Opinião
Com documentos espúrios, governo golpista ataca países amigos e a Unasul
Pelos caminhos tortuosos do golpe de Estado, José Serra, que em muitos episódios anteriores de sua biografia de triste figura já tinha revelado ser um inimigo figadal do povo brasileiro, um aliado de fidelidade canina às potências imperialistas internacionais, volta a ocupar lugar de destaque no proscênio do poder, como ministro interino das Relações Exteriores do governo ilegítimo do usurpador Michel Temer. A última vez, foi quando ocupou postos ministeriais no governo entreguista e vende-pátria do seu amigo FHC.
Por José Reinaldo Carvalho*
A reestreia não podia ser mais eloquente e indicadora da missão que pretende cumprir como chanceler interino. Seu primeiro ato na nova função foi redigir e mandar publicar duas notas infames, que envergonham o Brasil e golpeiam o que nosso país cultivou de melhor no exercício da sua soberania: a política externa ativa, altiva, soberana, multilateral e universalista inaugurada e executada pelo ex-presidente Lula e o ex-chanceler Celso Amorim, que se inspirava nos princípios fundados por Rio Branco e cultivados por Santiago Dantas, e os desenvolvia contemporaneamente.
A torpeza do pronunciamento de Serra radica em que ataca o que houve de mais significativo na política externa do ciclo progressista de Lula e Dilma, interrompido agora pelo golpe de Estado: a integração latino-americana, corporificada em instrumentos multilaterias como Unasul, Celac e Alba, e as sólidas relações de amizade e cooperação com os países da região, em que sobressaíram a generosa solidariedade do nosso povo e, com as peculiaridades da cosmovisão brasileira, a adesão ao ideal da Pátria Grande latino-americana.
As notas do Itamaraty contra os países amigos latino-americanos e caribenhos e a Unasul são injustas, intempestivas e espúrias. Aqueles países e o organismo multilateral da integração sul-americana haviam justificadamente manifestado sua solidariedade com nosso país e nosso povo, no momento em que a democracia é violada pelo golpe de Estado contra o governo legítimo, constitucional e democrático da presidenta Dilma Rousseff. Semelhante posição foi defendida também por organizações sociais de várias partes do mundo.
O ministro interino deu um eloquente sinal de que Michel Temer, entre outras destruições que pretende empreender do legado democrático, popular e patriótico de Lula e Dilma, vai operar uma mudança de 180 graus na política externa, começando por torpedear os melhores princípios de nossa diplomacia e os laços de amizade do nosso país com governos progressistas, revolucionários e socialistas. Sob o governo interino de Temer e o inquilinato de Serra no Itamaraty, o Brasil promoverá alianças com forças reacionárias na região, com cujas parcerias voltará a atar-se aos laços de subordinação às forças imperialistas, sob a égide dos Estados Unidos.
Não é a primeira vez nos tempos atuais que as forças reacionárias brasileiras atacam os países amigos e tentam sabotar os esforços construtivos de uma nova sociedade, apoiando nesses países as forças mais reacionárias e sabotando a integração. Recordo os artifícios e manobras que foram feitos no Senado, em 2006 e 2007, por José Sarney, para impedir o ingresso da Venezuela no Mercosul, contando com o apoio de Renan Calheiros e alguns equivocados na esquerda, sob o pretexto de condenar o suposto ataque à liberdade de expressão no país vizinho.
E, para citar mais um dentre muitos episódios, no ano passado uma delegação do Senado foi à Venezuela, sob a liderança do presidente do PSDB e candidato derrotado à Presidência da República, Aécio Neves, com a finalidade de fazer provocações e estimular in loco as forças da contrarrevolução. O fato também foi explorado pela direita na Câmara, onde o então presidente, Eduardo Cunha, fez aprovar uma infame nota antivenezuelana, em que forjou por meios antirregimentais o “consenso” da Casa.
Os temas de política externa, o exercício do internacionalismo e da solidariedade entre povos amigos é parte integrante das lutas por um Brasil democrático e soberano. Não há dúvidas de que as forças progressistas brasileiras rechaçarão essa posição do Itamaraty sob a gerência interina de Serra e incorporarão à plataforma de suas organizações e frentes a luta por uma política externa independente e pela integração soberana da região, como parte da ação oposicionista ao governo ilegítimo de Michel Temer.
*Jornalista, editor de Resistência, membro do Comitê Central, da Comissão Política e do Secretariado nacional do PCdoB