América Latina
Bruno Rodríguez: “Cuba não aceitará ameaças nem chantagens dos Estados Unidos”
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, fez um abrangente pronunciamento na 8ª Cúpula das Américas, realizada dias 13 e 14 de abril, em Lima, Peru.
O diplomata insistiu na histórica posição cubana de promover mudanças nas relações hemisféricas, destacando que a América Latina “continua sendo saqueada, sofrendo intervenções e vilipendiada pelo imperialismo norte-americano”.
Rodríguez expressou solidariedade com a República Bolivariana da Venezuela: “Como voz da irmã e heroica Venezuela, estamos aqui para defender sua livre determinação e reiterar a invariável solidariedade de Cuba com a união cívico-militar bolivariana e chavista do povo venezuelano, encabeçada por seu presidente constitucional. Desejamos êxitos à próxima eleição presidencial”.
O chanceler socialista fez um veemente apelo pela libertação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ele considerado “preso político”: “[…] utiliza-se a luta contra a corrupção como uma arma política; os procuradores e juízes atuam como ‘partidos políticos’ e se impede que os eleitores votem em candidatos com forte apoio popular, como é o caso do presidente, preso político, Luiz Inácio Lula da Silva, cuja liberdade exigimos”.
O representante cubano voltou a denunciar o bloqueio estadunidense e reiterou que seu país não se submeterá a ameaças nem à chantagem do governo Trump. Leia a íntegra.
Excelentíssimo senhor Martín Vizcarra Cornejo, Presidente de la República del Peru,
Ministros,
Rendo homenagem ao povo do Peru, ao qual nos unem fortes laços desde as guerras de independência e no esforço comum na área da saúde ou diante de desastres naturais.
A mudança profunda nas relações hemisféricas que o presidente Raúl Castro Ruz reclamou na última Cúpula não ocorreu.
Nossa América, martiana e bolivariana, conjunto de nações do Rio Bravo à Patagônia, unidas por um destino comum na busca de sua segunda e definitiva independência, continua sendo saqueada, sofrendo intervenções e vilipendiada pelo imperialismo norte-americano que invoca a Doutrina Monroe para exercer dominação e hegemonia sobre nossos povos.
É uma história de guerras de conquista, despojo de territórios, invasões e ocupações militares, golpes de Estado e imposição de sanguinárias ditaduras que assassinaram, fizeram desaparecer pessoas e torturaram em nome da liberdade; de rapace espoliação de nossos recursos.
Hoje existe o perigo do retorno ao uso da força, a imposição indiscriminada de medidas coercitivas unilaterais e de golpes militares cruentos.
Não se deve subestimar a gravidade da declaração, arbitrária e injusta, da República Bolivariana da Venezuela, berço da independência latino-americana e segunda reserva de hidrocarburantes, como uma ameaça incomum e extraordinária a segurança nacional da superpotência.
A exclusão do presidente Nicolás Maduro Moros desta Cúpula é uma afronta a todos os povos de Nossa América e um retrocesso histórico imposto pelo atual governo dos Estados Unidos.
Como voz da irmã e heroica Venezuela, estamos aqui para defender sua livre determinação e reiterar a invariável solidariedade de Cuba com a união cívico-militar bolivariana e chavista do povo venezuelano, encabeçada por seu presidente constitucional. Desejamos êxitos à próxima eleição presidencial.
Em nome de Cuba, invoco a Proclamação da América e Caribe como Zona de Paz, assinada pelos chefes de Estado e Governo em 2014.
Não esqueço tampouco a ausência de Porto Rico.
Nossa América, com suas culturas e história, território, população e seus recursos pode desenvolver-se e contribuir ao equilíbrio do mundo, mas é a região com a mais desigual distribuição de renda do planeta.
Dez por cento da população recebe 71 por cento da riqueza e, em dois anos, um por cento da população teria mais do que 99 por cento restante. Falta acesso equitativo à educação, saúde, ao emprego, saneamento, eletricidade e água potável.
Só avançaremos mediante a integração regional e o desenvolvimento da unidade dentro da diversidade que conduziu à criação da Celac.
Os fatos recentes demonstram que a OEA e seu histérico secretário geral são instrumento dos Estados Unidos.
Agora, o objetivo é restabelecer a dominação imperialista, destruir as soberanias nacionais com intervenções não convencionais, derrubar os governos populares, reverter as conquistas sociais e reinstaurar, em escala continental, o neoliberalismo selvagem.
Para isso, utiliza-se a luta contra a corrupção como uma arma política; os procuradores e juízes atuam como “partidos políticos” e se impede que os eleitores votem em candidatos com forte apoio popular, como é o caso do presidente, preso político, Luiz Inácio Lula da Silva cuja liberdade exigimos.
Oculta-se que a corrupção prevalece entre governantes, parlamentares e políticos conservadores e nos sistemas eleitorais, nas leis e modelos políticos corruptos, por natureza, ao basear-se no dinheiro, nos “interesses especiais” corporativos.
Manipulam-se as pessoas a partir da propriedade privada monopolista sobre os meios de comunicação e as plataformas tecnológicas.
Nas campanhas eleitorais não há limites éticos, promove-se o ódio, a divisão, o egoísmo, a calúnia, o racismo, a xenofobia e a mentira; proliferam as tendências neofascistas e se prometem muros, militarização de fronteiras, deportações em massa, inclusive de crianças nascidas no próprio território.
No hemisfério, aumentam as violações em massa, flagrantes e sistemáticas dos direitos humanos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais de centenas de milhões de seres humanos.
De que democracia e valores se fala aqui? Dos do presidente Lincoln ou o “sonho” de Martin Luther King, que enalteceriam o povo estadunidense ao qual nos unem vínculos indissolúveis?, Ou dos de Cutting e do suposto “antissistema” extremista conservador?
Cuba não aceitará ameaças nem chantagem do governo dos Estados Unidos. Não deseja a confrontação, mas não negociará nada de seus assuntos internos, nem cederá um milímetro em seus princípios. Em defesa da independência, da Revolução e do Socialismo, o povo cubano derramou seu sangue, assumindo extraordinários sacrifícios e os maiores riscos.
Os progressos alcançados nos últimos anos, baseados na absoluta igualdade soberana e no respeito mútuo, que agora se revertem, mostraram resultados tangíveis e que a convivência civilizada, dentro das profundas diferenças entre os governos, é possível e benéfica para ambos.
O bloqueio e a perseguição financeira endurecem, provocam privações a nosso povo e violam os direitos humanos, mas também cresce o isolamento do governo estadunidense em todo o mundo, na própria sociedade estadunidense e na emigração cubana, a respeito dessa política genocida, obsoleta e fracassada.
Aumenta igualmente a repulsa internacional à ocupação de nosso território em Guantánamo pela Base Naval e o Centro de detenção e tortura nela encravado.
Sofre total descrédito o pretexto para reduzr o pessoal das embaixadas e afetar o direito de viajar dos cubanos e dos estadunidenses.
No próximo dia 19 de abril, no 150º ano de nossas lutas de independência, com a constituição de uma nova Assembleia Nacional do Poder Popular as eleições gerais terão seu ponto culminante. As cubanas e os cubanos, especialmente os mais jovens, estreitamente unidos ao Partido da nação, fundado por Martí e Fidel; junto a Raúl, comemoraremos firmes, seguros e otimistas a vitória contra a agressão mercenária de Praia Girón.
Muito obrigado.
Fonte: Cubadebate; tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência