Opinião
EUA e Otan promovem escalada de tensões com ameaça de atacar a Rússia
O dirigente comunista José Reinaldo Carvalho analisa os episódios recentes da guerra na Ucrânia e as perspectivas de solução política
Por José Reinaldo Carvalho (*) – Desde o início da guerra na Ucrânia, o conflito com a Rússia tem-se intensificado, surgindo intermitentemente sinais de crescentes tensões geopolíticas que colocam o mundo à beira de uma perigosa escalada bélica.
Nos últimos meses, novos acontecimentos têm agravado ainda mais a situação, trazendo à tona discussões sobre o uso de armamentos de longo alcance fornecidos pelas potências imperialistas ocidentais à Ucrânia contra o território russo, o que gera fortes reações por parte do Kremlin.
Os Estados Unidos e demais países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm defendido que os mísseis de longo alcance, como o sistema HIMARS e mísseis de cruzeiro, poderiam permitir que a Ucrânia atingisse alvos estratégicos em profundidade no território russo, minando a capacidade de logística e comando militar desse país. Nesta quinta-feira (30), Joe Biden autorizou o uso das armas fornecidas à Ucrânia em ataques contra a Rússia. Essa estratégia corresponde a uma visão dos países inimigos da Rússia de que é preciso a todo o custo fortalecer a capacidade ofensiva ucraniana para reverter as suas derrotas militares e as perdas territoriais.
Por óbvio, a Rússia reage com veemência e tende a reagir com maior força. O presidente Vladimir Putin afirmou que o uso desses mísseis contra a Rússia poderia levar a uma guerra de amplas proporções. Putin enfatizou que tal escalada poderia resultar em retaliações severas, deixando nas entrelinhas que poderia contra-atacar com armas nucleares táticas.
Soa como algo realmente alarmante a possibilidade de uma guerra direta da Otan contra a Rússia, de consequências catastróficas não só para a Europa, como para todo o mundo.
Apelos por Negociações de Paz
Enquanto a retórica agressiva se intensifica, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, tem reiterado a necessidade de negociações de paz. Lavrov advertiu que, para as negociações serem eficazes, é necessário que o fluxo de armas ocidentais para a Ucrânia seja interrompido. Segundo Lavrov, o contínuo envio de armamentos apenas prolonga o conflito e dificulta a busca por uma solução diplomática. Ele argumenta que uma trégua seria necessária para criar um ambiente propício ao diálogo, mas a exigência de parar o fornecimento de armas é vista pelas potências imperialistas ocidentais como uma tentativa de enfraquecer ainda mais a já combalida capacidade militar da Ucrânia. Segundo a mentalidade belicista dos maiorais da Otan, o caminho para a paz seria aumentar as condições para a guerra, porque é disso que se trata quando os meios de ação dos países da aliança atlântica é fornecer mais e mais armas, incitar a Ucrânia a atacar a Federação Russa e considerar a hipótese de um ou mais países da Otan se envolverem diretamente em uma guerra contra a Rússia.
A busca por negociações de paz é complexa e enfrenta inúmeros desafios. A Ucrânia, que age fundamentalmente como instrumento das potências ocidentais para executar a estratégia de longo prazo cujo objetivo é cercar militarmente, fragilizar, dividir e derrotar a Rússia, finca pé na ideia de que não pode negociar com o “agressor” que “violou sua integridade territorial”. Partindo dessa posição, a Ucrânia condiciona as negociações de paz à retirada completa das tropas russas de seu território, incluindo a Crimeia, exigências a esta altura dos acontecimentos inegociáveis do ponto de vista russo. A Rússia postula que se tome em consideração o fato consumado de que doravante a Crimeia e as quatro regiões ocupadas desde fevereiro de 2022 são de facto e de jure russas, além de exigir que a Ucrânia jamais volte a ser utilizada pelos países imperialistas ocidentais como instrumento para vulnerar sua segurança.
Num esforço para promover a paz, líderes globais como o presidente chinês Xi Jinping e Vladimir Putin, juntamente com diplomatas de destaque como Wang Yi e o brasileiro Celso Amorim, propuseram a organização de uma conferência internacional de paz. Segundo essa proposta, a conferência seria realizada desde que houvesse acordo prévio tanto da Ucrânia quanto da Rússia e incluiria a participação de países relevantes do sistema internacional e organismos multilaterais, com o objetivo de mediar um acordo duradouro.
A proposta de uma conferência internacional de paz, apoiada pela China e pelo Brasil, reflete uma tentativa de trazer uma abordagem multilateral para a resolução do conflito. A China, que mantém uma relação próxima com a Rússia, tem interesse em estabilizar a região e evitar uma escalada que poderia comprometer a paz mundial. O Brasil, por sua vez, busca afirmar seu papel como mediador em conflitos internacionais e promover uma solução pacífica consoante os princípios da Constituição e da orientação do presidente Lula para a política externa de seu governo.
A proposta para uma conferência internacional de paz tem potencial para resultar em uma saída diplomática para o conflito. Somente a intransigência das potências imperialistas, cujos principais sinais ainda são mais propícios ao confronto com a Rússia, poderia obstaculizar a empreitada. É nessa posição intransigente que residem as mais sérias ameaças à paz no atual momento.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Polítics Nacional do Partido Comunista do Brasil e presidente do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz