyahu com chantagens e mais ameaças.
A liderança palestina e o povo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza viram a repressão, a opressão, a expulsão e a prisão proliferarem-se aceleradamente.
Não bastasse a ofensiva militar e o aprofundamento do estado de exceção na Cisjordânia, que resultou em mais mortes e detenções arbitrárias, outro ataque brutal e criminoso foi lançado sobre a Faixa de Gaza sitiada, com 50 dias de bombardeios devastadores. Enquanto a humanidade assistiu, estarrecida e indignada, às explosões das casas, hospitais, escolas e redes de abastecimento de água e aos “eficientes” ataques com os mais novos instrumentos da morte, os drones, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, maior potência bélica do mundo, foi a público expressar seu “firme apoio ao exercício do direito de defesa de Israel (…) e às medidas militares de Israel para garantir que não haja mais disparos contra seu território”. Seu governo reforçou ainda mais a aliança através do eloquente voto negativo no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em sessão que deliberou pela criação de uma comissão de investigação das denúncias de crimes de guerra cometidos por Israel. Dos 47 membros do Conselho, o único voto contrário à investigação foi exatamente o dos Estados Unidos.
O holocausto dos palestinos, executado pelo regime de Israel, conta com o total apoio dos EUA. Durante a última ofensiva contra Gaza, Obama endossou o envio de uma verba suplementar de US$ 225 milhões para o aperfeiçoamento do sistema antimíssil Cúpula de Ferro. A cifra soma-se aos US$ 3 bilhões anuais em ajuda militar ao seu incondicional aliado, evidenciando a criminosa cumplicidade estadunidense com a matança dos palestinos.
Os números da destruição e do massacre dos palestinos ainda nos assombram, tamanha a crueldade de um dos maiores criminosos de guerra da nossa época. Os resultados, entretanto, não se limitam às 2.150 vítimas fatais – inclusive quase 600 crianças – nem à destruição completa de mais de 10 mil lares ou da infraestrutura civil básica, indispensável para a sobrevivência digna da população.
A “segurança”, este bem tão precioso que justifica, aos olhos do império, o genocídio ou a opressão de um povo inteiro por décadas a fio, é simplesmente inexistente para os palestinos. Mas a devastação física, a terceira em menos de cinco anos, deu lugar prontamente ao cinismo dos chamados “doadores internacionais”, que prometeram à Palestina a continuidade da sua prisão e ocupação em troca dos US$ 5 bilhões estimados para a reconstrução de Gaza. Países como os Estados Unidos, o grande aliado do sionismo e cúmplice de seus crimes de guerra, estão entre os que se apresentam como “benevolentes”.
A hipocrisia da política de reconstrução, ainda que acompanhada por novos e louváveis posicionamentos (como o recente reconhecimento do Estado da Palestina pela Suécia), é obviamente insustentável. Nem mesmo as estruturas da ONU escapam da devastação: escolas, clínicas e centros de distribuição de ajuda humanitária são transformados em escombros, em claras violações do direito internacional humanitário.
Estes são dados que corroboram as denúncias feitas contra o Estado de Israel pelas autoridades palestinas sobre o genocídio do seu povo. Porém, apesar dos episódios de violência intensificada como neste ano, as políticas da ocupação e dos massacres são cíclicas, numa estratégia do sionismo de “quebrar a resistência” palestina, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia e na conturbada Jerusalém. O povo palestino, porém, segue firme na sua resistência, e por isso é punido.
O criminoso governo israelense “transforma” a resistência palestina em “terrorismo” e a sua própria existência em uma “grave ameaça à segurança de Israel.” Foi assim quando os porta-vozes do governo e do exército insistiram em que as centenas de crianças chacinadas na ofensiva contra Gaza eram “escudos humanos”, e por tanto, “os palestinos são os responsáveis por suas mortes”.
Em Jerusalém, no último mês, o aprofundamento da violência e da ocupação é apresentado como “resposta” do aparato da ocupação israelense contra os palestinos rebelados. A retomada do discurso religioso para a questão é uma farsa que precisamos denunciar enfaticamente, um instrumento de mobilização dos grupos mais radicais e extremistas contra os palestinos, por sua expulsão e até pela eliminação da sua herança histórica e cultural.
