Geopolítica
Cooperação Sul-Sul, uma via de desenvolvimento ameaçada
Neta segunda-feira (12) se celebra o Dia das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul. Mais de 115 eventos diplomáticos realizados nos últimos cinco anos resultaram em incontáveis esforços para o desenvolvimento dos povos do sul do mundo. O Brasil foi um ator importante deste processo, tanto no fortalecimento da integração latino-americana quanto na cooperação para o desenvolvimento dos países africanos.
A cooperação sul-sul oferece elementos vitais para que os países em desenvolvimento e as economias em transição não dependam unicamente dos programas capitalistas do Norte. Com esta premissa, foram consolidadas relações entre a América do Sul e a África.
A ONU estabeleceu o dia 12 de setembro como a data que destaca a importância da Cooperação Sul-Sul para comemorar o dia que foi implementado o Plano de Ação da Argentina, em 1978, para promover e realizar a cooperação técnica entre os países em desenvolvimento.
Até hoje, foram realizadas três cúpulas de Cooperação Sul-Sul: a primeira em 2006 na Nigéria, a segunda em 2009 na Venezuela e a terceira em 2014 na Guiné Equatorial. Além disso, já foram realizados mais de 115 eventos diplomáticos para estabelecer acordos e grupos de trabalho de intercâmbio comerciais.
Ao longo deste período, ficou claro que o termo “cooperação” não tem nada de altruísta, afinal, até os países com riquezas menos exploradas têm demonstrado que têm muito a oferecer. Dos 49 países menos avançados, 34 estão na África e vêm mostrando que com pequenos investimentos têm grande potencial para desenvolver a mineração e a agricultura.
A história une o Sul
Desde o início da década de 70 Cuba tem uma política ativa de cooperação com os países da África e o faz por meio de seu desenvolvidíssimo sistema de saúde. Trata-se de um dos poucos países do mundo que exporta médicos e não indústria bélica.
Porém, a aproximação dos países da América do Sul com a África é relativamente nova. Isso acontece porque aqui vivemos ditaduras militares até pouco tempo, e a libertação dos países africanos também é muito recente, mais ou menos no mesmo período de nossos regimes de Terrorismo de Estado. Antes da Segunda Guerra mundial apenas o Egito, a África do Sul, a Etiópia e a Libéria eram autônomos.
O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, no marco da Revolução Bolivariana mudou paradigmas e impulsionou as relações entre ambos os continentes. Isso resultou até mesmo em estratégias significativas no Mercosul que têm tratados de livre comércio com o Egito.
Com o golpe no Brasil, porém, esta integração está fortemente ameaçada. Desde que assumiu o Itamaraty, José Serra já anunciou a intenção de fechar embaixadas em países africanos e está claro que esta via de desenvolvimento está longe de ser a prioridade do governo que assumiu o poder por meio de um golpe de Estado.
Investimentos
Chávez foi precursor da aliança comercial com os povos da África. Com esta ideia em mente viajou à África do Sul em 2008, onde os dois países firmaram cinco convênios na área de agricultura, energia e mineração para fortalecer as relações econômicas. O Brasil fez o mesmo com outros países da África e assinou termos de cooperação para o desenvolvimento da agricultura familiar, enviou equipes de treinamento e tecnologia.
Ainda em 2008 o governo venezuelano e a FAO (Organização da ONU para Alimentação e Agricultura) firmaram um acordo para dar início a um sistema sustentável de produção de arroz em pelo menos dez países africanos afetados gravemente pela fome. Segundo cifras oficiais, o intercâmbio comercial entre África e América do Sul saiu de 7 milhões de dólares em 2002 para quase 40 milhões em 2011.
A cooperação é uma via dupla, países africanos também têm investido na América do Sul. É o caso da África do Sul e o México, o país de Peña Nieto recebeu recentemente mais de 10 milhões de dólares para sistemas de comunicação e serviços financeiros.
Fonte: Mariana Serafini, para o Portal Vermelho