Movimento Comunista
Festa do Avante!: Um encontro que une luta, debate e alegria
O grande e efusivo comício que encerrou a Festa do Avante!, neste domingo (4), refletiu os três dias do evento da amizade, na unidade de milhares de pessoas em torno dos valores da justiça, da emancipação social e nacional, da luta pela liberdade e da resistência à opressão. A Festa, realizada pelo jornal do Partido Comunista Português (PCP), o “Avante!”, completou 40 anos e recebeu as delegações de diversos países. O PCdoB, que teve um espaço cultural e de divulgação política, foi representado pelo secretário de Política e Relações Internacionais, José Reinaldo Carvalho, e por Moara Crivelente, membro da Comissão de Relações Internacionais da mesma Secretaria.
Com uma rica programação de debates sobre a política mundial e os mais recentes tópicos do cenário da crise do capitalismo, do colonialismo, do imperialismo, das guerras e das lutas por emancipação nacional, assim como sobre a situação doméstica portuguesa, o festival foi também profundamente cultural e de uma contagiante alegria. Ainda não há estimativas publicadas sobre este ano, mas membros da organização comentaram que mais de 200 mil pessoas participaram na edição passada.
A Festa do Avante! é integralmente construída pelos militantes portugueses, num trabalho árduo para realizar um evento ímpar no amplo espaço do PCP à beira-rio, que tem vista para Lisboa e abriga, entre outras estruturas, a escola de formação do Partido. Além dos vários pontos culturais e políticos para representar diversas regiões do país com sua gastronomia e sua música, o evento ofereceu um rico Espaço Internacional, onde o PCdoB e vários outros partidos e movimentos de libertação nacional representaram-se, ao lado do Espaço da Solidariedade. Este, por sua vez, foi promovido pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) com várias atividades.
Mesas diversas debateram as questões domésticas e europeias com parlamentares do PCP e de outros partidos de esquerda, as questões da solidariedade internacional e a luta pela paz, as guerras imperialistas no Oriente Médio e a contraofensiva conservadora na América Latina.
O Brasil recebeu constantemente a solidariedade dos portugueses e das demais delegações no evento em nossa luta contra o golpe reacionário. A demonstração foi contundente e a consciência das características do processo golpista no país, que já era significativa, ficou reforçada em um debate e em um ato político no sábado (3).
José Reinaldo Carvalho, que representou o PCdoB em ambos os eventos, também abordou a questão na reunião entre os partidos, encabeçada pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, no domingo (4), onde novamente manifestações de solidariedade e apoio à luta pela democracia foram dedicadas ao povo brasileiro.
Conjuntura portuguesa e o PCP
Em distintas ocasiões os participantes do evento puderam ouvir dos camaradas portugueses, com destaque para os discursos do secretário-geral Jerónimo de Sousa, suas perspectivas para Portugal e a Europa. O PCP tem afirmado a sua independência política no quadro das disputas domésticas e regionais, embora tenha atuado pela aprovação do governo minoritário do Partido Socialista (PS) após as eleições parlamentares de 2015. A ruptura com um legado de agressões contra os trabalhadores e o povo português, aprofundado pelo anterior governo de direita, foi o principal objetivo daquele momento, de acordo com o líder comunista.
No discurso de abertura da Festa, na sexta-feira (2), Jerónimo de Sousa falou da questão nacional e criticou a falta de rompimento, por parte do PS, com as constrições externas. O secretário-geral referia-se às pressões da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, a chamada troika. “O futuro de Portugal exige a ruptura com as imposições e chantagens que visam perpetuar a submissão, a exploração, o endividamento e o empobrecimento”, disse o dirigente.
A opção faz-se, continuou, “entre continuar o arrastado caminho que nos tem conduzido ao empobrecimento ou um novo rumo com outra política, em ruptura com a política de direita e de submissão à União Europeia e ao Euro”. Jerónimo de Sousa abordou o que o PCP tem criticado como um “pacto de agressão” assinado em 2011 entre os governos anteriores e a troika, que impôs ao país um programa de arrocho para supostamente fazer frente à crise econômica. Os comunistas portugueses têm enfatizado a defesa incansável de uma “política patriótica e de esquerda”, que vise rechaçar a submissão nacional, conforme reafirmou o secretário-geral no comício de domingo.
No sábado, o deputado pelo PCP, João Oliveira, o membro da Comissão Política, Jorge Cordeiro, e o membro do Secretariado do Comitê Central do PCP, Pedro Guerreiro – responsável pelas Relações Internacionais – discutiram a “nova fase da vida política nacional e a luta pela alternativa patriótica e de esquerda”, num debate moderado por Margarida Botelho, também membro da Comissão Política do Partido. A participação do PCP no Parlamento e seu posicionamento em relação ao governo foram os principais pontos do debate, que enfatizou os resultados da luta mantendo as convicções dos comunistas enquanto se busca responder às necessidades mais imediatas do povo.