O poder destruidor do sionismo vai mais além do que sua gigantesca força bélica. A ignominiosa capacidade de Israel de construir mentiras, contando com uma rede midiática agressiva, e a cumplicidade das grandes potências estão entre os mais importantes instrumentos de dominação, usados em abundância, ontem por Hitler e hoje pelos imperialistas sionistas.
É através da propaganda suja e criminosa – por ser falsa e servir à destruição de um povo e sua cultura – que os invasores se fazem de vítimas, e fazem das vítimas, agressores. O historiador judeu israelense Ilan Pappé, renomado estudioso da questão palestina-israelense, tem dedicado atenção especial aos acontecimentos de 1948, elucidando fatos da maior importância para o entendimento do chamado conflito. Pappé denuncia os grandes mitos de Israel, as sórdidas mentiras destiladas desde quando o nascente regime assassinava massivamente os palestinos, como indicado pelo Plano Dalet, que detalhava a lista de vilas palestinas a serem destruídas e os métodos a serem utilizados para a expulsão dos palestinos que ali viviam (intimidação, bombardeios, incêndios de casas, assassinatos). Por isso, atualmente, 80% das terras palestinas estão nas mãos dos sionistas.
Um dos principais mitos era que Israel era o “Davi lutando contra Golias”. Muito ao contrário da propaganda de que os judeus estavam sofrendo uma ameaça iminente de extinção, as palavras do maior representante do Estado de Israel, David Ben Gurion, são elucidativas dos objetivos reais dos sionistas: “Devemos usar o terror, assassinatos, intimidações, corte de todos os serviços sociais para expulsar da Galileia os palestinos”, afirmou o então primeiro-ministro, em maio de 1948, quando tomava posse do seu cargo.
Outro grande mito sobre o qual se fundou o movimento migratório de judeus de todo o mundo em direção à Palestina, cuja maior parte do território foi transformada no Estado de Israel, foi o de que se tratava de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, de acordo com a estratégia sustentada de negar a existência do povo palestino.
Além disso, a ignominiosa farsa da suposta “ameaça” representada pelos árabes e, em específico, pelos palestinos, é auxiliada pelos meios de comunicação das potências imperialistas, instrumentalizados por Israel. É comum vermos “analistas” de grandes veículos transmitirem o venenoso discurso segundo o qual os palestinos “não se importam” com suas crianças, que não têm amor à vida, entre outras formas para sua desumanização. A comunicação a serviço da destruição da imagem das vítimas dos sionistas é uma poderosa arma para buscar suprimir qualquer possibilidade de resistência deste povo martirizado, como demonstra o último ataque à Faixa de Gaza: castigar, enfraquecer e destruir a recém-nascida unidade entre as organizações políticas do povo palestino. O que a potência sionista quer é um povo desnaturado, despojado de sua dignidade, silenciado pelo medo, paralisado pelo terror que lhe é imposto. Uma missão impossível. Como disse uma companheira palestina, “nesta guerra genocida, os palestinos perdem a vida e Israel perde a alma!”
Estas agressões que provocam um sentimento de dor e profunda revolta nos povos do mundo inteiro são uma macabra repetição dos crimes de que foram vítimas os judeus, os ciganos, os homossexuais, os socialistas e comunistas sob o nazismo, com os mesmos falsos pretextos: de que eram terroristas e representavam ameaças.
É um martírio semelhante, imposto há mais de seis décadas pelo Estado de Israel ao povo palestino, que vive hoje com o que restou do seu território, preso no maior campo de concentração que jamais existiu, cercado por um muro de mais de 700 quilômetros na Cisjordânia e o bloqueio completo a Gaza, com militares armados de fuzis e metralhadoras noite e dia para vigiá-los.
