Luta pela paz
“Com grandes mobilizações pela paz é possível impedir a guerra”, afirma Ilda Figueiredo
A presidenta da Direção Nacional do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), Ilda Figueiredo, também à frente da Coordenação da Região Europa do Conselho Mundial da Paz, deu uma entrevista ao jornal português Avante!, publicada nesta quinta-feira (20), em que enfatiza a importância da mobilização internacional pela paz.
A presidenta do CPPC falou das atividades da entidade em Portugal — como a realização de um Concerto pela Paz e a publicação de um livro, Décadas de Luta pela Paz, sobre os 40 anos de formalização jurídica do CPPC e suas principais atividades, neste fim de semana — e abordou o agravamento das tensões e das agressões a nível internacional. Leia alguns trechos a seguir:
Avante!: Que significado podem ter os recentes bombardeios a bases militares sírias, por parte dos EUA, no agravamento da situação no país e da tensão com a Rússia?
Ilda Figueiredo: Esta agressão dos EUA à Síria, que o CPPC condenou, é um grave atentado à Carta da ONU e do Direito Internacional e demonstra como os EUA continuam mais empenhados em impor a sua vontade e o seu domínio na região do que em combater as forças do dito “Estado Islâmico”, servindo sobretudo os seus propósitos, como se viu de imediato, com a ofensiva dessas forças logo a seguir ao primeiro ataque norte-americano.
A situação que se vive é ainda mais preocupante tendo em conta a escalada de agressões dos EUA, como no Afeganistão, as ameaças e chantagens como na Península da Coreia, e o recente reforço bélico junto às fronteiras da Federação Russa com armamento de última geração e milhares de militares norte-americanos e seus aliados da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte].
E no que respeita à situação na Coreia, que apreciação faz o CPPC?
O CPPC já alertou para a gravidade da situação na Península da Coreia, na sequência do reforço da presença e da intensificação da pressão militar dos EUA contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), e para as imprevisíveis e dramáticas consequências de uma escalada belicista nesta região.
Após o recente ataque militar direto contra a Síria e o lançamento de uma bomba de grande potência numa zona remota do Afeganistão, o aumento dos meios e forças militares norte-americanas na Península da Coreia – com a instalação de novos sistemas de míssil e a presença de uma esquadra marítima – e das ameaças de agressão militar dos EUA à RPDC representam um novo e muito perigoso passo para a paz e a segurança, não só nesta região, como no mundo.
O que se impõe é a criação das condições para que o povo coreano, sem ingerências nem pressões externas, possa unificar a sua pátria, dividida há tempo de mais por razões que lhe são totalmente alheias. Tal legítima aspiração não será possível de concretizar sem o fim da escalada militarista e as ameaças de agressão dos EUA contra a RPDC, que o CPPC condena.
Por isso, o CPPC apela à expressão da exigência da paz, do fim da escalada militarista e da resolução do conflito por meios pacíficos, no quadro do respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas.
Donald Trump disse recentemente que já não considerava a OTAN “obsoleta”, como afirmara durante a campanha eleitoral. Que se pode esperar da próxima cúpula da OTAN em Bruxelas e do papel dos EUA na organização?
Essa afirmação recente coincide também com a intervenção na Síria e as ameaças na Península da Coreia, pelo que consideramos que a próxima cúpula da OTAN em Bruxelas será um novo salto agressivo e belicista deste bloco político-militar.
No dia 1º de abril, o CPPC promoveu uma conferência sobre a OTAN, reafirmando a sua exigência de dissolução deste bloco político-militar.
Que outras ações estão previstas no âmbito da contestação à cúpula?
O movimento da paz português, e também mundial, estão a preparar iniciativas para dar firme combate à militarização e à guerra e afirmar os valores da paz e da soberania como essenciais ao progresso e ao desenvolvimento e, também, à própria sobrevivência da vida no planeta. Para Bruxelas, está marcada uma grande manifestação para o próximo dia 25 de maio, durante a cúpula. Em Portugal, estão previstas ações a 24, em Lisboa, e 25, no Porto – pela dissolução da OTAN, pela paz.
Já em março, as organizações da Europa membros do Conselho Mundial da Paz editaram um apelo “Contra a Cúpula da OTAN de Bruxelas de 2017”, no qual denunciam que desde a sua criação, em abril de 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte tem sido um “braço militar agressivo do imperialismo” e a “maior e mais perigosa organização militar no mundo, profundamente ligada às políticas econômica e externa tanto dos Estados Unidos como da União Europeia”.
Face a todas estas situações, e outras, que importância têm hoje a luta e o movimento pela paz? Como avalia a sua afirmação e reforço nos tempos mais próximos?
No momento muito perigoso que se vive no plano internacional, o CPPC considera que, mais do que nunca, impõe-se o reforço da luta pela paz, apelando a todos para que se juntem a nós na defesa deste bem precioso, fundamental para o progresso e desenvolvimento da humanidade.
Sempre dissemos que a guerra não é inevitável e que é possível impedi-la se houver grandes mobilizações a exigir a paz, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU, a via do diálogo e da negociação para a resolução dos conflitos internacionais. É com esse objetivo que o CPPC tem multiplicado atividades e diferentes iniciativas, incluindo ações de rua, debates em escolas, sindicatos e outras organizações, parcerias com autarquias e associações diversas que incluem a realização de concertos pela paz, exposições e palestras, procurando chegar a cada vez mais pessoas com este apelo à mobilização na defesa da paz.