Anti-imperialismo
Encontros internacionais em Guantánamo denunciam: Imperialismo coloca humanidade em risco
Nos dias 04, 05 e 06 de maio dois eventos anti-imperialistas aconteceram em Cuba, na província de Guantánamo: o 7º Seminário Internacional pela Paz e pela Abolição das Bases Militares Estrangeiras e a Reunião Regional América-Caribe do Conselho Mundial da Paz (CMP). Na foto acima, Fernando González Llort faz a saudação inicial do Seminário.
O 7º Seminário atraiu à Guantánamo 84 ativistas de 25 países (Argentina, Alemanha, Barbados, Brasil, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha, Filipinas, Grécia, Guiana, México, Reino Unido, Porto Rico, Palestina, Síria, Serra Leoa, Suécia, Suíça, Venezuela e Noruega).
Miguel Díaz-Canel saúda Seminário
Uma saudação fraterna e agradecida de Miguel Díaz-Canel, primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC) e presidente da República, foi lida no primeiro dia de trabalho.
Ángel Arzuaga Reyes, subchefe e coordenador do departamento de Relações Internacionais do Comitê Central do PCC, transmitiu a mensagem aos delegados. No texto, Díaz-Canel agradeceu a solidariedade dos participantes e ratificou o compromisso inabalável de Cuba com a luta pela paz, uma das três principais tarefas aprovadas pelo oitavo congresso do PCC (realizado em abril de 2021), juntamente com o desenvolvimento da economia nacional e a batalha pela firmeza ideológica.
“Ser culto é a única forma de ser livre”, frase no muro da praça José Martí, na localidade de Caimanera, em Guantánamo
A entidade anfitriã, que em conjunto com o CMP organizou o Seminário, foi o Instituto Cubano de Amizade aos Povos (ICAP), presidido por Fernando González Llort, um dos cinco heróis cubanos (1). Em sua intervenção de saudação inicial, Fernando González alertou para o perigo de uma conflagração nuclear mundial, fruto da escalada de provocações do imperialismo, que resultou no atual conflito na Ucrânia, onde, segundo o dirigente cubano, “existe a possibilidade real de que um erro político ou militar conduza a uma guerra nuclear com consequências irreversíveis para a humanidade”.
O herói cubano ressaltou a importância, para a revolução cubana, da solidariedade internacional e apelou para sua continuidade e fortalecimento:
“(…) convoco uma vez mais a intensificar a solidariedade com Cuba e com todas as causas justas dos povos, a defender o direito soberano que nos assiste de decidir nosso próprio destino e a defender a cada vez mais ameaçada paz mundial, porque com isso, também estaremos defendendo o futuro de todos. Os convido a seguir nos acompanhando nesta árdua e justa luta de mais de 60 anos de resistência e criatividade, com avanços e contribuições importantes para a humanidade, fortalecendo a ação contra o bloqueio, contra as campanhas midiáticas de tergiversação da nossa realidade e pela devolução do território cubano ilegalmente ocupado em Guantánamo”.
Em seguida, ocupou a tribuna a presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes. Em sua intervenção (2), Socorro fez uma vigorosa denúncia do imperialismo e da generalização das bases militares:
“Em 2004, os Estados Unidos tinham 766 (setecentos e sessenta e seis) instalações militares em todo o mundo – incluindo bases e outros tipos – segundo seu próprio Departamento de Defesa, embora especialistas digam que é difícil ser mais preciso sobre essas instalações devido à falta de transparência. Hoje, das cerca de mil bases militares estrangeiras espalhadas pelo mundo, sabe-se que mais de 750 (setecentos e cinquenta) em 80 (oitenta) países são dos Estados Unidos, e que o número deve ser ainda maior devido à opacidade das informações. Os países com mais instalações militares dos EUA são a Alemanha e o Japão, com mais de 100 cada”.
O vice-presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Wevergton Brito Lima, também discursou no período inaugural dos trabalhos, abordando o tema: “Os desafios à paz no mundo e na América Latina” (3), e somou sua voz à condenação das bases militares estrangeiras:
“As bases militares estrangeiras são a expressão concreta do modo de dominação imperialista e neocolonial. Estamos próximos de um dos exemplos mais infames: a base de Guantánamo, iniciativa usurpadora e criminosa dos EUA, usada por estes falsos ‘campeões dos direitos humanos’, como centro de tortura. Contra as bases militares estrangeiras devem se levantar todos os patriotas, democratas e internacionalistas”.
Guantánamo: Uma história de infâmia
Um dos oradores do Seminário, o historiador José Sánches Guerra, destacou a pérfida história da Base Naval de Guantánamo, que ocupa 117,6 km2 de território cubano desde 1898, quando começou a ser construída. A base foi inaugurada em 1903 e serviu de ponto de partida para diversas agressões imperialistas e neocoloniais como a invasão de Porto Rico (até hoje ocupada) e Granada. Envolta em uma atmosfera de preconceito e agressividade, uma música cantada pelos marinheiros americanos (4), que fez muito sucesso nos EUA na década de 1940, revela bem como o imperialismo encara os povos que oprime. A música tem uma letra que descreve as mulheres de Guantánamo como prostitutas e termina com a promessa dos estadunidenses de explodir “esta maldita Baía de Guantánamo”.
