Solidariedade
Debate no Parlamento Europeu destaca crises no Brasil e na Venezuela
A bancada de deputados de esquerda Grupo de Esquerda Europeu/Esquerda Verde Nórdica no Parlamento Europeu promoveu durante uma reunião de trabalho na última quarta-feira (1º/6) um debate sobre a situação na América Latina. A presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, e o secretário-geral da Unasul, ex-presidente colombiano Ernesto Samper, foram os convidados especiais.
O tema foi introduzido pela deputada espanhola Marina Albiol, da Esquerda Unida, que destacou a gravidade das ameaças à democracia na Venezuela, onde está em curso uma ofensiva para desestabilizar o governo do presidente Nicolás Maduro, e no Brasil, com o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff. Albiol e o deputado português João Pimenta, do PCP, manifestaram a solidariedade das forças da esquerda europeia aos povos venezuelano e brasileiro.
Socorro Gomes, narrou os principais momentos do golpe em curso no Brasil, assinalando que as forças da direita brasileira não deixaram a presidenta Dilma governar durante o segundo mandato, iniciado em 1º de janeiro de 2015. Em sua análise, que teve calorosa acolhida entre os deputados presentes, a ativista brasileira e líder do movimento pela paz demonstrou que o golpe se volta contra “o projeto democrático, popular e patriótico no Brasil, cuja realização se iniciou a partir da primeira eleição do ex-presidente Lula, em 2002”.
Segundo Socorro Gomes, “as forças conservadoras e neoliberais, aliadas do imperialismo estadunidense, nunca aceitaram o protagonismo das forças de esquerda e do movimento popular” e tudo fizeram para impedir as mudanças políticas, econômicas e sociais no gigante sul-americano. “No Brasil, os governos de Lula e Dilma criaram as condições para a democratização do país, o protagonismo popular, a execução de políticas públicas para promover a justiça social e erradicar a miséria”, assinalou. Igualmente, durante esses governos, “o Brasil contribuiu para a integração soberana da América Latina e para que o Brasil desempenhasse um papel ativo na lutar contra o hegemonismo das grandes potências no cenário internacional”, disse.
Socorro Gomes denunciou que “o governo interino usurpador e golpista de Michel Temer está atuando intensamente para reverter essas conquistas históricas do povo brasileiro”. Ela agradeceu a solidariedade das forças progressistas europeias ao povo brasileiro.
Por seu turno, o secretário-geral da Unasul Ernesto Samper destacou que a Venezuela está ocupando a presidência pro tempore do organismo multilateral sul-americano.
Segundo Samper, a Unasul foi criada como resultado de uma aliança de caráter político para defender três valores fundamentais: a preservação da América do Sul como zona de paz, a defesa da democracia, superando a época das ditaduras, e a defesa dos direitos humanos.
O ex-presidente colombiano ressaltou que a Unasul tem feito valer esses valores em todos os momentos em que a democracia foi ameaçada na região.
O secretário-geral da Unasul considera que a crise da Venezuela deve ser analisada no contexto da queda dos preços do petróleo e de outras matérias primas, o que afeta também toda a região.
A crise apresenta o desafio de impedir que seus efeitos prejudiquem a vida da população, que tem recebido os benefícios dos programas sociais dos governos democráticos. “Tiramos 180 milhões de pessoas da pobreza”, destacou, lamentando que já como resultado da crise econômica atual sete milhões de pessoas voltaram a viver nas condições de miséria absoluta na região. “É preciso pensar em um novo modelo de desenvolvimento, que não seja mais extrativista-exportador”, destacou.
De acordo com o secretário-geral da Unasul, a crise política que afeta alguns governos progressistas na região, sobretudo Venezuela e Brasil, se deve à ação dos “poderes de fato”, à judicialização da política, à ação de Organizações não Governamentais estrangeiras, “que pescam em águas turvas, e à deterioração da governabilidade democrática”.
Ernesto Samper informou aos deputados da esquerda europeia que a Unasul quer contribuir para encontrar uma saída democrática e pacífica para a crise venezuelana, apoiando o diálogo. Fez questão de destacar que as últimas eleições realizadas no país, que muitos diziam que seriam marcadas por fraudes, foram limpas e transparentes. “Defendemos o diálogo institucional entre a Assembleia Nacional (parlamento) e o governo”, enfatizando ao mesmo tempo que “as decisões sobre a Venezuela cabem aos venezuelanos”, sem interferência externa.
Sobre o Brasil, afirmou que a Unasul está acompanhando a situação com “grande preocupação”. “Temos dúvidas sobre o conteúdo e a forma do julgamento, esperamos que a presidenta Dilma Rousseff tenha direito à legítima defesa”.
Finalizou afirmando que no Brasil “também atuam os poderes de fato e que na América Latina as mudanças devem corresponder à vontade democrática dos povos e devem estar de acordo com as Constituições e o Estado democrático de direito.
José dos Santos, de Bruxelas, para Resistência