Mesmo esta nesga de terra que restou está ocupada pelo invasor, que proíbe o povo palestino de circular em sua própria terra: as melhores estradas, tal qual na África do Sul do Apartheid, só servem aos israelenses. Como se não bastasse tanta humilhação, o Exército sionista espalhou postos de controle militar, com seus jovens e arrogantes soldados de armas em riste contra aqueles que são por eles considerados menos que humanos, separados de seus parentes por um gigantesco muro, assistindo quase impotentes à destruição de suas casas, o incêndio de seus sítios, quando não são simplesmente ocupados por colonos trazidos de qualquer parte do mundo, parte do plano de ocupação meticulosamente calculada do território palestino. As tropas de Israel destroem as redes de abastecimento, hospitais e escolas, promovendo práticas de limpeza do território, impondo terror, a expulsão, ou a matança sistemática.
O objetivo é cada vez mais cristalino: impedir, pela força bruta das armas, o estabelecimento do Estado palestino definido pela ONU ainda em 1947. Para consumar este crime contra o direito de existência plena do povo palestino, Israel construiu toda uma estratégia para impedir o avanço da organização política, administrativa e diplomática das representações palestinas. Eventos históricos recentes, de grande significado para o avanço da luta do povo palestino, como o reconhecimento pela ONU e o acordo entre a Autoridade Palestina e o Hamas foram dois momentos a partir dos quais Israel intensificou seu virulento ataque ao povo palestino.
Criando uma teia de mentiras e de mitos, como recomenda a doutrina nazista de Joseph Goebbels, o regime terrorista de Israel tem buscado transformar um povo agredido, usurpado no sagrado direito a seu território, à sua nação plena e soberana, em “terrorista”.
O Estado de Israel, uma das poucas potências militares do planeta, com suas 200 ogivas nucleares, bombas de fragmentação, drones, mísseis e tanques, enfim, com os mais modernos e eficazes instrumentos de destruição e morte – contando ainda com o apoio incondicional da maior potência bélica do planeta, os Estados Unidos –, através de seu poder midiático e com a cumplicidade de seus próceres, cinicamente tenta se passar por ameaçado por um povo sem armas, sem exército, sem recursos, vivendo em verdadeiros campos de concentração, sem direito às mínimas condições de vida digna, vítima de uma política genocida e que tem como única arma, além de alguns estilingues e foguetes artesanais, sua própria existência martirizada.
Esta sim, grandiosa, heroica, obstinada em sua resistência, que só pelo fato de insistir em existir é um libelo acusatório contra o regime que lhe suprime os meios de sobrevivência digna, que dia após dia impõe-lhes, do amanhecer ao anoitecer, o terror e a humilhação, prisões e torturas no que sobrou da rapinagem de suas terras através da colonização militar, além da subordinação aos ocupantes que afirmam aos quatro cantos do mundo que a simples existência do Estado da Palestina ameaça a segurança desta potência racista.
Mas a resistência dos palestinos, densa de sofrimentos e revolta contra o invasor, é a “ameaça”, segundo os sionistas. Seus mantenedores e beneficiários, o imperialismo estadunidense, fazem tábula rasa da Carta das Nações Unidas, do direito de resistência do povo ocupado contra o invasor. Em uníssono, os sionistas e os EUA vociferam que a paz depende dos palestinos, que devem se desarmar. A humanidade não pode aceitar mais esta farsa. O sionismo exige, como condição para a paz, não o que determina a ONU, a criação do Estado palestino na sua plenitude, mas a aberração de um não-Estado, cercado militarmente, manietado e impotente.
O atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu agradece o apoio fiel dos EUA ao seu governo e à chamada “política de segurança”, outro mito construído para mascarar a ocupação expansiva da Palestina e a opressão do povo que resiste naquela terra. Essa dissimulação da segregação é assentada sobre a negação essencial da condição de “ocupação militar”, que, se admitida, evidenciaria os crimes de guerra cometidos pela “Potência Ocupante”, Israel.
