Cebrapaz
Cebrapaz faz apelo à união dos povos na luta contra a ofensiva imperialista
A Direção Nacional do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ) realizou uma reunião ampliada no dia 11 de setembro para debater as tarefas da entidade na luta anti-imperialista e na atual conjuntura mundial. Foram aprovadas uma resolução política e oito moções de apoio e solidariedade com Cuba, Palestina, Saara Ocidental, Venezuela, Peru, Nicarágua, China e todos os povos em luta foram adotados. Leia abaixo a íntegra da resolução política.
1 – O cenário internacional está passando por mudanças profundas. A pandemia da Covid-19 continua avançando com frequentes surtos, ceifando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. A economia global segue mergulhada em profunda crise e os conflitos geopolíticos, com consequências negativas para a paz mundial e os direitos dos povos, continuam em agravamento.
2 – Os planos econômicos do imperialismo, falsamente identificados como “desenvolvimentistas” não encobrem a dura realidade de crise, que redunda em miséria para a grande maioria da humanidade, enquanto no outro polo observa-se a concentração e centralização do capital e da riqueza. Os países imperialistas continuaram – durante o período da pandemia, ainda em prosseguimento – promovendo sua brutal ofensiva contra as economias em desenvolvimento e o ataque aos direitos sociais. Essas políticas são empregadas simultaneamente ao reforço do domínio do capital financeiro e especulativo e a reiteração de receitas neoliberais aos países dependentes, em que o Brasil é um eloquente e triste exemplo.
3 – A pandemia da Covid-19 indica de forma trágica a falência dos sistemas de saúde pública nos países capitalistas, reveladora de uma crise econômica e social sistêmica e dos grandes impasses geopolíticos do mundo contemporâneo. Este cenário é intrínseco à crise econômica e financeira sistêmica do capitalismo e da pauperização das massas trabalhadoras. O Banco Mundial publicou recentemente um relatório constatando que há mais miseráveis no mundo do que se imaginava, com 1,4 bilhão de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Salvo a China – que nas últimas décadas retirou 850 milhões de pessoas da pobreza extrema – o mundo continua vendo o aumento no número de miseráveis.
A pandemia de Covid-19 deteriorou a vida de milhões de pessoas, e acarretou milhões de infectados e mortos. Em todos os países, os mais pobres sofreram os maiores impactos, perdendo emprego e renda, enquanto os mais ricos conseguiram se recuperar em tempo recorde. Ao mesmo tempo, se multiplica o número de bilionários, como se noticiou nos últimos dias. A crise da pandemia deu início à pior crise de empregos em mais de 90 anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que cerca de meio bilhão de pessoas estão atualmente subempregadas ou sem emprego, enfrentando miséria e fome. A pandemia expôs e aumentou as desigualdades econômicas. Estima-se que o total de pessoas que vivem na pobreza pode ter aumentado entre 200 milhões e 500 milhões em 2020. O número de pessoas que vivem na pobreza pode não voltar ao nível anterior à crise por mais de uma década, assinala um relatório da Oxfam. Os países socialistas, ao contrário, tiveram uma prática completamente diferente dos países capitalistas no combate à Covid-19, conjugando ciência e cooperação global.
4 – Na vida política, o imperialismo conduz ofensivas que consistem no ataque às liberdades e direitos democráticos; na intensificação do intervencionismo, da ingerência e golpes; no reforço dos poderes supranacionais e das potências imperialistas de per si; no militarismo; nas agressões contra países soberanos; na negação do direito internacional, da ONU e sua Carta, do multilateralismo e da diplomacia; no agravamento das tensões; na preparação e eclosão de conflitos.
Neste quadro, é evidente o agravamento das contradições nacionais e sociais, revelando a complexidade dos problemas globais. As contradições dos povos com o imperialismo, as agudas lutas nacionais e de classes se entrelaçam com as contradições geopolíticas.
5 – Em janeiro deste ano teve lugar uma troca de comando na Casa Branca. Embora a não reeleição de Trump tenha sido uma derrota para a ultradireita mundial, a mudança do chefe de turno do imperialismo estadunidense não representou, no fundamental, alteração de rumos na orientação externa dessa superpotência imperialista. Os Estados Unidos continuam exercendo uma política externa de enfrentamento aos países que não seguem as suas ordens e orientações.
A cada gesto e ação prática da nova Administração estadunidense vai ficando claro que esse imperialismo prossegue, em essência, a orientação de confrontação com outras nações e povos em nome dos interesses fundamentais dos Estados Unidos. Em determinados aspectos, observa-se uma mudança de retórica e de tática, mas a fixação da palavra de ordem “A América está de volta” é reveladora de que o novo presidente dos EUA pretende impor a hegemonia estadunidense no mundo. As primeiras ações do seu governo se voltaram para reerguer o poderio da superpotência em confronto com a China e a Rússia. Todos os setores do governo Biden estão voltados para o objetivo de conter a ascensão da China, impedir que o país socialista asiático ultrapasse os EUA nos planos econômico, financeiro e tecnológico. Para isso, não hesita em investir trilhões de dólares, buscando alinhar a população estadunidense e países com os quais tenta se aliar (ou manter alianças, no caso da UE) numa empreitada contra a dita “ameaça chinesa” e a defesa da “segurança” dos interesses das potências imperialistas ocidentais.
