Lula: Quero paz e democracia e eles querem guerra, eu sei lutar também
O ato em defesa da Petrobras, organizado por movimentos sociais e a Federação Única dos Petroleiros (FUP), ocorreu nesta terça-feira (24), no auditório da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. Contou com a presença de lideranças sindicais, de juventude e intelectuais que falaram sobre as tentativas de golpear a estatal e criminalizar sua história. Os discursos condenaram as ações da grande mídia na instrumentalização política das denúncias de corrupção na petroleira.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participou do evento e mandou recado à grande mídia conservadora: «Quero dizer à imprensa que cheguei duas vezes à Presidência sem ela. A imprensa só tem um papel que é de informar corretamente», afirmou. Segundo ele, a imprensa realiza um pré-julgamento dos acusados. “Li a biografia do Getúlio e tento imaginar o que acontece no Brasil neste momento. É o que aconteceu com Juscelino, Jango, Getúlio e comigo em 2005″, lembrou.
“Eles continuam fazendo hoje o que sempre fizeram. A ideia é criminalizar antes de ser julgado. Você tem que ser criminalizado pela imprensa. Se eu conto uma inverdade muitas vezes ela vira verdade”, afirmou.
Lula disse que está pronto para ir para as ruas «defender a Petrobras, defender a reforma política e a democracia». Segundo ele, «começamos uma luta e essa luta vai demorar».
Durante o ato, Lula opiniou que a presidenta Dilma tem que governar o país e que se deve reconhecer essa vitória democrática nas urnas. «Nossa companheira Dilma tem que deixar a Petrobras para a Petrobras, as investigações para o ministro da Justiça. A Dilma tem que lembrar que ganhou a eleição, levantar a cabeça e cuidar do país. Ela não pode dar trela. Nós ganhamos as eleições e parece que temos vergonha de ter ganhado», afirmou. «Vamos defender a Petrobras, que significa defender a democracia», disse.
Ex-presidente voltou a criticar a cobertura da mídia sobre as investigações na estatal. “Honestidade não é mérito, é obrigação.Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também”, disse Lula.
Lula comparou o atual momento político com o período de tentativas de golpe vivido pelo Brasil há 50 anos. «Percebo que eles continuam fazendo hoje o que sempre fizeram antes. A ideia básica é criminalizar antes, tornar bandido antes, antes de ser investigado e julgado. É criminalizado pela imprensa e começa o processo pela sentença. A tal da teoria do domínio do fato, eu não tenho que saber se você cometeu um crime, mas se você é o chefe, então você cometeu. É um pressuposto», afirmou. «No caso da Petrobras, se parte do pressuposto de que tem que acabar com a Petrobras e criminalizar a política», disse.
O ex-presidente fez uma comparação com o que vem ocorrendo no mundo hoje e destacou ainda o receio da elite brasileira de perder o seu posto . «Acabamos de ver a famosa Primavera Árabe, ver o ex-presidente do Egito ser derrubado, depois eleger alguém, depois derrubar e agora os militares estão lá. Sabemos o que aconteceu na Líbia. O Iraque está afundado em violência. E estamos vendo no Brasil a criminalização da ascensão social de uma camada da população brasileira. A elite não se conforma com a ascensão dos mais pobres», afirmou.
Em seu discurso, Lula também defendeu a política de conteúdo nacional e o modelo de partilha, e ainda ressaltou que pelo número de corruptos na estatal não podemos generalizar e dizer que todos são criminosos. «Tenho orgulho de ter participado do centro de estudos da Petrobras», afirmou.
«Tenho orgulho da maior capitalização da Petrobras, que se tornou uma das empresas mais importantes do mundo. Que vergonha eu posso ter se no meio de uma família de 86 mil pessoas uma comete um erro? Não podemos jogar a Petrobras fora por causa de meia dúzia ou de 50 pessoas», observou.
«Sou filho de uma mulher analfabeta. De um pai analfabeto. E o mais importante legado que minha mãe deixou foi o direito de eu andar de cabeça erguida, e ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país».
Lula falou ainda sobre o momento de luta política: “Honestidade não é mérito, é obrigação. Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também”, disse Lula.
Apoio dos movimentos
Em seu discurso, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, justificou a realização do evento e falou também sobre o papel que a imprensa tem exercido atualmente em relação à situação da Petrobras.
“Não pensem que essa campanha é para evitar que se a Petrobras seja vendida a preço de banana ou um ato isolado contra a direita golpista. É um ato contra uma mídia que não aceita o resultado das urnas”, disse.
“Precisamos de uma reforma democratica nos meios de comunicação. O que a mídia faz é oposição aos trabalhadores. A direita não suporta o povo brasileiro, o Lula, a Dilma, a CUT…”
“Dia 13, todos às ruas para defender a Petrobras e contra manipulação da opinião pública para desmanchar a Petrobras e contra o golpe”, lembrou.
A campanha em defesa da estatal prosseguirá, com atividades por todo o país. Uma grande manifestação popular já está agendada para o dia 13 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo.
O líder nacional do Movimento Sem Terra, João Pedro Stedile, garantiu que “marchará” junto com os petroleiros em defesa da Petrobras. E convocou Lula para as manifestações. “Lula, venha para as ruas, venha para as caravanas e marcharemos contigo. Marcharemos com os petroleiros para o que der e vier, pois o que está em jogo é a riqueza do petroleo e do gás”. Stedile lembrou ainda da importância de uma mudança no sistema político no Brasil. “A corrupção brasileira só será resolvida com uma Reforma Política”, destacou.
Para a presidenta da UNE, Virginia Barros (Vic) as riquezas do petróleo são dos estudantes brasileiros e não podem virar alvo de disputa eleitoral. “O movimento estudantil conquistou com muita luta essa vitória [que garante 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação] que nos fará avançar no desenvolvimento de um país mais soberano. O Pré-Sal deve ser prioridade nos próximos anos até mesmo para garantir as metas do Plano Nacional de Educação de 10% do PIB para a educação”, afirmou. Vic finalizou com a frase: “Defender a Petrobras é defender o povo brasileiro. Viva a Petrobras!”
O coordenador geral da FUP, José Maria Rangel falou dos pontos positivos da estatal como os recordes na produção. “Tudo isso só está sendo possível em função dos investimentos e da competência da Petrobrás. Nos últimos 12 anos, os governos Lula e Dilma fortaleceram a estatal para que ela cumprisse o seu papel de empresa pública, gerando empregos e renda para milhares de brasileiros”, ressaltou.
Operação Lava Jato
O jurista Wadih Damous, da OAB-RJ, fez duras críticas à condução dos processos decorrentes da Operação Lava Jato e falou das ações do juiz Sergio Moro. Ao compará-lo ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, Damous citou a necessidade de defesa da Petrobras.
“Não podemos aceitar que o seu sucessor [de Joaquim Barbosa], nas glórias dos holofotes, em nome do combate à corrupção afronte os direitos conquistados pelo povo brasileiro. Esse história de delação premiada funciona como chantagem ou tortura, é troca subalterna. É medo e intimidação.”, afirmou.
“O que ocorre desde o mensalão é a presunção de culpa, ou seja, antes que seja provado todos são culpados. A defesa da Petrobras passa pela defesa do Estado Democrático de Direito”, completou.
O ato foi organizado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) em conjunto com as centrais sindicais CUT, CTB, UGT, além do MST, da UNE, da Ubes, da UEE-RJ, entre outras entidades.