Crise na Catalunha

Esquerda Unida espanhola reafirma luta por República federal e critica linhas de Rajoy e líder catalão

03/10/2017
Alberto Garzón, dirigente da Esquerda Unida espanhola

O coordenador federal da Esquerda Unida (IU, na sigla em castelhano), Alberto Garzón, qualificou nesta segunda-feira (2) de “insustentáveis” os “caminhos unilaterais” que Mariano Rajoy e Carles Puigdemont continuam mantendo depois da trágica jornada de mobilizações deste domingo (1º/10) na Catalunha.

Frente a este imobilismo sem diálogo entre as partes enfrentadas, Garzón opinou com mais força do que nunca que “a Espanha necessita de um novo modelo de Estado, uma República federal como marco e caminho natural para abordar a crise econômica, social e de Estado que atravessamos”.

Garzón lançou esta mensagem na coletiva à imprensa logo após a reunião realizada nesta segunda-feira da direção da IU no marco da Comissão Colegiada, convocada desde a semana passada para fazer uma análise tranquila e mais profunda da situação política que se abre depois dos acontecimentos do último domingo na Catalunha. “A República é paz – assegurou – e o marco mais adequado para a convivência, que agora é mais necessária do que nunca. Necessitamos sem dúvida de uma República federal como parte da solução, enquanto que o governo de Mariano Rajoy continua sendo parte do problema. Esta é nossa conclusão”.

O dirigente da IU criticou com contundência a “duríssima e intolerável repressão através das forças de segurança executada no domingo na Catalunha por ordem do governo de Rajoy. Com ela, este governo não fez mais do que demonstrar sua incapacidade política” para enfrentar este problema, “o que nos deixa em uma situação mais complicada que antes”.
“Os problemas políticos não podem ser solucionados a golpes”, destacou, ao tempo que lamentou profundamente que o ocorrido no domingo “deixa uma sequela de divisão na sociedade”.

Alberto Garzón considerou um “erro maiúsculo” a forma de enfrentar este problema político por parte do Executivo do PP (Partido Popular, de direita, no poder na Espanha). “O fato de que se mobilizem cerca de dois milhões e meio de pessoas não pode ser encarado de outra forma que não passe por ver o fenômeno social que isto implica, e aí não cabem os golpes”.

Reforçou sua opinião recordando que “80% dos catalães querem votar em um referendo” e, entre eles, “a metade dos votantes do PP” se manifestaram da mesma forma, pelo que estamos “diante de um fenômeno transversal que vai mais além do que a própria independência”.

Insistiu em que “é absurdo tratar de resolver este problema a golpes”, já que “não se pode deixar um problema político em mãos de juízes, policiais e guardas civis”. Garzón, como fez no próprio domingo, exigiu a “demissão de Mariano Rajoy, porque está claro que deve haver responsabilidades” pelo ocorrido, sentenciando ao mesmo tempo que o que o governo de Rajoy conseguiu foi “avivar tensões entre as próprias famílias e exacerbar o nacionalismo”.

Interrogado pelos jornalistas sobre a resposta do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez frente a tudo o que ocorreu, manifestou sua “decepção”, já que “não é o momento de pedir a Rajoy que lidere nada, mas de exigir que se demita. O PSOE deve afastar-se do bloco reacionário formado pelo PP e Cidadãos, e ajudar a construir uma alternativa democrática”.

Diante da pergunda se considera que os socialistas estão dentro desse bloco reacionário, Alberto Garzón assinalou que o partido liderado por Pedro Sánchez demonstra “que não tem uma opinião clara” sobre o que aconteceu. Ressaltou que desde antes não fez nenhuma crítica e se pôs a serviço de Mariano Rajoy. Esperamos que agora se ponha a serviço da paz e do diálogo. Agora está mais próximo do bloco reacionário que uma semana antes. Teve baixo perfil, quando o que se necessita é de nitidez na resposta. Os problemas políticos requerem soluções políticas”.

O coordenador federal da IU mostrou a absoluta oposição desta formação política a secundar uma possível declaração unilateral de independência da Catalunha. “Não compartilhamos saídas unilaterais, que só pioram a situação. A posição de Puigdemont e Rajoy é insustentável”, afirmou, ao tempo em que recordou que os cargos públicos que representam esta formação na Catalunha votaram contra a denominada Lei de Transitoriedade impulsionada pelos independentistas.

Resistência, com IU

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