Prestes a debaterem e a votarem o Orçamento de Estado para 2017, em setembro e dezembro, os comunistas portugueses avaliam o “compromisso de repor direitos e rendimentos” por parte do governo e de “inverter o curso para o desastre econômico e social que vinha sendo imposto”. Este é o objetivo imediato, garantiu Jerónimo de Sousa, um compromisso com os trabalhadores e com o povo, mas que não significa “um cheque em branco” para o governo do PS. O dirigente também falou de questões centrais como a defesa dos bancos e serviços públicos, o investimento na educação, a jornada de trabalho, a reposição e aumento dos salários, a criação de empregos, entre outras, afirmando a disposição dos comunistas para seguir lutando pela reversão do arrocho e pela conquista progressiva de direitos.
Sobre a Festa, Jerónimo de Sousa enfatizou o papel fundamental da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) – representada no comício por Vasco Marques, neste ano – e da militância que fez o evento possível, assim como a presença de centenas de milhares de pessoas e das delegações internacionais. “E porque também celebramos os 40 anos da Constituição da República que haveria de consagrar e projetar os valores de Abril, a ‘Festa do Avante!’, que só é o que é porque em Portugal houve uma revolução libertadora, então celebramos também a Constituição de Abril, lutando pela sua defesa e efetivação,” concluiu, em referência à Revolução dos Cravos, ou Revolução de Abril, de 1974.
Conjuntura internacional e latino-americana
Ao todo, 30 partidos ou movimentos de libertação nacional estiveram representados no Espaço Internacional da Festa, onde puderam divulgar suas lutas políticas e parte da sua cultura. O programa do local foi de avaliação da conjuntura mundial e regional, inclusive no Palco da Solidariedade, em que grupos artísticos também se apresentaram. Atos e expressões de solidariedade afirmavam apoio às lutas da Palestina e do Saara Ocidental contra as ocupações militares por parte de Israel e do Marrocos, com destaque inclusive para a situação dos prisioneiros políticos, e condenavam a ingerência imperialista na Síria, com uma guerra que já se arrasta há cinco anos, entre outros.
Em diversas ocasiões, as características reacionárias e de aliança com o império estadunidense do golpe no Brasil e o que se tenta fazer avançar na Venezuela foram denunciadas. Os colombianos, por sua vez, puderam demonstrar sua esperança com a assinatura dos acordos de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), enquanto nicaraguenses e peruanos também abordaram as situações dos seus países no contexto regional.
No sábado, a mesa “Povos da América Latina Não se Rendem!” foi composta por Pedro Guerreiro, do PCP; José Reinaldo, representando o PCdoB; Marcos Suzarte, do PC do Chile; Ruth Tapia Roa, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (Nicarágua); e pelo representante do PC da Colômbia. O representante do PC de Cuba não conseguiu comparecer.
No mesmo dia, um ato de solidariedade com a luta do Brasil trouxe novamente o PCdoB, representado por José Reinaldo, Romênio Pereira, da Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), e representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Coletivo Andorinha de brasileiros em Lisboa, além de camaradas portugueses. A afirmação da resistência e a exigência pela saída de Michel Temer da Presidência da República foram os pontos principais.
Também se debateu a crise do capitalismo, o ressurgir do fascismo e a luta pela emancipação dos povos e trabalhadores, com Albano Nunes (PCP), Mluleki Dlelanga, do PC da África do Sul, Anatolii Kryvolapov, do PC da Ucrânia, e Raul Sinha, do PC da Índia (Marxista). Mais tarde, o debate centrou-se na militarização do planeta e na afirmação de luta contra as guerras e pela paz, com Jorge Cadima (PCP), Ilda Figueiredo (PCP), Yuri Ermelyanov, do PC da Federação Russa, Firas Marsi, do PC Libanês, e Navid Shomali, do Partido do Povo do Irã – Tudeh. À noite, debateu-se a luta da juventude na frente anti-imperialista com Duarte Alves (JCP), Paulo Raimundo (PCP) e Nikolas Papademetriou, da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD).
No dia seguinte, os debates focaram na luta contra o acordo de Parceria de Investimento e Comércio Transatlântico (TTIP) entre a União Europeia e os Estados Unidos, com ênfase para a defesa da soberania e dos direitos dos povos, conduzidos por membros do PCP e representantes sindicais. Os oitenta anos da Guerra Civil da Espanha e o referendo do Reino Unido por sua saída da UE foram os temas dos outros debates conduzidos no dia.
Em reunião com os Partidos Comunistas e movimentos de libertação nacional, no domingo, o secretário-geral do PCP voltou a enfatizar a solidariedade do seu partido para com as lutas nacionais das delegações presentes. Jerónimo de Sousa mencionou alguns dos temas em que os diversos partidos estão engajados, abordou brevemente a situação do Brasil e afirmou o caráter internacionalista e a disposição solidária do seu Partido. Depois disso, os representantes das delegações estrangeiras puderam fazer perguntas ou se manifestar a respeito da situação doméstica portuguesa, da região europeia, da internacional ou a de seus próprios países, como fez José Reinaldo e diversos outros camaradas.
O secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB voltou a garantir que o povo brasileiro está disposto a lutar, contando com a solidariedade internacional afirmada diversas vezes no Festival, e enfatizou a disposição do Brasil e dos comunistas para a unidade e o apoio às lutas por emancipação popular e soberania nacional em todo o mundo. Na grande Festa da amizade e da solidariedade, a inspiração era constante para a luta aguerrida, de valores de justiça e fraternidade, na defesa da paz e da libertação.
Por Moara Crivelente, de Portugal para o Resistência