É difícil reverter a nova política dos EUA para Cuba, diz acadêmica
Nos próximos 18 meses, período em que Obama conclui seu mandato, devem ser geradas ações políticas, econômicas, diplomáticas e na opinião pública que impediriam que um novo presidente reverta o que já se avançou até aqui nas relações com Cuba, assegurou nesta quarta-feira (20) Julia Sweig, acadêmica estadunidense especialista em temas cubanos da Escola de Relações Públicas Lyndon B. Johnson, em Austin, Texas.
Em declarações à imprensa cubana que acompanha a terceira rodada de conversações em Washington, a especialista em estudos latino-americanos e ex- integrante do influente Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations), reconheceu que está otimista ante o futuro das relações entre Cuba e os Estados Unidos.
Mesmo admitindo que “nosso sistema político está um pouco estancado quanto à produção de novas leis e a polarização entre o Partido Democrata e o Republicano seja muito aguda agora”, disse que “há um apoio público dentro dos próprios estados cujos representantes são republicanos para uma mudança com Cuba. É questão de tempo que o Congresso aprove leis relacionadas com a abertura para Cuba”.
Contudo, se chegar à Casa Branca Marco Rubio ou Ted Cruz, “não tenho a menor dúvida de que tentarão desfazer o que Obama fez. Mas a base econômica e política do Partido Republicano quer outra cosa”, afirmou.
Sobre as competências do presidente Barack Obama para avançar no levantamento do bloqueio, a especialista assegurou que “a autoridade executiva tem muito mais espaço legal, regulatório, para fazer coisas”.
Sweig acrescentou “há uma linha entre o político e o legal. A Casa Blanca determinou que chegou ao limite quanto ao uso da autoridade política executiva, mas na medida em que o momento político consolide êxitos bilaterais, diplomáticos e econômicos, (estas prerrogativas do Executivo) irão ampliando-se”.
Cúpula no Panamá
Sweig, autora de um livro emblemático sobre o Movimento 26 de Julho encabeçado pelo líder cubano Fidel Castro – Inside the Cuban Revolution -, considerou que, embora as intervenções dos presidentes latino-americanos na Cúpula do Panamá tenham sido “um pouco agudas” em relação aos Estados Unidos, “Obama teve uma recepção muito positiva”.
A acadêmica considera que a partir do diálogo entre os presidentes de Cuba, Raúl Castro, e dos Estados Unidos, “Obama começou a reconstruir sua relação com a América Latina”, ao situar a Ilha em um espaço que não é o da confrontação.
Para ela, este é um elemento geopolítico regional muito importante que levou aos anúncios de 17 de dezembro, onde pesam também outras questões. “Por exemplo, ele está preocupado com qual será o seu legado”.
Quanto à política externa, poderá contar quando concluir seu mandato com outros êxitos, mas “creio que quando entrarmos (no futuro) no Museu e na Biblioteca presidencial de Obama, o que veremos é que Cuba será uma das primeiras cinco iniciativas mais exitosas de seu mandato”.
Considerando este legado frente à opinião pública dos Estados Unidos, Cuba representa uma oportunidade para Obama, assegurou Sweig.
No plano interno, a opinião pública mudou não só em todo o país, mas também na Flórida. Embora as vozes mais fortes nesse estado continuem opostas à mudança, “o que vemos na prática são as relações orgânicas, de família, econômicas, sociais, que estão deslocando as velhas ideologias que antes dominavam”.
Sweig deu como exemplo a campanha do ex-governador Charlie Crist, que se candidatou novamente pelo Partido Democrata no ano passado: “parte de sua campanha era defender uma nova política para Cuba, e chegou a ganhar o voto cubano da Flórida”, recordou.
A tudo isso se soma o problema que parecia insolúvel de Alan Gross e dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos. “Obama chegou a entender que havia precedentes, tanto bilaterais como internacionais, para buscar um acordo que solucionasse o problema dos presos”.
Terminar a política de mudança de regime
Sweig reconheceu que é necessário “aumentar a sensibilidade aqui em Washington com o tema do uso da linguagem”, em relação à retórica frequente nos discursos oficiais, que falam de manter a mesma estratégia política para Cuba, mas mudar as ferramentas para destruir a Revolução. “Isso tem que acabar”, enfatizou.
Julia Sweig disse que “os passos de Obama representam um reconhecimento ao governo revolucionário de Cuba”. Acrescentou que o ambiente diplomático mudou, mas “a cultura política ainda não reflete isso”.
Segundo ela, deixar para trás os programas de mudança de regime que o governo estadunidense manteve durante décadas seria um sinal “importante” de que a política para Cuba mudou.
Fonte: Cubadebate; tradução do Blog da Resistência