Sánches Guerra mencionou ainda que este estado de putrefação moral de um país é relatado de forma surpreendente pelo major general do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, Smedley Butler. Butler, até o momento de sua morte era o “marine” mais condecorado da história dos EUA. Tendo participado de ações militares nas Filipinas, China, na América Central e Caribe e na Primeira Guerra Mundial. Até o final de sua carreira, recebeu 16 medalhas, cinco por heroísmo. Na década de 1930, o militar escreveu em um livro de memórias que durante toda sua carreira não passou de um “guarda-costas da alta classe, para os homens de negócios, para Wall Street e para os banqueiros” e cita os diversos países nos quais atuou e quais interesses estavam por trás de cada ação militar (5).
Declaração final lida em praça pública
Ao final dos dois dias de trabalho, foi aprovada uma “Declaração Final” (6), lida na presença dos moradores da localidade de Caimanera, em Guantánamo, ponto mais próximo do território ocupado pela base estadunidense.
Da praça José Martí, foi lida a declaração, da qual destacamos o seguinte trecho: “as organizações pacifistas, progressistas, anti-imperialistas, antimilitaristas, anti-ingerencistas reiteram a condenação da intervenção nos assuntos internos das nações, o rearranjo imperial do planeta sob os desígnios do imperialismo e da OTAN, o militarismo que põe em perigo a espécie humana e nos coloca às portas de um novo confronto global. Da mesma forma, expressamos nossa solidariedade ao povo cubano que continua seu grande esforço para alcançar uma sociedade socialista mais justa, próspera, democrática e sustentável; bem como transmitimos uma fraterna saudação e reconhecimento ao povo de Guantánamo, às suas autoridades pela calorosa acolhida e pelas facilidades oferecidas para a realização bem-sucedida deste evento”.
Resoluções da Regional do CMP
No dia 6/5 realizou-se a Reunião Regional América-Caribe do Conselho Mundial da Paz (CMP). A mesa foi coordenada pelo presidente do ICAP, Fernando Gonzalez, pela presidenta do CMP, Socorro Gomes e pelo Secretário Executivo, Iraklis Tsavdaridis (que também participou de todo o 7º Seminário).
Participaram da reunião entidades de Cuba (ICAP), Brasil (Cebrapaz), Guiana (GPC – Conselho de Paz da Guiana), Colômbia (Fundación Escuela Paz), Barbados (CMPI – Movimento Caribenho pela Paz e a Integração), México (Mompade – Movimento Mexicano pela Paz e pelo Desenvolvimento), Porto Rico (PRNPIS – Rede Porto-Riquenha de Luta pela Paz e a Solidariedade Internacional e CNS – Rede Continental para a Solidariedade), Argentina (Mopassol – Movimento pela Paz, a Soberania e a Solidariedade entre os Povos), Estados Unidos (USPC – Conselho de Paz dos Estados Unidos), Canadá (CPC – Congresso Canadense pela Paz), Venezuela (Cosi – Comitê Internacional de Solidariedade e Luta pela Paz da Venezuela e ISB – Instituto Simon Bolivar para a Paz e Solidariedade entre os Povos), Filipinas (PPSC – Conselho Filipino pela Paz e a Solidariedade), além de organizações de outras regiões como Síria (NUSS – União Nacional dos Estudantes da Síria), Suíça (SFB – Movimento Suíço pela Paz) e Reino Unido (BPA – Assembleia Britânica pela Paz).
As entidades apresentaram análises e informes sobre a atuação do movimento pela paz em seus respectivos países e acordaram valorizar a realização da 22ª Assembleia Mundial do CMP no Vietnã, prevista para acontecer no fim de agosto deste ano.
Socorro Gomes, em seu discurso (7) de abertura da reunião, destacou:
“(…) Joe Biden continua mostrando como a alternância entre republicanos e democratas na Casa Branca não significa uma melhora substancial na vida de nossos povos. O mundo continua sob constante ameaça das intervenções dos EUA. Vemos isso na Ucrânia, com o novo anúncio do envio de armas no valor de bilhões de dólares, o incitamento à escalada do conflito e a estratégia de aumento de armas e tropas no entorno geográfico da Rússia. E vemos isso em Nossa América. Continuamos a vê-lo no caso de Cuba, por outros meios, com mais de seis décadas de bloqueio criminoso! Mais uma vez o Conselho Mundial para a Paz vai se pronunciar nesta reunião regional das Américas, em protesto contra este bloqueio criminoso e pela solidariedade irrestrita com Cuba. Seu povo e seu governo permanecem firmes em seus esforços para aperfeiçoar seu modelo econômico, ao mesmo tempo em que defendem seu sistema político, econômico e social socialista”.
A reunião regional aprovou diversas iniciativas conjuntas, divulgadas em um comunicado público (8): Fortalecer a Unidade da Campanha Global contra as Bases Militares Estrangeiras dos EUA e da OTAN; continuar denunciando a corrida armamentista e o aumento da produção de armas nucleares de destruição em massa de última geração; insistir em alertar e prevenir o mundo do perigo que a ocorrência de uma Terceira Guerra Mundial acarreta para a humanidade; persistir na divulgação dos postulados da Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz; revitalizar a importância do Tratado de Tlatelolco que proíbe a posse de armas nucleares na América Latina e no Caribe, entre outras.
Fonte: Cebrapaz