Violência da direita

Ataques com arma de fogo contra kirchneristas aumentam tensão política na Argentina

08/03/2016

A violência sofrida por militantes kirchneristas na Argentina no último final de semana aumentou a tensão política no país. Na noite desta segunda-feira (07), o presidente do país, Maurício Macri, emitiu um comunicado repudiando o atentado com arma de fogo que deixou um saldo de dois feridos. Organizações de direitos humanos do país, como as Avós da Praça de Maio também se manifestaram.

No sábado (06/03), homens armados dispararam contra cerca de 400 militantes que participavam da inauguração da nova sede do Nuevo Encuentro — grupo liderado por Martín Sabatella, importante dirigente kirchnerista. Como saldo, duas mulheres ficaram feridas e tiveram que ser levadas para o hospital. Um dia antes, a organização juvenil La Cámpora, dirigida por Máximo Kirchner — filho de Cristina e Néstor — também foi alvo de um atentado com balas durante uma ação na cidade de Mar del Plata.

“O fato ocorre em um clima crescente de violência discursiva promovido pelo governo nacional contra o kircherismo”, escreveu Sabatella em seu Twitter.

Para Sabatella, a ação foi uma tentativa de homicídio. Ele relatou ainda que, em conversa com a ex-presidenta Cristina Kirchner, ela afirmou que o ataque “a transportou para as piores épocas de 1955, quando a perseguição política era todos os dias”.

Repercussão

Diante dos ataques, o secretário dos Direitos Humanos argentino, Claudio Avruj, publicou, em sua conta do Twitter nesta segunda, uma nota condenando a onda de intolerância que cresce no país.

“Repudio energicamente o ataque ao local do Nuevo Encuentro. Estou à disposição das pessoas feridas”, disse em um de seus posts. E completou: “esses atos de violência não podem ser tolerados. Nossa missão é construir uma sociedade pacífica, em que não haja lugar para estes episódios”.

As Avós da Praça de Maio lembraram que os ataques aos dois centros políticos são uma “preocupação inusitada após 32 anos de recuperação da democracia” no país.

A elas se juntaram o Sindicato da Imprensa e o PCA (Partido Comunista da Argentina). O Sindicato demandou, em nota divulgada nesta segunda, que as ações de “revanchismo e intolerância social e política” sejam cessadas.

“São ataques de ordem constitucional e às liberdades democráticas que nos remetem às épocas mais terríveis que nos coube viver, principalmente tendo em conta que aconteceram poucos dias antes de se cumprir o 40º aniversário do golpe cívico-militar de 1976”, disse o PCA também em comunicado.

O ex-presidente peronista Ricardo Alfonsín também manifestou solidariedade com os militantes em seu Twitter. O ex-candidato à presidência Daniel Scioli também utilizou a rede de microblog para se pronunciar.

Ataque neonazista

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse, nesta segunda-feira (07), que sua casa em Mar del Plata foi invadida, saqueada e vandalizada por grupos neonazistas: “isso é preocupante. Esses grupos voltam a ressurgir com muita força, em muitos lugares. Como também os assaltos, as destruições das casas”, afirmou.

Ele pediu que o prefeito de Mar del Plata atue para impedir essas ações: “esses grupos neonazistas devem ser controlados e punidos porque são violentos, provocam uma situação de insegurança muito grande. Há uma grande responsabilidade do município, do prefeito em particular; também das forças segurança para ver o que está ocorrendo e como se contêm essas manifestações de ódio”.

Demissões em massa

Outro agravante para a situação política argentina é a demissão em massa de funcionários, resultado das políticas de Macri. O índice de demissões na Argentina aumentou em 70 vezes, se comparado ao índice de demissões no mesmo período em 2015, de acordo com a consultora Tendências Econômicas.

Até agora, mais de 107 mil argentinos, tanto do setor público, quanto privado, foram demitidos.

Como resultado, diversas pesquisas demonstraram uma diminuição na popularidade do mandatário. Um levantamento da empresa Haime & Associados mostrou que a aprovação do presidente caiu nove pontos desde dezembro, passando de 62% (de aprovação) para 53%.

Além disso, a pesquisa ainda indicou que a quantidade de pessoas que se declara como oposição aumentou de 18% para 30% entre dezembro e o final de fevereiro.

Outro estudo, realizado pelo pesquisador Raúl Aragón, que comparou resultados em novembro, janeiro e fevereiro, revelou que, em novembro, 80% dos entrevistados acreditava que o governo de Macri seria “muito democrático”. Já em fevereiro, apenas 60% dos entrevistados seguiam acreditando nisso.

Fonte: Opera Mundi

Compartilhe:

Leia também