Opinião

É justa e legítima a luta do povo palestino pelo direito de se defender e se libertar

10/10/2023

A violência na relação entre palestinos e usurpadores israelenses é fruto da opressão e de crimes das forças repressivas israelenses que se tornaram rotina, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho 

Por José Reinaldo Carvalho (*) – A eclosão de mais um conflito armado entre o povo palestino e o Estado opressor de Israel neste sábado (7), surpreendeu o mundo pela intensidade dos ataques do movimento de resistência, sua potência, a quantidade e diversidade das armas, a ousadia das ações, a capacidade de combate renovada e os triunfos conquistados ao penetrar nos territórios usurpados aos palestinos pelos colonialistas israelenses. 

Mas não surpreenderam se se consideram os fatores históricos, o desenvolvimento recente da conjuntura tensa nos territórios palestinos e os crimes das forças repressivas israelenses contra a população palestina indefesa, crimes continuados, reiterados, transformados em fatos corriqueiros. 

A operação Tempestade de Al Aqsa é uma consequência da privação dos direitos legítimos da Palestina. Quem o diz não é o Hamas, mas a Autoridade Nacional Palestina, o governo sediado em Ramallah, que tem divergências históricas com o Hamas desde o ponto de vista ideológico, de linha política e métodos de ação. A Autoridade Nacional Palestina também alertou para as consequências das provocações de ataques diários, incluindo terrorismo por parte de colonos e forças de ocupação, bem como ataques à Mesquita de Al-Aqsa e a locais sagrados islâmicos e cristãos. 

De acordo com a Autoridade Nacional Palestina, e com o consenso entre todas as forças políticas e sociais palestinas, a segurança, a estabilidade e a paz na região só poderão ser alcançadas acabando com a ocupação israelense e conquistando o Estado Nacional Independente, tendo por capital Jerusalém Leste. Esta é a visão, com variações de forma e retórica, da esmagadora maioria dos países árabes e de sua organização multilateral , a Liga Árabe. É também, com expressões em linguagem diplomática, da Organização das Nações Unidas. 

A negação por parte de Israel dos acordos assinados e o não cumprimento das resoluções de legitimidade internacional impedem a construção do processo de paz, daí a ausência de uma solução para a causa palestina após 75 anos de sofrimento e usurpação.

A Operação Tempestade de Al Aqsa nada tem de terrorista. É parte de uma luta multifacetada que assume diferentes formas e métodos, entre estes a luta armada, com caráter de salvação e libertação nacional. Um direito legítimo a que podem e devem recorrer os povos sob domínio colonial, mormente quando é exercido por uma potência genocida e terrorista. 

Quem rotula a ira sagrada do povo palestino de terrorista porque seus movimentos de resistência têm a audácia de usar em condições desiguais a violência revolucionária para enfrentar a violência opressiva não compreende conceitos mais elementares como a justiça de uma luta de libertação nacional e, malgrado as melhores intenções, legitima a opressão. 

No cenário conturbado do Oriente Médio, a região da Faixa de Gaza tem sido palco cotidiano de uma ação terrorista meticulosamente pensada por parte de quem bloqueia o acesso de alimentos, medicamentos, remédios e abastecimento de água e energia elétrica. A Faixa de Gaza, uma estreita faixa de terra na costa leste do Mar Mediterrâneo, abriga uma população densamente concentrada, submetida a condições precárias de vida e restrições econômicas devido ao bloqueio imposto por Israel desde 2007. Este bloqueio tem limitado severamente o acesso a bens básicos, contribuindo para uma realidade de desespero e escassez para os habitantes da região.

O atual conflito é didático na revelação dos alinhamentos políticos e ideológicos no mundo. Na vanguarda dos que rotulam a resistência palestina de terrorista estão os próprios sionistas israelenses, o imperialismo estadunidense, os países imperialistas da União Europeia e da Otan, a mídia a serviço desses potentados e setores desorientados e capitulacionistas da esquerda. Ressalvo nesta crítica a posição de governos que, embora injustos na classificação da Tempestade de Al Aqsa como “ataque terrorista”, empenham-se na defesa do Estado Palestino e se equivocaram sob o impacto de pressões. 

O Movimento de Resistência Nacional Hamas é a liderança política dos palestinos do mencionado território sitiado. Optou pela luta armada como recurso legitimado pela evolução da situação política local para alcançar a libertação nacional e melhores condições de vida para o povo oprimido. De resto, os liberais e democratas de fancaria deviam rever suas notas e relembrar-se de que o Hamas foi eleito nas urnas. Suas ações armadas são uma manifestação de resistência nacional contra a ocupação e as políticas repressivas de Israel. Em sua perspectiva, a resistência armada é vista como um meio legítimo de lutar pela autodeterminação e pela liberdade de um território ocupado. A dura experiência de 75 anos de dominação nacional pelos ocupantes israelenses infundiu nesta organização a convicção de que, diante das limitações impostas e da desigualdade de poder, a resistência armada é uma forma de confrontar a ocupação e buscar a justiça.

É importante destacar que o Hamas também oferece uma vasta rede de serviços sociais, incluindo assistência médica, educação e ajuda humanitária à população de Gaza. Essas iniciativas contribuem para a criação de uma base de apoio e solidificação da imagem do Hamas como uma organização que luta pelos interesses do povo palestino.

Desde o início da Tempestade de Al Aqsa, os sionistas e seus cúmplices internacionais intoxicam a opinião pública com o discurso de que é preciso garantir a “defesa de Israel”, o que no contexto da política desse Estado opressor significa defender o colonialismo, a limpeza étnica, a opressão nacional e o genocídio. O espírito de justiça dos povos há de prevalecer. Contra o conluio imperialista-sionista, o momento é propício a levantar uma grande onda de solidariedade internacional, que viabilize uma verdadeira solução política que considere a legitimidade da luta do povo palestino e seu direito a se defender e se libertar. 

(*) Jornalista, editor do Resistência, secretário-geral do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz, membro do Comitê Central e da Comissão Política do PCdoB, onde é coordenador do setor de Solidariedade e Paz. Este artigo orienta as ações de solidariede e paz internacional dos  dos filiados e dirigentes do PCdoB 

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