A Grécia de hoje mostra o caráter da União Europeia de sempre

14/07/2015

Amigos, camaradas, li e reli, esquadrinhei cada parágrafo do “acordo grego” em todos os idiomas que minha limitada inteligência alcança. Sou, porém, analfabeto no idioma da Hélade e entre as poucas palavras que aprendi nas viagens que fiz, uma das mais sonoras é OXI, gritada e votada a cinco de julho pela maioria esmagadora da população helênica.

Por José Reinaldo Carvalho, editor do Portal Vermelho

 Por isso, admito que possa não ter lido corretamente, mas não encontro outra palavra para designar as medidas aprovadas a não ser que foi uma rendição à inominável e abjeta agressão perpetrada pela União Europeia, esta organização imperialista que já fascinou progressistas, esquerdistas e até comunistas (ou neocomunistas renovadores) por aqui.

Não faço, não farei avaliação moral quanto à atitude do governo grego, do Syriza, partido social-democrata de esquerda que detém a eventual maioria parlamentar, e do seu primeiro-ministro, Alexis Tsipras. Mas não cabe dúvida de que foi uma capitulação. Podem-se arguir as condições objetivas, a correlação de forças, a ausência de fatores externos favoráveis, mas Tsipras não foi eleito em janeiro deste ano e venceu o referendo de 5 de julho para assinar o indigno terceiro memorando. Para isto, a oligarquia grega e os potentados eurocratas sob a batuta da senhora Merkel dispunham da Nova Democracia e do Pasok.

Quem é de esquerda neste mundo dominado por uma direita cada vez mais voraz nutre simpatia por um jovem líder político que vem a público prometer seguir na luta pela soberania do seu país. Não obstante, será difícil que tal promessa não seja defraudada, como já foi o compromisso de respeitar a vontade soberana do povo expressa no referendo de cinco de julho. Não é uma questão de vontade ou sinceridade, mas de estofo, consciência, preparo político, ideológico e organizativo e perspectiva estratégica, linha política para enfrentar a brutalidade da ditadura monopolista-financeira dos eurocratas e do sistema imperialista em geral. E mais, de capacidade para apontar a perspectiva. O capital financeiro, como dizia Lênin, é um fator tão poderoso que submete mesmo os países mais independentes. A vida vai mostrando que submete também até mesmo as forças que se denominam de “esquerda radical”.

A União Europeia e o sistema imperialista se desnudaram no caso grego. Revelaram, com sua face nua e crua, seu caráter retrógrado e parasitário. A União Europeia mostrou a sua natureza de agrupamento a serviço do capital, de coletivo de potências espoliadoras, em detrimento dos interesses, aspirações e direitos dos povos. Na falta da Alca e do Acordo Multilateral de Investimentos, que não vingaram pela luta dos povos, no caso da Alca uma luta libertadora conduzida por líderes da envergadura de Fidel Castro e Hugo Chávez, a União Europeia é o protótipo da “integração” imperialista, que denega e atropela a soberania nacional, num simulacro de democracia e solidariedade.

A União Europeia revelou, com o caso grego ser o que sempre foi.

Se capitularem a seus ditames, os trabalhadores e os povos estarão definitivamente derrotados. Iludidos, também perderão. Aliás era esta a advertência dos partidos comunistas quando do advento da União Europeia e posteriormente da zona do euro. Os partidos consequentes previram cientificamente que a Grécia de hoje seria o corolário da União Europeia e da zona do euro de sempre.

Há momentos em que se impõem as soluções profundas, ou ao menos a preparação destas. O caso grego provou que nos marcos da União Europeia e da zona do euro, a perspectiva dos trabalhadores é a espoliação e a da soberania nacional dos países vulneráveis que integram tal mecanismo é o desaparecimento.

Sem fazer no abstrato formulações maximalistas, não se pode deixar de assinalar que o mundo clama pela existência de uma esquerda consequente que perceba os nexos entre os movimentos táticos e o objetivo estratégico. Isto requer ciência e arte, modéstia e serenidade, transparência e entendimento entre os combatentes de vanguarda que não têm outro projeto senão revolucionar o mundo e construir uma nova sociedade.

A luta continua!

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