A Colômbia precisa que pare a guerra, não o diálogo

21/11/2014

O processo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e o governo do país passa por séria turbulência, a rigor um impasse, no momento em que completa dois anos.

Por José Reinaldo Carvalho, editor do Portal Vermelho

Foi precisamente em novembro de 2012 que, num gesto revelador de sabedoria, as duas partes decidiram iniciar os diálogos de paz em Havana, Cuba. 

O que motivou a suspensão das conversações foi a captura, pelas forças insurretas, do general Ruben Dario Alzate, comandante de uma Força Tarefa do exército colombiano, o oficial Jorge Contreras e a advogada a serviço da força militar, Glória Urrego. O governo do presidente Juan Manuel Santos, numa dura reação, fixou a posição de só retornar aos diálogos com a libertação dos sequestrados. 

Imediatamente após a captura do general e seus auxiliares, as Farc emitiram um comunicado oficial reiterando a necessidade do cessar-fogo bilateral e permanente e o compromisso de respeitar a vida e a integridade dos prisioneiros.


O nefasto episódio ocorreu num quadro em que, transcorridos dois anos de diálogos de paz, nunca foi decretado um cessar-fogo bilateral e permanente. É um contrassenso manter uma situação de confrontação militar aberta, com mortes dos dois lados e outras consequências para a população, ao mesmo tempo em que as representações da guerrilha e do governo dialogam na busca de um entendimento sobre como alcançar a paz e pôr fim ao conflito de mais de 50 anos que dilacera o país.

As convicções renovadas em tantos episódios positivos nos últimos dois anos em torno da necessidade da paz certamente prevalecerão e as partes encontrarão mediante o entendimento, os meios e modos de solucionar os problemas gerados pela detenção de Alzate, Contreras e Urrego. Já se chegou a um consenso maduro na Colômbia e decerto em toda a América Latina de que é a guerra que tem de ser suspensa, na verdade terminada, e não os diálogos de paz. 

Em dois anos de diálogos de paz, os entendimentos avançaram muito. Um retrocesso nesta altura é impensável e inadmissível. Já foram firmados acordos parciais sobre a reforma agrária, a participação política das Farc-EP e a elaboração de uma política sobre as drogas ilícitas. No momento em que os diálogos foram suspensos, as partes beligerantes desenvolviam conversações sobre os direitos das vítimas da guerra.

O povo colombiano, os partidos e movimentos de esquerda e representativos dos interesses nacionais e populares têm a expectativa de que o impasse se resolva o quanto antes, sentimento que percorre os partidos progressistas e movimentos sociais em toda a América Latina. A paz justa e democrática na Colômbia é fundamental para este país e simultaneamente cria um ambiente ainda mais favorável para o desenvolvimento da luta democrática em toda a região.

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