Libelo da desfaçatez

05/01/2016

Por José Reinaldo Carvalho

A entidade sionista realiza intensa e afanosa campanha para constranger o governo brasileiro a aceitar como fato consumado a indicação como embaixador em nossos país do Sr. Dani Dayan, um membro do empreendimento colonialista em território ocupado da Palestina.

As autoridades do estado sionista fizeram ameaças abertas, numa completa violação de normas diplomáticas e do necessário protocolo que envolve relações entre países. A tal ponto chegou a pressão, que insinuaram uma crise entre a Defesa e a Diplomacia, valendo-se dos contratos que têm com o Brasil no fornecimento de equipamentos militares, o que gerou o desabafo público de um ex-ministro da Defesa e ex-chanceler, que criticou a excessiva dependência do Brasil à indústria bélica israelense.

Agora, a entidade sionista recorre também a representantes recrutados no mundo político e de certas igrejas, revelando quem pode estar por trás do enorme poder de fogo da chamada bancada evangélica. Não é a primeira vez que os verdugos do povo palestino se imiscuem em partidos políticos brasileiros, o que fazem até mesmo entre forças de esquerda. Por meio da cooptação, são frequentes as tentativas de pescar em águas turvas e transformar deputados e senadores em porta-vozes de seus interesses e propagandistas de suas políticas genocidas no Oriente Médio.

O jornal “Folha de São Paulo” desta terça-feira (5) traz artigo assinado por um senador da bancada evangélica, um presidente de partido que é na verdade propriedade de uma igreja pentecostalista, e o presidente de um partido que ainda carrega em sua denominação o vocábulo “socialista”. O artigo ataca o governo brasileiro como “descortês” e “inábil” por não ter concedido as credenciais de embaixador em nosso país soberano a um militante da ocupação ilegítima israelense em território palestino.

É um libelo da desfaçatez, em que se fazem invectivas até mesmo contra a Organização das Nações Unidas (ONU), afirmando que sua resolução contra os assentamentos nos territórios ocupados não pode ser levada a sério. O texto deblatera contra os movimentos democráticos, pacifistas e solidários que na Europa (mas não só) realizam o legítimo movimento pelo boicote aos produtos de Israel vindos das colônias mal chamadas de assentamentos. Numa exibição de ignorância, chamam uma dessas colônias de “cidade de Ariel”. E perguntam candidamente: “como trazer essas pessoas de volta [a Israel]?

As pessoas honestas, solidárias, defensoras da paz e dos inalienáveis direitos do povo palestino, defensoras do direito internacional e da solução justa dos conflitos fazem outra pergunta: “o que foram fazer lá”?

A instalação de colônias nos territórios palestinos ocupados por Israel e a transferência para lá de grandes contingentes populacionais fazem parte do grande plano colonialista da entidade sionista que implica o apartheid, a segregação e a própria extinção do povo palestino. Para isso a entidade sionista constrói um muro de mais de 700 quilômetros, sob alegações de segurança. O muro é ladeado por uma faixa de 60 metros de largura e chega a ter oito metros de altura em alguns pontos. O muro é “protegido” por soldados armados, constituindo-se na prática numa enorme casamata.

A Autoridade Nacional Palestina e o conjunto das organizações políticas e sociais palestinas combatem o muro da segregação por estarem conscientes de que visa a criar fatos consumados na incorporação de partes dos territórios palestinos ao Estado de Israel. O Tribunal Internacional de Justiça de Haia o declarou ilegal em 2004. Tanto os chamados assentamentos como a construção do muro da segregação violam flagrantemente o direito internacional. Assim, o designado embaixador de Israel, militante da política de ocupação, está incompatibilizado com o cargo, porquanto a defesa da legalidade internacional é função precípua da atividade diplomática.

A posição brasileira de não conceder as credenciais diplomáticas a Dani Dayan é sustentável, justa e merece a solidariedade dos internacionalistas. Um gesto soberano e consoante as resoluções da ONU, que não só deslegitimam, como condenam, a ocupação dos territórios palestinos e o muro da segregação que a protege.

José Reinaldo Carvalho é jornalista especializado em Política e Relações Internacionais. É editor do Blog da Resistência

 

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