Inúmeras resoluções emitidas todos os anos por cinco órgãos principais da ONU desde a década de 1940 são deliberadamente violadas por Israel. Exemplos são a 181, da Assembleia Geral, que estabelecia um Plano de Partilha que já garantia para a criação do Estado de Israel 53% do território, restando 47% para o Estado da Palestina, com uma população duas vezes maior que a hebraica; a 194, de 1948, que pretendia finalizar a guerra entre Israel e vizinhos árabes e reconhecia o direito das centenas de milhares de refugiados ao retorno às suas casas e terras, ou à compensação pelo que foi destruído, entre as mais de 400 vilas devastadas; e as resoluções 237 e 242, de 1967, que exigiam a retirada israelense dos territórios sobre os quais avançou na ocupação durante a Guerra dos Seis Dias e afirmavam o direito dos novos refugiados ao retorno. Estes são apenas alguns exemplos flagrantes e específicos das graves violações israelenses que sustentam a ocupação da Palestina, com a cumplicidade ativa dos Estados Unidos que, enquanto membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas com poder de veto, barrou dezenas de resoluções que condenariam Israel.
Companheiros e amigos, nós do Conselho Mundial da Paz temos a consciência de que a força capaz de deter a máquina israelense do Apartheid é a resultante da indignação e revolta dos povos, da consciência humanista dos que não se curvam ao império da força bruta e do terror. É a força da resistência do povo palestino que, na sua dor infinita, reforça sua dignidade, sua valentia e determinação de não se deixar subjugar, de fazer valer seu direito sagrado à luta em defesa de seu território. “Não, mil vezes não!”, têm dito os palestinos: Israel não pode continuar suprimindo o direito à vida de um povo e continuar impune.
É preciso que as pessoas que acreditam e têm compromisso com a paz e com uma ordem mundial sob o primado da justiça, da igualdade e do respeito entre povos e nações, intensifiquem ações para fazer valer as resoluções da ONU acerca do Estado do povo palestino e sobre as fronteiras entre os dois Estados, assim como as denúncias de crimes de guerra cometidos por Israel, sempre acobertados pelos Estados Unidos.
Não podemos aceitar o cínico argumento de que a existência do Estado da Palestina ameace sua segurança, numa afronta à nossa inteligência. O que querem os sionistas é um povo desarmado, indefeso e inexistente no cenário internacional, presa de sua política de limpeza étnica.
A sustentação que lhes garantem os EUA obedece à lógica da sua própria busca por controle e hegemonia na região, faz parte da estratégia de “reformatação do Oriente Médio”, na qual o papel de Israel já de há muito está definido como seu esbirro e em troca da proteção imperialista, fornecendo mão de obra para as escabrosas operações na guerra suja contra governos e países soberanos a serem atacados, saqueados e destruídos. Os fortes liames que ligam estas duas potências no ataque aos palestinos têm deixado cada dia mais claro quão significativo é o patrocínio dos Estados Unidos às ações de Israel contra os direitos e a vida do povo palestino.
A destruição e a morte servem para controlar países ricos em fontes energéticas, nomeadamente petróleo e gás, e dominar esta região de ligação entre três continentes. Ao fim e ao cabo, o império estadunidense e o sionista só poderiam ter esta relação simbiótica, ambos comprometidos com um objetivo que colide frontalmente com os interesses da humanidade, buscando eliminar qualquer resistência ao saque e à dominação.
As manifestações de solidariedade ao povo palestino e à criação de seu Estado soberano ocorrendo nos mais diversos países são uma demonstração inequívoca da condenação dos povos contra a política de limpeza étnica e de apartheid levada a cabo por Israel.
Neste sentido, cresce a convicção da imperante necessidade de aprofundarmos as denúncias e a luta pelo rompimento dos acordos militares com o Estado de Israel. Nações e povos compromissados com uma nova ordem mundial de respeito à soberania e autodeterminação dos povos devem cessar todo e qualquer acordo que fortaleça de qualquer forma Estados que têm como principal razão de ser a agressão militar e a destruição de um povo com fins de conquista.
O Conselho Mundial da Paz reafirma a irrestrita solidariedade ao povo palestino e à grande causa pela qual luta heroicamente – a proclamação do seu Estado nacional independente e soberano.
A resolução da questão Israel-Palestina e a libertação do povo palestino é uma luta de toda humanidade!
Abaixo o sionismo!
Abaixo o imperialismo!
Viva o povo palestino!
Viva a Solidariedade entre os Povos!