Opinião
Expectativas de uma viagem à China
O dirigente comunista José Reinaldo Carvalho foca seu olhar no desenvolvimento, na modernização socialista e na projeção internacional da China
Por José Reinaldo Carvalho (*) – No momento em que este artigo for publicado, levantarei voo para realizar mais uma missão na República Popular da China, nesta ocasião para participar do 14º Fórum sobre o Socialismo no Mundo, uma atividade que reúne anualmente, sob os auspícios da Academia Chinesa de Ciências Sociais, dirigentes políticos, de organizações sociais e pensadores que se dedicam ao estudo e à difusão das ideias socialistas no mundo.
A viagem é uma oportunidade para conhecer de perto o impacto das decisões tomadas no mês de julho pela 3ª Sessão Plenária do 20º Comitê Central do Partido Comunista da China, organização de vanguarda que dirige a sociedade chinesa. A China ingressa neste momento histórico em uma fase crucial de seu impetuoso desenvolvimento, sob a orientação do Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas na Nova Era. Em contato com quadros dirigentes, membros de base do Partido, funcionários de instituições acadêmicas e governamentais e trabalhadores em geral, poderemos medir o alcance daquelas decisões nas subjetividades das pessoas, observar o ritmo do avanço do povo chinês na busca da realização do sonho de revitalização nacional.
A 3ª Sessão Plenária, desdobrou as deliberações do 20º Congresso e lançou bases para o próximo conclave dos comunistas chineses, em 2027, ratificou as metas de construção de um país socialista moderno, poderoso, desenvolvido econômica e socialmente, culto, civilizado e democrático. Com a audácia de sempre, a direção chinesa fixou para 2035 uma série de metas ligadas ao desenvolvimento econômico e social.
A China ocupa cada vez mais o noticiário nacional e internacional, geralmente com informações truncadas e unilaterais ou sob a ótica de um pragmatismo interesseiro em busca apenas de oportunidades de negócios. Sem subestimar a importância disto, por dever de ofício viajo com a atenção voltada para o impacto político e ideológico que as diretrizes e resoluções do Partido poderão ter na sociedade chinesa e em todo o mundo. Como participante do Fórum que reúne pessoas calejadas no enfrentamento dos desafios da luta de ideias, minha mirada se direciona para o processo de adaptação do marxismo-leninismo à realidade nacional e à época atual. Afinal, este é um dos “segredos” das vitórias desse partido centenário. Desde os anos 1920, com Mao Tsetung, o Partido Comunista se empenhou na “chinificação” do marxismo-leninismo, ateve-se aos princípios contornando sempre os perigos do dogmatismo. Hoje, o Pensamento de Xi Jinping sobre a Construção do Socialismo com Peculiaridades Chinesas na Nova Era, elevado à categoria de ideologia e base teórica do Partido, que incorpora o pensamento dos líderes das anteriores gerações, é a expressão desse esforço de adaptação às novas realidades.
Num mundo que passa por transformações vertiginosas, jamais vistas em um longo período histórico, em que confluem perigos e oportunidades, possibilidades de novas alianças para a paz em meio a lancinantes contradições e conflitos cruentos, é uma oportunidade a não perder de tomar contato com o pensamento vigente no país que objetiva e subjetivamente está mudando a correlação de forças mundial e propiciando a superação da velha ordem.
Será imperioso observar com tantos detalhes quanto seja possível a dimensão do que está sendo chamado de modernização socialista e como se aplicam no contexto chinês conceitos como inovação, sustentabilidade, reforma e abertura.
Tema essencial a prestar atenção é a base teórica da Reforma: “Devemos seguir o marxismo-leninismo, o pensamento de Mao Zedong, a teoria de Deng Xiaoping, o importante pensamento da tríplice representatividade e o conceito científico de desenvolvimento e implementar plenamente o pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para a nova era, bem como estudar e implementar de maneira profunda uma série de novas ideias, visões e conclusões do secretário-geral Xi Jinping sobre o aprofundamento integral da reforma. É preciso exercitar fiel, precisa e plenamente a nova filosofia de desenvolvimento e aderir à tônica fundamental de buscar o progresso baseado na estabilidade. Devemos persistir em emancipar a mente, buscar a verdade nos fatos, avançar com os tempos e aplicar abordagens realistas e pragmáticas, libertar e desenvolver ainda mais as forças produtivas sociais e estimular e aumentar a vitalidade social” – afirma o documento aprovado na 3ª Sessão Plenária do Comitê Central.
O que isto diz aos que lutam pelo socialismo no mundo? É uma questão instigante, um tema desafiador. Este destaque é importante porque há estudiosos no Ocidente que consideram a modernização chinesa como algo alheio ao socialismo. Teorizam que a China está criando uma nova formação social “nem capitalista nem socialista”, sob a égide do pensamento desenvolvimentista brasileiro e latino-americano dos anos 1950, à margem da teoria marxista e do pensamento que rege a construção do socialismo com características chinesas na nova era.
A Reforma acarretou significativos êxitos econômicos à China e é um dos principais fatores que levaram o país ao impetuoso desenvolvimento que vive. Essas reformas são essenciais para enfrentar os desafios internos e externos que o país enfrenta, garantindo que o crescimento econômico seja sustentável, inclusivo e de alta qualidade. A reforma não é apenas uma necessidade, mas uma força motriz que impulsiona a modernização do país, tornando-o mais resiliente, inovador e competitivo no cenário global. Vou buscar informações e interpretações sobre tal fenômeno e aquilatar o efeito que tem sobre o desenvolvimento nacional, agora categorizado como desenvolvimento de alta qualidade, equilibrado e harmonioso, que prioriza a promoção do bem-estar do povo.
Por fim, na escala de interesses de fenômenos a observar, será necessário que o visitante dedique a máxima atenção às questões globais, às relações internacionais baseada na paz, no desenvolvimento, na cooperação e ganhos mútuos, que implicam o enfrentamento ao isolacionismo, ao hegemonismo, a defesa do multilateralismo genuíno e da democratização das relações internacionais.
É necessário observar o grau em que a China está reformulando sua política externa para refletir sua crescente influência global e seu compromisso com um desenvolvimento compartilhado e sustentável. De acordo com a 3ª Sessão Plenária do 20º Comitê Central, a diplomacia chinesa, guiada pelos princípios de independência, autonomia e paz, busca promover o multilateralismo genuíno, a paz mundial e o progresso comum para toda a humanidade e o trabalho de relações exteriores sustenta firmemente a política externa independente e de paz. Creio ser do interesse dos estudiosos e do público conhecer até que ponto esta formulação terá impacto na comunidade internacional, incluindo os partidos políticos progressistas e o movimento comunista.
“O mundo está passando por mudanças não vistas em um século. Esta é uma era de grandes desenvolvimentos e de grandes transformações. Para manter o multilateralismo no século 21, devemos promover as suas boas tradições, abrir novas perspectivas e voltar-nos ao futuro, aferrando-nos aos valores essenciais e aos princípios fundamentais do multilateralismo e, ao mesmo tempo, adaptando-nos às mudanças da situação internacional, de modo a responder aos desafios globais à medida que eles surgem”, disse o Presidente Xi Jinping.
Nesse contexto, vou buscar informações mais detalhadas sobre a Iniciativa de Segurança Global (ISG), a Comunidade de Futuro Compartilhado e outras projeções da modernização chinesa no mundo.
(*) Jornalista, escritor, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde coordena o setor de Solidariedade e Paz, e presidente do Cebrapaz