Foro de São Paulo
Em ato de abertura do Foro de São Paulo, partidos de esquerda reafirmam valor da unidade das forças revolucionárias e progressistas
Foi instalado na tarde deste domingo, 16 de julho, na capital nicaraguense, Manágua, o 23º Encontro do Foro de São Paulo. É a quarta vez que a terra de Sandino recebe esta articulação ampla das forças de esquerda latino-americanas e caribenhas.
Estão presentes 332 delegados da Nicarágua e 21 outros países da região, seis da Europa, três da Ásia e um da África.
No seu discurso de boas-vindas, Jacinto Soares, que foi guerrilheiro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e hoje é o secretário de Relações Internacionais, lembrou que foi num 16 de julho, há 90 anos, que o general de homens livres, Augusto Cezar Sandino, liderou um ataque a um posto de comando do exército de ocupação dos Estados Unidos na cidade de Segóvia, episódio no qual pronunciou a sua célebre frase: “Não me vendo nem me rendo”.
Foi também no dia 16 de julho, há 38 anos, que, derrotado pela guerrilha triunfante da FSLN comandada por Daniel Ortega, que o ditador sanguinário Anastácio Somoza fugiu do país.
O ato foi coordenado pela secretária-executiva do Foro, Mônica Valente, secretária de Relações Internacionais do PT, cuja presidenta, a senadora Gleisi Hofmann também estava presente. Do Brasil também está presente o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho, secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB.
Mônica homenageou o presidente Daniel Ortega e sua vice, Rosário Murillo, pela retumbante vitória eleitoral conquistada em novembro do ano passado, destacou o papel do líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, que divide com Lula o mérito de ter criado o Foro em 1990, lembrou o transcurso do 50º aniversário da queda em combate de Che Guevara e o centenário da Revolução Russa. Referindo-se a questões centrais do quadro político latino-americano, a secretária do PT fez uma saudação especial ao Partido Socialista Unido da Venezuela e aos acordos de paz na Colômbia, ressaltando a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mônica reiterou o compromisso do Foro de São Paulo de apoiar o cumprimento total dos acordos de paz.
De acordo com a dirigente, o Foro tem muitos desafios no atual momento político, destacadamente seguir lutando contra a ofensiva imperial e neoliberal, e apoiar a Assembleia Nacional Constituinte venezuelana.
Por seu turno, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hofmann, colheu calorosos aplausos ao transmitir as saudações do ex-presidente Lula e agradecer, em seu nome, pela solidariedade manifestada pelas forças progressistas da América Latina e do mundo em face da condenação sem provas decidida pelo juiz Sérgio Moro. E denunciou: “A direita reacionária e golpista do Brasil não descansa. Através da judicialização da política, pretende destruir o PT e impedir que Lula seja candidato à Presidência da República”.
Gleisi destacou que apesar dos reveses sofridos no Brasil e na Argentina, as forças políticas que atuam no Foro de São Paulo estão retomando a iniciativa e em posição de luta. Expressou solidariedade com o PSUV e o governo venezuelano e a convicção de que a “Assembleia Nacional Constituinte contribuirá para a consolidação cada vez maior da Revolução Bolivariana”.
A presidenta do PT reafirmou o engajamento do seu partido na causa da autodeterminação dos povos e na luta contra a ingerência externa. Expressou solidariedade a Cuba na luta contra o criminoso bloqueio de que o país é vítima e lembrou o transcurso do centenário da Revolução Russa, para ter sempre presente a luta por transformações sociais.
Representando o Partido Socialista da Venezuela, falou Roy Daza, um dos seus dirigentes nacionais e candidato à Assembleia Nacional Constitiuinte, que destacou o protagonismo popular como a base da Revolução Bolivariana. Daza relembrou o papel do comandante Hugo Chávez ao lançar, em 1999, o desafio de refundar a República sobre novas bases políticas, econômicas, sociais e éticas.
