Opinião
EUA e seus parceiros da Otan vivem impasses ante os avanços russos na Ucrânia
Para reverter a situação, os Estados Unidos e a Otan teriam que entrar diretamente na guerra, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho (*)
A Rússia está a olhos vistos, cumprindo os objetivos que se propôs com a operação militar na Ucrânia. No último domingo (3), a província de Lugansk caiu inteiramente sob seu controle. Agora intensifica-se o empenho pela conquista de Donetsk, completando a libertação do Donbass, a região oriental fortemente industrial da Ucrânia habitada por população de origem russa, vítima de massacres continuados por parte do governo ucraniano e das milícias nazi-fascistas desde o golpe de Estado de 2014, apoiado pelos Estados Unidos e a União Europeia.
Parece irreversível que a “missão se cumpra”, contrariando os prognósticos de comentaristas da mídia empresarial, os planos das potências imperialistas e as bravatas do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
O avanço da Rússia leva as potências ocidentais a um impasse. Ou aceitam a nova realidade geopolítica no Leste Europeu e as condições russas para a negociação de um cessar-fogo, ou escalam o conflito, acarretando perigos adicionais de que este, momentaneamente limitado no aspecto militar, se transforme em uma guerra mundial. Esta última opção está contida em pronunciamentos de autoridades dos Estados Unidos, a partir de seu presidente. Biden garantiu que não permitirá que a Rússia derrote a Ucrânia. Seus dois principais emissários de política externa e guerra, Anthony Blinken, secretário de Estado, e Lloyd Austin, chefe do Pentágono, já tinham dito que a “mentalidade” de seu governo é de “ajudar Zelensky a vencer”.
Como a verdade está nos fatos, a Casa Branca terá que lidar com a realidade de que a Ucrânia não está mostrando sinais de vitória e seu território está encolhendo. Não é razoável supor que, mesmo com toda a ajuda militar bilionária enviada por Washington e seus parceiros da Otan, a Ucrânia seja capaz de reverter a situação. Está mais do que provado que o país não reúne as mínimas condições para o combate, não tem logística capaz de transportar essas armas e munições em seu território nem expertise para utilizá-las.
Para reverter a situação, os Estados Unidos e a Otan teriam que entrar diretamente na guerra, principalmente considerando que para a Rússia, com muito maior razão, esta é uma guerra que não pode perder, o que a levará a lançar mão de todos os recursos para “cumprir a missão”.
O “front” externo também se afigura complicado para os EUA. Tudo indica que os limites para a internacionalização das ações das potências ocidentais não irão além dos do eixo União Europeia-Otan. É uma ilusão americana tentar envolver outros países e blocos relevantes no conflito russo-ucraniano, como a diplomacia estadunidense está fazendo ao forçar que na reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20, nesta quinta (7) e sexta-feira, na ilha de Bali, na Indonésia, as maiores economias do mundo adotem uma postura de confronto com a Rússia e seu principal parceiro, a China. Trata-se de uma antecipação da Cúpula do grupo que se realizará, também na Indonésia, em novembro vindouro.
O principal problema para a realização deste plano americano é que o G20, com todos os seus defeitos e contradições, não é um clube das potências imperialistas ocidentais. O G20 representa também potências emergentes que buscam soluções para desafios como turbulência econômica e crise alimentar, e não estão dispostas a se envolver em confrontações geopolíticas.
Ressalte-se ainda que Sergei Lavrov e Wang Yi, respectivamente, chanceleres da Rússia e China, estão presentes em Bali e não permitirão que a reunião dos ministros do exterior se transforme em uma plataforma de luta contra a China e a Rússia. Em reunião bilateral nesta quinta-feira, mantida à margem do encontro do G20, os dois ministros das Relações Exteriores reafirmaram sua parceria estratégica e a disposição para impedir a concretização dos planos dos EUA contra seus países. Conforme disse Lavrov, a Rússia e a China estão ampliando a cooperação estratégica enquanto os EUA tentam conter ambos os países.
“Ante uma linha estratégica dos Estados Unidos e seus satélites para a contenção dupla do desenvolvimento de nossas nações, nós continuamos aumentando os volumes [da parceria] e ampliando a cobertura da cooperação prática”, disse o chefe da diplomacia russa. Lavrov ressaltou também que as reservas internas das relações sino-russas têm um enorme potencial, e os dois países seguirão elaborando novos formatos de interação independentemente de fatores externos negativos.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, secretário-geral do Cebrapaz