Maduro chama o povo à defesa política e militar da pátria

11/03/2015

O presidente venezuelano Nicolás Maduro fez nesta terça-feira (10) um chamamento ao povo venezuelano para que responda ao que considera a maior ameaça que já se abateu contra a nação. Ele pede para o povo enfrentar as constantes pretensões intervencionistas dos Estados Unidos “com a união de toda a pátria, com a unidade nacional, cerrando fileiras como um só punho de homens e mulheres que querem a paz e a independência”.

Esta unidade nacional deve ir “mais além das diferenças ideológicas e políticas”, disse o mandatário em rede nacional de rádio e televisão transmitida desde o plenário da Assembleia Nacional, onde solicitou a aprovação de um decreto legislativo para proteger a paz e a estabilidade da Venezuela perante as ameaças imperialistas.

«Esta é a terra de Simon Bolívar, esta é a terra sagrada que não pode ser tocada jamais por botas estrangeiras, imperialistas, e devemos garantir isto com nossa própria vida se for necessário. A Venezuela é sagrada e se respeita!”, disse Maduro, que fez um chamamento para nacionalizar a política do país, resolver os problemas internos e romper as amarras com Washington, a fim de proteger a soberania nacional.

Com a finalidade de preparar o povo venezuelano diante de qualquer ação contra o país, o presidente conclamou à abertura de um debate nacional sobre a história pátria que permita impulsionar a defesa da soberania e a independência da nação, assim como convocou todos os venezuelanos a participarem em um exercício militar defensivo que se realizará no próximo sábado em todo o território nacional.

Igualmente, o presidente ordenou os revolucionários que sob qualquer circunstância defendam a via eleitoral. “Se ocorrerem grandes acontecimentos que comovam a pátria, estando eu vivo ou não, a ordem é que – mesmo com chuvas, relâmpagos e trovoadas – haverá eleições parlamentares este ano, queira o império ou não”, sentenciou.

Por outro lado, exortou os deputados da Assembleia Nacional a emitir um comunicado de todas as forças políticas sobre três pontos fundamentais: rechaçar a lei de ameaça à Venezuela aprovada pelos Estados Unidos, solicitar ao presidente Barack Obama para que revogue este instrumento legal, e exigir que Washington não se imiscua nos assuntos internos do país.

Decreto anti-imperialista

Maduro expressou que o decreto emitido na segunda-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que declara a Venezuela como uma “ameaça extraordinária e incomum à segurança nacional e à política exterior estadunidense”, não se trata somente de um grupo de funcionários punidos, ação de per si detestável. “É mais do que isso, porque nenhum governo do mundo pode emitir uma lei e pretender que essa lei seja cumprida nos demais países”.

“Não se trata de sanções a sete pessoas, trata-se de que os Estados Unidos fizeram a declaração mais grave contra a Venezuela e é uma declaração injusta, injustificada, nefasta, ameaçadora, perigosa”, explicou Maduro. Acrescentou que esta nova arremetida faz com que os povos da América Latina e do Caribe incrementem sua consciência.

Diante disso, o chefe de Estado expressou que aqueles que pretendem apossar-se das riquezas do país e querem ajoelhar o povo venezuelano não poderão nunca com a pátria do Libertador Simon Bolívar, pois “vamos ganhar esta batalha venezuelana, latino-americana e caribenha, pela defesa de nossa independência e de nossa paz”.

Nicolás Maduro pede ao povo para enfrentar as constantes pretensões intervencionistas dos Estados Unidos

“Jamais nos ajoelharemos diante desse império que agride e ameaça a Venezuela”, afirmou o chefe de Estado e assinalou que a solicitação da aprovação do decreto legislativo anti-imperialista é para que lhe dê “poderes suficientes para defender a paz, a soberania e o desenvolvimento íntegro da Venezuela diante da ameaça do império dos Estados Unidos”, que inclui até um possível bloqueio econômico.

“Nossa nação tem força para defender-se, para que esta pátria não seja tocada por ninguém”, para o que deve estar preparada “porque a Venezuela não é, nem pode ser jamais a Líbia, nem o Iraque (países invadidos pelos Estados Unidos). A Venezuela é a Venezuela, território de paz, e devemos preservá-lo assim”.

História de golpes e ingerência

Em seu discurso, Maduro reiterou o compromisso de luta para derrotar cada um dos ataques dirigidos à soberania venezuelana por parte do governo estadunidense. “Com minha alma de revolucionário lhes juro: não poderão com a Venezuela, seja por ameaças ou agressões, nem de nenhuma forma poderão com a pátria de Bolívar e eu cumprirei meu juramento, à custa de minha própria vida, se for necessário dá-la”, expressou.

Maduro assinalou que os Estados Unidos buscam frear um povo que representa um caminho democrático, revolucionário e anti-imperialista desde os tempos de Simon Bolívar, que “com sua capacidade e inteligência marcou seu momento histórico sem nenhum tipo de vacilação”.

Bolívar, recordou Maduro, advertiu em 1822 através de um escrito para o não reconhecimento pelos Estados Unidos da independência das nações latino-americanas e do Caribe. “Está à cabeça do grande continente americano uma poderosíssima nação muito rica, muito belicosa e capaz de tudo”, disse o Libertador, cujo texto Maduro leu em sua alocução, assinalando que esta advertência “foi um dos primeiros alertas” diante das pretensões do país norte-americano.

Portanto, “os conflitos de hoje (e as pretensões imperiais dos Estados Unidos) não são senão uma manifestação de uma história que marca os tempos desde há 200 anos”, pois “quem dirigiu o império estadunidense sempre considerou a independência do sul como uma ameaça a seu apetite imperial de apoderar-se de nossas terras”, expressou Maduro.

Essas pretensões contra a soberania nacional foram constatadas em episódio como os golpes de Estado contra Cipriano Castro, em 1908; o derrocamento de Isaías Medina Angarita, (1941-1946), e o golpe contra Rômulo Gallegos, em 1948, todos com participação de estadunidenses.

Maduro explicou ainda que países da América Latina e do Caribe, durante todo o século 20, sofreram miséria, pobreza e atraso sob o assédio e a ingerência norte-americana, tal como se evidenciou no Haiti, na República Dominicana, no Brasil e no Chile.

Respaldo regional

O presidente venezuelano comentou que desde esta segunda-feira teve a oportunidade de falar com vários presidentes da região, que em primeiro lugar mostraram um sentimento de incredulidade em relação ao decreto emitido por Barack Obama.

“Ninguém pode crer que a Venezuela seja uma ameaça contra os Estados Unidos, e não podem crer porque é falso, é mentira. A Venezuela não é nem será jamais uma ameaça nem aos Estados Unidos nem a nenhum país do mundo porque somos um povo pacifista, humanista, que tem uma política internacional em busca do entendimento e a integração dos povos do mundo”, sublinhou o mandatário.

Maduro comentou também que, além da incredulidade, os outros chefes de Estados da região e de outros países do mundo, demonstraram sua indignação e rechaço pelo decreto imperialista de Obama, repúdio ao qual se somaram “importantes setores de opinião dos Estados Unidos: intelectuais, dirigentes sindicais, congressistas, afrodescendentes, irmãos hispanos e latino-americanos, movimentos sociais e comunidades que de maneira crescente começam a expressar sua opinião de rechaço e a fazer um chamamento pela paz”.

Compartilhe:

Leia também