O dirigente venezuelano chamou a atenção para a gravidade da situação atual, marcada pela combinação de violência com cerco diplomático, cerco financeiro, tentativa de isolar o governo e ameaça de intervenção externa e insistiu em que a convocação da Assembleia Nacional Constituinte é a resposta à tática de tudo ou nada da oposição de direita, que quer instalar a ditadura. Contra isso, a Assembleia Constituinte representa a democracia, o diálogo e a paz.
O dirigente do PSUV concluiu dizendo que em face das ameaças da oposição de impedir que o eleitorado acorra às urnas em 30 de julho, o governo, o partido e as Forças Armadas tudo farão para garantir a eleição da Assembleia Constituinte.
O ato foi encerrado por José Ramon Balaguer, um dos comandantes históricos da Revolução Cubana, chefe do Departamento Internacional do Partido Comunista de Cuba. Para ele, a escolha da Nicarágua como sede do 23º Encontro do Foro de São Paulo é um reconhecimento à FSLN, que construiu a Nicarágua de hoje e é a garantia da Nicarágua do futuro. O dirigente cubano lembrou que o Sandinismo é a síntese do pensamento revolucionário e do ideal de libertação do povo nicaraguense.
Balaguer focou a sua análise da atual conjuntura na ofensiva imperialista contra os processos de mudanças na região, na qual prossegue, em sua opinião, a guerra não convencional combinada com o paulatino uso da violência, como demonstra a situação na Venezuela.
Abordando questões chave do Foro de São Paulo, Balaguer afirmou que os partidos de esquerda continuarão como forças de esquerda se conseguirem transformar o descontentamento das massas em ações políticas pela tomada do poder e ressaltou que para isso mais do que nunca é indispensável a unidade das forças revolucionárias e progressistas.
Com bastante realismo, o dirigente cubano chamou a atenção para o perigo que ameaça o próprio ideal da revolução.
Ressaltou o papel do Foro de São Paulo, que segue sendo um protagonista essencial na região, e conclamou os partidos que o integram a buscar incessantemente alternativas. Destacou o papel do documento que está em debate no 23º Encontro – o Consenso de Nossa América – que não deve ser encarado como um manual, pois parte da lógica de que cada força política conhece sua própria realidade nacional.
O valor do Consenso de Nossa América – destaca – está na defesa da unidade. “Só a unidade nos permitirá resistir”, expressa. Nesse sentido, exaltou o papel de organismos como a Celac e a Alba.
Balaguer fez uma enfática defesa da Venezuela. “Lutar pela Venezuela é lutar pela soberania e a independência de nossa América”, chamando a atenção sobre o que poderia significar a queda do país bolivariano para o conjunto da América Latina e Caribe.
Também fez parte do pronunciamento do chefe da delegação cubana o reconhecimento dos êxitos eleitorais e governamentais em países como Nicarágua, Equador, El Salvador e Bolívia.
Fraterno, Balaguer reafirmou a solidariedade com o povo brasileiro que enfrenta o processo de desmonte das conquistas dos governos de Lula e Dilma. E reafirmou a solidariedade com o ex-presidente pela condenação sofrida.
Ao referir-se ao seu país, Balaguer disse que a Revolução Cubana continua implementando as resoluções do 7º congresso do Partido Comunista, aperfeiçoando o modelo socialista, lutando para construir o socialismo próspero e sustentável e enfrentando o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. “O império não renunciará jamais ao seu objetivo d eliquidar a Revolução Cubana, seguiremos determinados dizendo pátria ou morte. Queremos uma nação soberana, independente, próspera, socialista”.
O dirigente comunista cubano encerrou seu discurso enaltecendo a Revolução Russa no transcurso do seu centenário. “Lênin e o ideal do socialismo estão mais vivos do que nunca”, afirmou.
O ato de abertura do 23º Encontro do Foro de São Paulo terminou com uma entusiasmada execução do hino “A Internacional”.
Laurinda de Segóvia, de Manágua, para o Resistência