PCdoB: mais um aniversário, rico aprendizado

20/03/2014

Em 25 de março, transcorre o 92º aniversário da criação do Partido Comunista do Brasil. Um longo período que perpassa diferentes fases da vida política brasileira, durante o qual se afirmou uma força política revolucionária, que tem por meta programática a construção do socialismo em nosso País. Um partido profundamente enraizado na vida nacional, identificado pela defesa que sempre fez das causas democráticas, patrióticas e populares.

Por José Reinaldo Carvalho

As comemorações do 92º aniversário do Partido coincidem este ano com a passagem do cinquentenário do golpe militar de 1964, que instalou uma ditadura militar de longa duração – 21 anos. Foi o pior regime da história brasileira, implantado a ferro e fogo em nome dos interesses das classes dominantes e do imperialismo estadunidense. O regime militar brasileiro foi um dos pilares em que se assentou a luta daquele imperialismo, no quadro da chamada guerra fria, para impor sua hegemonia mundial, estratégia para a qual o controle da América Latina era essencial.

A ditadura militar pretendeu exterminar, por meio da guerra contra o povo, em que se excedeu na prática de crimes de lesa-humanidade, as lutas sociais em curso por mudanças de fundo no país, então governado por forças democráticas e nacionalistas, sob a liderança do presidente João Goulart.

Os comunistas faziam parte dessa luta. Como defensores consequentes da democracia, da soberania nacional e dos direitos do povo, pagaram por isso elevado preço. A ditadura militar pretendeu dizimá-los e pôs a serviço desse objetivo um gigantesco aparato repressivo, típico de um regime fascista.

Muito embora golpeado, o Partido sobreviveu e assumiu o desafio de organizar, nas difíceis condições da clandestinidade, a luta do povo, em que a conquista da democracia se tornou o objetivo imediato central. Se foi o período mais difícil da história do partido comunista, foi também o de mais rico e intenso aprendizado tático e estratégico e de amadurecimento político e teórico.

Na experiência concreta da luta contra a ditadura militar – em que se recorreu a todas as formas de luta, incluindo a heroica Guerrilha do Araguaia – os comunistas desenvolveram linhas programáticas e métodos de trabalho e luta que lhes permitiram ligar-se ao povo, praticar uma tática política a um só tempo ampla, combativa e flexível e empreender a unidade de todas as forças suscetíveis de serem unidas para atingir o objetivo comum. Se fôssemos sintetizar numa só expressão a tática dos comunistas durante o regime militar, poderíamos dizer que era a união dos brasileiros para derrocar a ditadura.

A ditadura militar foi superada há 30 anos, o País mudou inteiramente e o povo brasileiro encontra-se diante de novos desafios.

O Partido Comunista do Brasil segue o caminho da luta pelo socialismo acumulando forças nas novas condições. Muitas vitórias foram conquistadas, inclusive – a maior de todas até agora – a instauração por meio de eleições democráticas – dos governos progressistas de Lula (2003 – 2010) e do atual governo da presidenta Dilma Rousseff.

Os comunistas fizeram bem o seu aprendizado. Na passagem de mais um aniversário, compreendem que é necessário atuar com os pés bem plantados no chão, mergulhar profundamente no curso político real, incidir fortemente na conjuntura política, mantendo o rumo estratégico e traçando caminhos viáveis para promover as necessárias rupturas que resultarão na emancipação nacional e social do povo brasileiro.

O 13º congresso do PCdoB, realizado em novembro passado, reafirmou as linhas do Programa Socialista, a luta pelo desenvolvimento nacional e as reformas estruturais democráticas, cujo significado mais profundo e sentido histórico é a ruptura com o regime das classes dominantes e o sistema de dominação do imperialismo, abrindo caminho para a conquista do socialismo.

Para isto, é indispensável um movimento de massas forte, uma frente das forças democráticas, patrióticas, progressistas, de esquerda, que reúna os partidos políticos, as personalidades independentes e os movimentos operários e populares.

Nesse quadro, tarefa de magnitude é a consolidação do Partido Comunista do Brasil como um partido forte e capaz de dar orientações políticas acertadas. Nada se fará em termos de aprofundamento da democracia, reforço da soberania nacional e realização das aspirações das massas populares sem um Partido Comunista forte no Brasil.

Esta é uma lição da história. Precisamos de um Partido Comunista apetrechado com uma linha política, uma estratégia e tática e autoridade moral para enfrentar os grandes desafios atuais e os que se podem vislumbrar em perspectiva, um Partido para o presente e o futuro, disposto a dar o melhor de si para transformar o Brasil e fazer com que o País avance – num processo complexo de acumulação de forças – para o socialismo, um partido que, sem clichês, mas também sem temor, esteja à altura das tarefas da revolução política e social indispensável para resgatar a dignidade do povo brasileiro, defender a independência da pátria e avançar para emancipação nacional e social.

Por isso, não somos nem devemos ser um partido qualquer, mas um partido com nítida identidade de classe – um partido dos trabalhadores, das massas exploradas e oprimidas da sociedade -, um partido convicto de que por meio da acumulação revolucionária de forças, ainda que prolongada, é possível promover rupturas políticas e sociais e abrir caminho ao socialismo.

Inteiramente voltado para a mobilização política do povo brasileiro, concentrado no seu enraizamento entre as classes trabalhadoras, empenhado nas alianças políticas de cariz progressista, determinado a ampliar suas fileiras com a filiação de ativistas e lideranças, os melhores filhos e filhas do povo, o Partido mantém a sua independência política e ideológica.

Avesso a todo tipo de dogmatismo, esquematismo e cópia de modelos, o Partido reafirma e enriquece a teoria do marxismo-leninismo e do socialismo científico, ao tempo em que se encontra imerso no esforço para conhecer e interpretar o mundo atual e a sociedade brasileira, tal como evolui e se apresenta, sempre com o intuito de transformá-la e de superar revolucionariamente o capitalismo. Sem a referência teórica e ideológica do marxismo-leninismo, seríamos ecléticos, faríamos política às cegas e nos perderíamos na torrente inexorável da luta de classes.

Sendo capacitado política, teórica e ideologicamente, o Partido, como forma superior de organização da classe trabalhadora e das massas exploradas e oprimidas, não se confunde com o movimento espontâneo e trata cientificamente da sua estruturação orgânica, da ligação com as massas e da formação e promoção dos seus quadros.

O Partido está chamado a aperfeiçoar seus métodos de atuação e direção, a melhorar o estilo e sintonizar dialeticamente a compreensão sobre as linhas de acumulação de forças. Tendo como eixo o Programa Socialista e a evolução da realidade concreta, concentra suas energias na luta de massas, na luta eleitoral, na ação nos órgãos de governo e na luta de ideias, sem fetiches, deformações nem unilateralidades arbitrárias e metafísicas.

O caminho de acumulação revolucionária e prolongada de forças não é retilíneo, mas acidentado e escarpado. Percorrê-lo é aceitar as dificuldades da caminhada. Requer visão de longo prazo, convicções arraigadas, determinação e força, qualidades que os comunistas forjam coletivamente, exercendo a crítica e a autocrítica, no âmbito da vida orgânica coletiva e da luta política de massas.

Celebrar o 92º aniversário da fundação do Partido, é reafirmá-lo e desenvolvê-lo, transformando-o numa poderosa força política capaz de dirigir lutas e incidir sobre os acontecimentos.

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