Os dois palanques da polarização política no Brasil
Os dois principais palanques das comemorações do 1º de Maio no Brasil são o reflexo da polarização política real da sociedade brasileira hoje. O mesmo pode dizer-se das mensagens transmitidas pelas principais lideranças, a começar pela presidenta Dilma Rousseff.
A mandatária reafirmou, por meio de vídeos difundidos nas redes sociais e em páginas da Presidência da República na internet, que está «do lado do interesse dos trabalhadores e trabalhadoras deste País». Destacou as conquistas dos trabalhadores nos últimos 13 anos, nomeadamente a valorização do salário mínimo, «uma das maiores conquistas desse período». Dilma defendeu os trabalhadores terceirizados e combateu a generalização do trabalho terceirizado às atividades-fim. Reiterando o caráter democrático do seu governo, a mandatária condenou os que tratam as manifestações dos trabalhadores com violência e repressão, em clara alusão ao governador do Paraná Beto Richa (PSDB), cuja polícia estadual reprimiu violentamente manifestação dos professores grevistas.
O Brasil necessita mais do que nunca da unidade entre as forças progressistas para lutar pela governabilidade e pelas mudanças estruturais que vão transformá-lo num país democrático, avançado, próspero e socialmente justo. Isto, entretanto, não se confunde com união nacional, conciliação entre forças antípodas, nem cedência às pressões e chantagens do inimigo, como as manifestações do 1º de Maio deixaram bem claro.
No palanque da Força Sindical reuniu-se a frente das forças conservadoras, de direita, neoliberais e entreguistas, representadas pelos mais diferentes tipos, entre eles um deputado ex-sindicalista que, não tendo o que dizer, tomou a palavra para enxovalhar e ofender a honra da principal mandatária do país. A mensagem que deixaram foi a do golpe, do retrocesso das conquistas democráticas e sociais e o aviso de que estão arregimentando forças para tentar derrubar o governo. Na cúpula deste agrupamento – que ninguém se engane – situa-se o PSDB, tendo à frente seu presidente e candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, Aécio Neves. Como é próprio em momentos como o que o país está vivendo, emerge também a figura soturna, ameaçadora e provocadora do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, arauto do reacionarismo e patrocinador de uma pauta de retrocessos em toda a linha a partir do poder de mando que detém no Legislativo.
Do lado de cá da trincheira, num empenho de aglutinação, acumulação de forças e formação de convicções, reuniram-se os partidos de esquerda, as centrais sindicais combativas e classistas e demais organizações do movimento social, sob a liderança de Lula, que deu o recado fundamental. “Vou desafiar aqueles que não se conformaram com o resultado da democracia” (…) Eles têm que saber que se tentarem derrubar a Dilma vão mexer com milhões de brasileiros trabalhadores”, disse o ex-presidente, que reafirmou não só seu engajamento na luta pela governabilidade como expressou a convicção de que até o final de seu mandato Dilma obterá êxitos na realização do programa democrático e de progresso social.
A polarização observada neste 1º de Maio é reveladora do nível do embate político no país, que precisa ser enfrentado com organização, consciência e unidade por parte dos partidos de esquerda e entidades do movimento popular.