Opinião

Cúpula da Otan acarreta risco de maior escalada da guerra na Ucrânia

07/07/2023

A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Vilnius, nos dias 11 e 12 de julho, promete ser um marco histórico na trajetória agressiva e belicista da aliança atlântica, apota José Reinaldo Carvalho, ao apontar a posição dos militantes da Coordenação de Solidariedade e Paz do PCdoB.

Por José Reinaldo Carvalho (*)  – Os modernos senhores da guerra se preparam para tomar medidas de alcance estratégico para o conflito na Ucrânia, que definitivamente se transformou em uma guerra do chamado Ocidente coletivo – as potências imperialistas ocidentais – e a Rússia.

A questão que mais inquieta os chefes de Estado dessas potências é como enfrentar a Rússia, não só impedindo sua vitória no conflito ucraniano, mas fundamentalmente, como acumular forças para enfraquecer e dividir a potência euroasiática.

A aliança atlântica tem vários dilemas a enfrentar na cúpula de Vilnius. Enviará caças, mísseis de longo alcance e mais tanques de guerra, como exige Zelensky? Implantará tropas próprias na Ucrânia? Admitirá o país entre seus países membros? Em suma, adotará uma postura ainda mais agressiva e apostará na escalada do conflito, transformando-o numa guerra global com riscos de catástrofe nuclear?

Uma das teses em debate é que se tornou imperativo que a Otan responda com uma demonstração mais enérgica de compromisso com a Ucrânia, não por solidariedade com o país mas como parte de uma estratégia de domínio pleno da Europa do Leste. O envio de tropas e armas para a Ucrânia seria um sinal inequívoco disso e supostamente uma ação desencorajadora à plena realização dos objetivos estratégicos do Kremlin. Outra tese, cada vez mais corrente, é assegurar o ingresso da Ucrânia como membro pleno da Otan. Mas como dar esse passo que foi a linha vermelha imposta pela Rússia e a rigor constituiu o motivo do desencadeamento da Operação Militar Especial em 24 de fevereiro de 2022?

A cúpula de Vilnius será também cenário de debates intensos sobre o futuro do conflito, com a adoção de políticas que busquem a integração dos aspectos militar, político, diplomático e econômico. Enquanto a aliança atlântica urde planos de guerra, as chancelarias e ministérios da Economia discutem sobre maior rigor das sanções econômicas, o que não é isento de contradições, tomando em conta que a Rússia tem contornado a crise econômica e os próprios países europeus enfrentam dificuldades quanto à disparada da inflação e o abastecimento de energia.

Veremos se a Otan será capaz de dar respostas unificadas a esses desafios ou se a cúpula de Vilnius mostrará ao mundo as contradições internas no seu interior. Alguns países membros estão mais relutantes em tomar medidas mais agressivas porque temem uma escalada direta com a Rússia. Alguns países membros têm laços econômicos e políticos estreitos com Moscou. Há também a considerar a nova situação geopolítica, com a emergência do mundo multipolar. A Rússia se apresenta com força nesse cenário, uma vez que tem sólida participação em blocos como o Brics, a Organização para a Cooperação de Xangai e parceria estratégica com a China. Tudo isso perturba o sonho de coerência e unidade estratégica no seio do bloco imperialista.

Aliás, as contradições internas se expressam na própria falta de consenso e no jogo de pressões em torno do comando da Otan. Nos bastidores, a discussão sobre o perfil, e as habilidades necessárias para o próximo Secretário-Geral estão à beira de se transformar em uma confrontação diplomática. A prorrogação do mandato do atual secretário-geral, Jens Stoltenberg até outubro de 2024 foi uma solução de compromisso, em meio à campanha aberta dos Estados Unidos para impor a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen como a nova secretária-geral da aliança.

Do lado das forças progressistas que atuam no mundo, a cúpula da Otan serve como sinal de alerta de que as potências imperialistas não desistem de seus planos belicistas, o que requer uma Otan cada vez mais forte política e militarmente. Urge uma campanha mundial para revelar o perigo que os planos belicistas da Otan representam para os povos e países que se empenham por seu desenvolvimento , independência e paz. Desde sua fundação em 1949, a Otan é peça fundamental da estratégia das potências imperialistas ocidentais, ao contrário do que proclamam quanto ao seu caráter defensivo e garantidor da segurança coletiva.

(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Ciomitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, coordenador do movimento de Solidariedade e Paz do partido

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