Manlio Dinucci: A solução para Gaza
A onda de violência impune contra a população de Gaza exacerba os apetites das diferentes facções israelenses. O vice-presidente do parlamento israelense e rival de Netanyahu no seio do Likud, Moshe Feiglin, propõe expulsar de uma vez toda a população de Gaza (1,5 milhões de pessoas), território que o «Estado judeu» anexaria de imediato.
Segundo Ahmed Abul Gheit, ex-ministro egípcio de Relações Exteriores, os Estados Unidos organizaram em 2011 a queda de Hosni Mubarak precisamente porque este último se opunha ao pedido de Washington de deslocar a população de Gaza para o Sinai.
«Moshe Feiglin, ideólogo do eventual plano estratégico para a colonização sionista de Gaza»
À sombra do secretário de Estado John Kerry, o secretário geral da ONU Ban Ki-moon, altamente grato ante o «compromisso dinâmico» do chefe da diplomacia norte-americana, está buscando em Jerusalém a maneira de «pôr fim à crise de Gaza». Mas Ban Ki-moon parece ignorar que existe alguém que já encontrou essa solução. O vice-presidente do parlamento de Israel, Moshe Feiglin, apresentou, efetivamente, um plano para «uma solução em Gaza».
Esse plano compõe-se de 7 fases:
1) O ultimato, imposto à «população inimiga» intimada a abandonar as áreas onde se encontram os combatentes do Hamas «se trasladando para o Sinai, não longe de Gaza».
2) O ataque, desencadeado pelas forças armadas de Israel «em toda Gaza com o máximo de força (e não com uma parte minúscula dessa força)» contra todos os objetivos militares e a infraestrutura «sem consideração alguma pelos escudos humanos e danos ao meio».
3) O assédio, simultâneo com o ataque, para que «nada possa entrar em Gaza nem sair de Gaza».
4) A defesa, para «atingir com plena força e sem consideração pelos escudos humanos» qualquer local de onde parta um ataque contra Israel ou contra suas forças armadas.
5) A conquista, empreendida pelas forças armadas israelenses, que «acabarão com todos os inimigos armados em Gaza» e «tratarão conforme o direito internacional a população inimiga que não cometer crimes e que se tenha separado dos terroristas armados, [população] que será autorizada a abandonar Gaza».
7) A soberania, sobre Gaza, «que se converterá para sempre em parte de Israel e será povoada por judeus», contribuindo assim para «aliviar a crise de alojamento em Israel». Aos habitantes árabes, quem «segundo as sondagens em sua maioria querem abandonar Gaza», ser-lhes-á oferecida «uma generosa ajuda para a emigração internacional», ajuda que no entanto se concederá somente a «aqueles que não estiverem envolvidos em atividades anti-israelenses». Os árabes que optarem por ficar em Gaza receberão uma permissão de estadia em Israel e, após verdadeiro número de anos, «os que aceitarem a dominação, as regras e o modo de vida do Estado judaico em sua própria terra» poderão ser convertidos em cidadãos israelenses.
Esse plano não sai da mente de um simples fanático e sim do cérebro de um político que está obtendo um crescente consenso em Israel. Moshe Feiglin é o chefe de Manhigut Yehudit (em português, «Liderança judaica»), a facção maior no seio do Comitê Central do Likud, ou seja o partido no poder.
Em 2012, durante a eleição da direção do Likud, Moshe Feiglin fez campanha contra Benyamin Netanyahu e obteve 23% dos votos. Sua ascensão foi contínua desde aquele momento, tanto que em julho de 2014 agregou a seu cargo de vice-presidente do parlamento israelense o de membro da influente Comissão de Negócios Estrangeiros e de Defesa.
Se analisarmos o plano que Feiglin está promovendo ativamente, tanto em Israel como no estrangeiro (principalmente nos Estados Unidos e Canadá), pode ser comprovado que a atual operação contra a Faixa de Gaza inclui quase integralmente as 4 primeiras das 7 fases previstas.
Visto dessa perspectiva, percebe-se que o verdadeiro objetivo da retirada dos colonos israelenses da região de Gaza «em 2005» não era outro que deixar o campo livre às forças armadas de Israel para a posterior realização da operação «Chumbo fundido» em 2008/2009.
Também se percebe que a atual operação «Margem Protetora» não é uma simples resposta a uma ação anterior mas, tal como as operações anteriores, uma parte de um plano preciso, apoiado ao menos por uma parte consistente do Likud e tendente a ocupar de maneira permanente a Faixa de Gaza e a colonizá-la, expulsando dali a população palestina. E Feiglin seguramente já tem pronto também o plano para «uma solução na Cisjordânia».
Fonte: Rede Voltaire. Traduzido pelo Diário Liberdade