Opinião
Eleição de 2024 na Venezuela será embate da Revolução contra o imperialismo e a extrema direita
Este embate já começou. Amplos setores políticos e sociais do país se opõem à anistia aos que cometeram violência contra o povo e traição nacional
Por José Reinaldo Carvalho (*) – Durante a semana passada, a vanguarda da revolução bolivariana emitiu eloquentes sinais de que não está disposta a se submeter a pressões, ditames e interferências do exterior quanto à organização das eleições presidenciais de 2024. Uma das principais autoridades do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), o primeiro vice-presidente Diosdado Cabello, descartou qualquer possibilidade de anistia política conforme proposta por setores da oposição. O líder político lembrou os graves prejuízos causados ao povo pelos setores violentos nos últimos anos e deixou claro que qualquer decisão dessa natureza deve passar pela Assembleia Nacional, assinalando que a questão envolve a independência e a estabilidade da nação.
Amplos setores políticos e sociais do país questionam como é possível anistiar figuras de proa da oposição de extrema direita e seus mercenários que cometeram atos de violência contra o povo e o Estado, incluindo agressões pessoais, linchamentos, assassinatos seletivos, atos terroristas com explosivos, tentativas de assassinato e invasão do território, entre outros crimes.
Há uma consciência arraigada na vanguarda revolucionária venezuelana de que conceder uma anistia seria uma flagrante violação dos direitos humanos de todos os venezuelanos que sofreram as nefastas consequências das ações violentas de líderes da oposição, que agora angelicalmente tentam apresentar-se nas futuras eleições e pedir o voto de suas vítimas.
As declarações do vice-presidente do PSUV são o primeiro aviso de que o governo venezuelano e sua base de apoio estão se preparando política e ideologicamente para um embate que já começou e tende a se tornar agudo à medida que as eleições se aproximam. Já está em curso uma campanha internacional pela anistia aos principais líderes da extrema direita que se tornaram inelegíveis por terem praticado crimes contra o povo e a nação. No Brasil os principais meios de comunicação da mídia empresarial são porta-vozes dessa campanha e diuturnamente bradam que o presidente Lula deveria liderar um movimento na América do Sul para pressionar o governo venezuelano a anistiar as lideranças políticas condenadas pelos delitos que praticaram.
A campanha dos círculos imperialistas e seus aliados centra-se principalmente na figura de Maria Corina Machado, que se tornou uma das principais apostas para enfrentar Nicolás Maduro na eleição presidencial. Ela tornou-se inelegível por ter praticado atos de corrupção, incitar atos violentos e por traição nacional, ao usar um posto diplomático de outro país na OEA – Organização dos Estados Americanos para se pronunciar contra a Venezuela, inclusive defendendo as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos.
Outras figuras de destaque da oposição direitista que também gozam do beneplácito dos Estados Unidos e das forças reacionárias locais são Henrique Capriles e Leopoldo López, também acusados de incitar atos violentos.
Os três são agentes de potências estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, e atuam para desestabilizar o país, derrubar o governo bolivariano e reverter o processo revolucionário. Cada um a seu modo mantém estreitos laços com setores externos que buscam intervir nos assuntos internos da Venezuela e minar a legitimidade das instituições democráticas venezuelanas.
Dessa maneira, o governo bolivariano ressalta que a luta contra esses líderes de extrema direita não é apenas uma questão política ou de disputa eleitoral, mas de defesa da soberania nacional e dos interesses do povo venezuelano. O país tem sido alvo de sanções internacionais e campanhas de desinformação orquestradas por forças externas que contam com a colaboração desses líderes.
Em qualquer situação a posição brasileira deve ser de não interferência nos assuntos internos da Venezuela, principalmente levando em conta a extrema polarização e o potencial de conflito que esta encerra. São descabidas e devem ser rechaçadas as pressões para que o presidente Lula defenda os líderes direitistas venezuelanos. Do ponto de vista ideológico seria inadmissível, tendo em vista as relações fraternais dos partidos da esquerda brasileira, incluindo o do presidente, com o PSUV e demais partidos da base de sustentação do governo venezuelano.
Corretamente, Lula tem destacado a importância do respeito à soberania dos países e da autodeterminação dos povos. Ele ressalta que a estabilidade da região e a harmonia entre as nações são alcançadas por meio do diálogo e da cooperação, não por ingerência nos assuntos internos de outros Estados. A posição de Lula vai ao encontro de princípios defendidos pelo direito internacional e pelas normas diplomáticas, que pregam o não intervencionismo e o respeito mútuo entre as nações. Essa postura demonstra maturidade política e compromisso com a paz e a estabilidade regional.
Observando a postura do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e do PSUV pela ótica da esquerda, cabe ressaltar que na Venezuela mantém-se e desenvolve-se uma linha anti-imperialista e socialista. Nicolás Maduro destaca-se por sua firme postura de dar continuidade à linha iniciada pelo comandante Hugo Chávez. Desde que assumiu a presidência em 2013, após a morte de Chávez, Maduro tem enfatizado a resistência aos interesses estrangeiros que buscam controlar os recursos naturais da Venezuela. Ao manter a linha anti-imperialista, Maduro protege a independência do país e sua capacidade de tomar decisões soberanas em relação aos seus recursos naturais, como petróleo e minerais. A defesa da soberania é um princípio fundamental em seu governo, e isso se reflete em sua abordagem nas relações internacionais e nas negociações com outros países. Além disso, a continuidade da linha socialista da Revolução Bolivariana é a garantia de que o país continuará enfrentando a desigualdade social e a pobreza e abrindo novos caminhos ao progresso social.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e secretário-geral do Cebrapaz. Este artigo faz parte da orientação da atividade da Coordenação de Solidariedade e Paz do PCdoB, da qual o autor é titular, e da assessoria à atividade internacional do partido