6 – Faz parte dessa política a proclamação de um falso multilateralismo, que consiste apenas na tentativa de forjar uma frente única contra a China e a Rússia, como ficou demonstrado em reuniões como as recentes cúpulas EUA-União Europeia, do G-7 e da Otan. Naquelas reuniões foram desenhados novos planos de dominação imperialista sobre os povos e países que lutam por sua autodeterminação. Particularmente, o encontro de líderes da Otan mantém a tendência da militarização das relações internacionais. O multilateralismo de Biden é na verdade uma frente de países aliados para ajudar os EUA a melhor exercer o domínio do mundo.
Muito ao contrário da democratização das relações internacionais, do multilateralismo e da defesa da paz, o que essas relações interimperialistas demonstram é que continuam sendo urdidos perigosos planos e postas em prática ações que afetam os interesses dos povos e ameaçam a segurança internacional e a paz mundial. Corrida armamentista, bases militares, aumento do poderio nuclear, ampliação da Otan e do seu escopo, bloqueios, sanções e intimidações são também as tônicas do governo Biden nesses poucos meses da sua existência.
Além de erguer a bandeira da defesa de sua segurança e da proteção dos próprios interesses e das potências aliadas, os EUA procuram enganar com palavras de ordem fúteis sobre promoção do desenvolvimento nacional, defesa da democracia e dos direitos humanos contra supostas “quebras de regras internacionais” e “autoritarismo” da China e da Rússia, potências vistas pelo governo estadunidense como inimigas. Trata-se da contínua campanha de ameaças a países que defendem a independência, a autodeterminação, o verdadeiro multilateralismo e a cooperação internacional.
7 – É cada vez mais acentuada a tendência ao agravamento de conflitos, a intensificação da ofensiva multidimensional do imperialismo estadunidense. No atual quadro mundial afloram também as contradições interimperialistas em que cada potência busca afirmar seus próprios interesses, o que torna ainda mais tensas as relações geopolíticas nas diversas áreas estratégicas do mundo: Ásia-Pacífico, Oriente Médio, Ásia Central, Leste Europeu, África e América Latina, onde estão cada vez mais presentes as ameaças de explosões sociais e guerras localizadas. Este mesmo imperialismo intensifica as políticas de bloqueio econômico, comercial e financeiro a países como Cuba, Venezuela, Irã, República Popular Democrática da Coreia, Síria, Rússia e Belarus.
8 – Foi nesse quadro que se consumou a derrota dos Estados Unidos no Afeganistão, depois de 20 anos de invasão e ocupação imperialista. Emerge a imagem de uma potência derrotada, humilhada, em declínio e incapaz de liderar o mundo, retrato do esgotamento da ordem mundial inaugurada no pós-guerra e, décadas depois, no momento em que, no início dos anos 1990, os Estados Unidos proclamaram a “novíssima ordem” unipolar.
Os EUA saem escorraçados da nação afegã por forças nascidas a partir da situação de caos semeada pelos próprios EUA nos anos 1980. Ficou impresso com tintas fortes o traço mais marcante do mundo contemporâneo, uma tendência incontornável de nossa época: o declínio do imperialismo estadunidense e de sua hegemonia, com o desenho de uma nova situação geopolítica.
O Afeganistão, um país multiétnico que vivia uma experiência de governo democrático-popular no final dos anos 1970’s, é hoje uma nação devastada pelo império e pelas forças dos senhores da guerra. Seu povo ainda enfrenta as gravíssimas consequências sociais, políticas e econômicas deste longo período.
9 – Neste contexto, o Cebrapaz dedica toda a atenção e empenha o melhor de suas energias às lutas dos povos em todo o mundo, às lutas dos trabalhadores, às resistências nacionais, às lutas de libertação e apoia os países que estão no alvo da ofensiva imperialista na Ásia, África e América Latina. No apoio aos povos do Oriente Médio, é sempre necessário alertar para a pressão sionista, que busca anatematizar os que lutam contra o genocídio do Estado de Israel como antissemitismo.
Na América Latina, destacamos a irrestrita solidariedade a Cuba, Venezuela, Nicarágua, como nos associamos aos povos irmãos da Argentina, do Peru e México, governados por líderes democráticos e progressistas.
Faz parte da luta anti-imperialista e pela paz mundial o apoio decidido aos países socialistas, como Cuba, China, Vietnã, República Popular Democrática da Coreia e Laos – destacando os seus êxitos e vitórias na construção de uma nova sociedade. É necessário prestar-lhes toda solidariedade, frente aos ataques do imperialismo e da reação mundial.
Os países socialistas e outros, governados por forças anti-imperialistas, realizam políticas externas pacíficas e multilaterais, que reforçam a luta pela paz mundial.
10 – O Cebrapaz realiza suas lutas e campanhas inteiramente engajado nas atividades do Conselho Mundial da Paz e comprometido com o bom desenvolvimento e o êxito de suas campanhas.
11 – Como organização social brasileira o Cebrapaz está engajado na luta do povo brasileiro contra o governo genocida e de extrema direita. Participamos da campanha “Fora, Bolsonaro!” e nos somamos aos esforços pela ampla unidade das forças democráticas e progressistas do Brasil.
12 – Fator decisivo para o êxito de nossas lutas e a consolidação do Cebrapaz é o seu enraizamento nos movimentos populares, o crescimento do seu contingente de membros, suas alianças com amplas organizações sociais, sua independência organizativa, o que implica o fortalecimento de seus núcleos e instâncias dirigentes. O fortalecimento do Cebrapaz é indissociável da amplitude e do caráter das bandeiras e causas que defende.
A Direção Nacional do Cebrapaz – 11 de setembro de 2021
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